Luiz Thadeu Nunes e Silva (*)
Um dos maiores ativos que temos é o fator tempo, além de ser extremamente democrático. A beleza não é democrática: uns são feios, a maioria; poucos são bonitos. A saúde não é democrática: uns morrem com cem anos, de velhice; outros, morrem jovens, com alguma doença. A inteligência não é democrática: a maioria é tapada, uns poucos são inteligentes. Sábios são aqueles que usam a inteligência a seu favor. O dinheiro, então, não é nada democrático. Somente poucos sabem lidar com o vil metal, durante toda a vida. A grande maioria, no mundo todo, não consegue encontrá-lo. Onde o dinheiro está, eles não estão. Para muitos “dinheiro na mão é vendaval”, canta Paulinho da Viola.
Mas, o tempo, esse, sim, é democrático. Caro leitor, amiga leitora, assim como eu, e o presidente dos EUA, segundo alguns, o homem mais poderoso do mundo, temos o mesmo tempo. Nosso dia tem 24 horas, 1.440 minutos, 86.400 segundos. Ninguém tem um segundo a mais. O que nos difere é como escolhemos gastá-lo.
Tenho visto algumas pessoas no meu entorno dedicando parte de seu tempo para acompanhar um zoológico humano televisivo, que há 24 anos abre o calendário da TV brasileira. Segundo li, o reality show BBB, que durante 90 dias confina pessoas “na casa mais vigiada do Brasil”, é um ótimo caça níquel para a emissora Vênus Platinada. Na edição 23, o faturamento da Globo foi de um bilhão de reais com o programa. Do meu bolso não saiu um real, procuro gastar meus escassos caraminguás com coisas mais úteis. E como gosto não se discute…
Quando vejo alguém discutindo o comportamento dos que ali estão enjaulados, penso com meus botões: Oh! coitado, estás desperdiçando o que tem de muito precioso, seu precioso tempo. O tempo não volta, só anda prá frente. Ontem, eu era um garoto: correndo atrás de papagaio, jogando bola na rua, colocando barquinho de papel para descer na enxurrada na sarjeta, em frente de casa. Hoje, aos 65 anos, vejo como o tempo escorreu entre os dedos das mãos, sem puder pegá-lo.
Esses dias li um ótimo artigo sobre o ditado popular, “a grama do vizinho é mais verde do que a nossa”. O autor, um psicólogo, falava sobre o fator tempo, e dizia: “A grama do vizinho é mais verde”. Sabe por quê? Porque ele não perde tempo com a vida dos outros. Ele gasta o tempo regando, aparando a grama de sua casa”. Perfeito! Simples, assim.
Com o tempo perdi o interesse de acompanhar a vida de parentes, amigos e conhecidos. Quanto menos sei da vida de alguém, melhor vivo. Isso se chama saúde mental. Estudos mostram que muitas pessoas estão depressivas porque acompanham a vida de parentes, amigos e conhecidos nas redes sociais; e por não terem uma “vida tão interessante”, se deprimem.
Cito o tempo, para falar de ano bissexto; o ano ao qual é acrescentado um dia extra, ficando com 366 dias, um dia a mais do que os anos normais de 365 dias, ocorrendo a cada quatro anos. Isto é feito com o objetivo de manter o calendário anual ajustado com a translação da Terra e com os eventos sazonais relacionados às estações do ano. Foi o ditador romano Júlio César que definiu que o calendário teria 365 dias, em 12 meses, e a cada quatro anos teria um dia extra. A inclusão desse dia extra tem o objetivo de corrigir o descompasso entre o calendário gregoriano, que é o mais utilizado no mundo atualmente, e o ano solar, ou seja, o tempo que a Terra leva para completar uma órbita ao redor do Sol.
“Tudo o que temos de decidir é o que fazer com o tempo que nos é dado”, diz Gandalf, O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel (2001)
“O tempo passa depressa demais e a vida é tão curta. Então – para que eu não seja engolido pela voracidade das horas e pelas novidades que fazem o tempo passar depressa – eu cultivo um certo tédio. Degusto assim cada detestável minuto. E cultivo também o vazio silêncio da eternidade da espécie. Quero viver muitos minutos num só minuto”, afirma Clarice Lispector.
Como temos um dia a mais, cabe a cada um de nós saber como gastá-lo.
Aproveite da melhor forma possível o 29 de fevereiro, o próximo só daqui a quatro anos.