Por Jorge Santana (*)
“Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta”
(Cálice, Chico e Gil)
Este 31 de março de 2024 marca os 60 anos do abjeto golpe civil-militar de 1964, que se prolongou por longos 21 anos de uma ditadura perversa e sombria, razão pela qual torna-se crucial relembrar para evitar seu apagamento da memória coletiva do Brasil. É fundamental que as gerações mais velhas recordem e que os jovens aprendam o que realmente significou esse triste período, especialmente quando forças da extrema-direita ousam emergir do lixo da história e atrevem-se a tentar reescrever esse capítulo obsceno do nosso passado.
O ano de 1964 foi palco de um dos momentos mais críticos da história brasileira. Um período marcado pela instabilidade política e social, com crescentes tensões entre as classes conservadoras e os setores progressistas. A conjuntura era de medo e incerteza, com a ameaça comunista sendo amplamente propagada pelas forças do atraso como justificativa para ações radicais.
Não se pode ignorar o papel central desempenhado pelas elites econômicas, pela classe média conservadora, pela mídia de grande escala e por parte da Igreja Católica no incentivo e na legitimação do golpe. Esses setores, temendo a perda de seus privilégios e influência sob um governo de esquerda, mobilizaram-se intensamente, pintando o golpe como uma necessidade para a preservação da ordem e da família brasileira.
O regime militar, instaurado pós-golpe, caracterizou-se pela supressão das liberdades democráticas, a instituição de uma farsa institucional que se mantinha por meio do medo, da perseguição, da tortura e da morte de opositores. A repressão brutal e sem limites tornou-se a marca do regime, com inúmeros casos de sórdidas violações de direitos humanos.
Por outro lado, a ideia de que a corrupção é um mal dos regimes democráticos é desfeita ao lembrarmos dos escândalos que permearam a ditadura, muitos dos quais jamais vieram a público devido à censura imposta à imprensa. Projetos megalomaníacos, desvios de verbas e enriquecimento ilícito de militares e aliados ocorreram longe dos olhos da sociedade.
É uma falácia acreditar que o Brasil, sob a ditadura, era um país de prosperidade e segurança para todos. O crescimento econômico desse período beneficiou uma parcela ínfima da população, enquanto a maioria enfrentava a repressão, a falta de liberdade e a desigualdade social crescente.
O golpe de 1964 e o regime ditatorial que se seguiu representam um dos capítulos mais tristes e vergonhosos da história brasileira. É imperativo lembrar e ensinar sobre esse período não apenas como um ato de resistência contra a tentativa de revisionismo histórico, mas também como um alerta.
A tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023 nos lembra da fragilidade da nossa democracia e da constante ameaça que as forças autoritárias representam. Jamais podemos esquecer, para que quando ousarem tentar repetir, sejam derrotados e severamente punidos.
Na promulgação da Constituição Cidadã de 1988, Ulysses Guimarães fez um célebre discurso que entrou para a história e que deve estar sempre presente nas mentes e corações dos verdadeiros democratas:
“Traidor da Constituição é traidor da pátria. Conhecemos o caminho maldito. Rasgaram a Constituição, trancaram as portas do Parlamento, garrotearam as liberdades, mandaram os patriotas para a cadeia, o exílio e o cemitério. (…) Temos ódio à ditadura, ódio e nojo. Amaldiçoamos a tirania, onde quer que ela desgrace homens e nações”.
DITADURA NUNCA MAIS!
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