Os principais coadjuvantes do diretor da Escola na tarefa de aplicação das penas disciplinares eram o professor José Luiz de Mesquita e os funcionários Antônio Leite Ramalho, Octaciano Correia da Silva e José Eliodoro Correia.
Na sua defesa, o diretor da escola responsabilizou o despreparo pedagógico dos seus auxiliares e acusou, especialmente, o professor José Luiz de Mesquita, eximindo-se da responsabilidade e fazendo um veemente discurso de enaltecimento da Pedagogia Moderna: “Difícil a um diretor, poder ver e corrigir tudo, no devido tempo, daí muitas vezes haver carência ou excesso, em vários casos, não devido a má fé dos servidores, pois grande número destes, embuidos [sic] no cumprimento de uma ordem, dão a esta um caráter inflexível, quando não podemos aplicar princípios rígidos a um corpo social. Daí não podermos ser inflexíveis àqueles que, pela falta de conhecimento psico-pedagógico, erraram. Trabalhamos numa comunidade de Educação Rural, onde todo elemento é um educador, quer pelos seus atos particulares (indo até a esfera doméstica) quer, por seus atos públicos. A escola já mantém um grande número de servidores com capacidade para a função, mas há outros que não receberam os princípios indispensáveis a um educador.” Os estudos que se dedicam a discutir o problema da violência escolar no Brasil têm crescido muito, porém privilegiando sempre os problemas que dizem respeito a “disseminação das várias formas de criminalidade, delinqüência e práticas de justiça extra-legal nas regiões urbanas” (SPOSITO, 2001: 85). A violência corrente na vida social é também uma das práticas sociais presente no interior da escola. O fenômeno “exprime, em grande parte, aspectos da crise e da mutação das formas como se desenvolve a sociabilidade e os processos de socialização no mundo” (SPOSITO, 2001: 86). São agressões e ameaças que cotidianamente envolvem alunos e professores.
São expressões dos mecanismos sociais de transgressão e indisciplina. Mecanismos que, ao longo da segunda metade do século XX propiciaram uma mudança do perfil das práticas de violência no interior das instituições de ensino. Se ao longo da primeira metade do século passado, do mesmo modo que naqueles que o antecederam, eram vistas como naturais as formas de violência física das quais se revestia o exercício da autoridade pedagógica, ao longo dos dois últimos quartéis do século XX, as teorias herdeiras do pensamento pedagógico científico que marcou o pensamento educacional a partir do final do século XIX, condenaram com muita veemência as posturas docentes autoritárias, ao mesmo tempo em que a instituição escolar foi invadida pela violência que chegava a partir das ruas. Cada vez mais, o exercício da violência física no interior da escola passava a ser quase um monopólio dos estudantes contra a instituição e os seus professores. Não é preocupação deste texto analisar as causas desse tipo de inversão como também estabelecer em relação a tal processo qualquer juízo de valor. O fato é que estudos especializados a respeito de tal problema demonstram que essas práticas de violência nos dias atuais atemorizam “educadores, pais e demais profissionais da área da educação” (SPOSITO, 2001: 85).
BIBLIOGRAFIA
BOTO, Carlota. 1998. “Ler, escrever, contar e se comportar: a escola primária como rito do século XIX português”. In: SOUSA, Cynthia Pereira de; CATANI, Denice Bárbara. Práticas educativas, culturas escolares, profissão docente. São Paulo, Editora Escrituras. P. 161-169. CARVALHO, Marta Maria Chagas de. 1998. “Por uma história cultural dos saberes pedagógicos”. In: SOUSA, Cynthia Pereira de; CATANI, Denice Bárbara. Práticas educativas, culturas escolares, profissão docente. São Paulo, Editora Escrituras. P. 31-40. FORTES Neto, José Bonifácio. Queixa crime e maltratos funcionais. Sã Cristóvão, 29 set. 1953. Arquivo Geral de Poder Judiciário do Estado de Sergipe, Cx. 48. JULIA, Dominique. 2001. “A cultura escolar como objeto histórico”. In: Revista Brasileira de História da Educação. Campinas, Editores Associados, n. 1, jan/jun. P. 9-43.