sexta-feira, 22/11/2024
Ângela e Iran: garfados pela coligação Pra Sergipe Avançar

“Se Ângela e Iran não podem falar, falaremos por eles”

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“Se Ângela e Iran não podem falar, falaremos por eles”. Esse é o recado que professora Ângela Melo diz ter recebido dos militantes e simpatizantes à sua campanha a deputada federal (incluindo aí, o candidato a deputado estadual Iran Barbosa), depois que a coligação Pra Sergipe Avançar a tirou do horário eleitoral gratuito no rádio e TV. Motivo: tanto ela como  Iran não estavam pedindo votos para o candidato Belivaldo Chagas, atual governador e que quer a reeleição.  Integrante da ala Articulação de Esquerda do PT, Ângela Melo segue firme  na campanha e tem a seu favor o fato de ser sido, por duas vezes, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Sergipe (Sintese), um dos mais fortes e atuantes do Estado. Com 56 anos, Ângela diz que sua campanha tem sido  de “ideias, de debates de propostas e projetos” para convencer, não só os professores, mas também os demais eleitores que não tiveram ao longo do tempo, um contato mais direto com ela.

O Sintese, de onde ela está partindo, tem história de transformar seus líderes em políticos. Foi assim com Iran Barbosa (PT) – que agora tenta se eleger deputado estadual. Ele é, atualmente, vereador por Aracaju, mandato que já exerceu entre 2005 a 2007, e deputado federal de 2007 a 2010. E Ana Lúcia (PT), fundadora do Sintese e que por três mandados consecutivos (2002 a 2014) foi deputada estadual, e que preferiu não concorrer este ano.

Essa semana, na reta final da campanha, entre uma atividade de campanha e outra, a candidata Ângela Melo, concedeu a seguinte entrevista ao portal Só Sergipe.

SÓ SERGIPE – A senhora tem uma trajetória na Educação e no sindicalismo, militando no Sintese, e agora se lança candidata à deputada federal. O que a fez se lançar nesse desafio?

ÂNGELA MELO – Eu sou filiada ao Partido dos Trabalhadores há mais de vinte anos e sempre busquei aliar a minha militância sindical à militância partidária, sabendo manter a autonomia entre esses dois ambientes da luta política. Na última eleição interna do partido, fui candidata à presidência do diretório do PT de Sergipe. Atualmente, sou da direção estadual do partido. Ou seja, apesar da minha vida pública ser majoritariamente a partir do sindicalismo, sempre fui também militante petista.

SS – E qual a tendência da senhora dentro do PT?

AM – Dentro do PT faço parte da tendência Articulação de Esquerda (AE). A AE, ainda em 2017, fez um debate sobre a necessidade de termos, a partir dessas eleições, um Congresso Nacional alinhado aos anseios e direitos da classe trabalhadora, como forma de reverter as medidas do governo golpista que estão levando o Brasil a retroceder décadas em diversos direitos sociais e trabalhistas. Por isso, a Articulação de Esquerda deliberou, de forma unânime, por apresentar o meu nome como uma petista que, se eleita, ajudará na proposição de projetos e leis que afirmem direitos que retomem o processo de crescimento econômico com inclusão social, iniciado no Governo Lula; e que anulem as medidas de Temer, a exemplo da Emenda Constitucional 95, Reforma Trabalhista, Reforma do Ensino Médio, dentre outras.

SS – Os professores, demais sindicalistas e o pessoal do seu partido têm uma contribuição nessa decisão de ser candidata à deputada federal?

AM – Como afirmei anteriormente, a deliberação sobre o meu nome foi feita pela Articulação de Esquerda. Na verdade, quando se é militante socialista não há caminho individual a seguir. Sou mulher de coletivo, de grupo. Por isso, aceitei a reflexão e definição coletivas da AE como mais um desafio na minha trajetória de militante.

SS – E quanto aos professores?

AM – Sobre as professoras e professores, entendo ser fundamental que a classe trabalhadora e suas respectivas categorias se organizem no sentido de também ter representantes no Legislativo oriundos das suas fileiras. Aqui em Sergipe, não há dúvidas: as professoras e professores se sentem muito bem representados pela atuação parlamentar de Ana Lúcia e Iran Barbosa. Esse é o compromisso que assumo: representar a classe trabalhadora, incluindo as professoras e professores, mas não apenas, na Câmara Federal.

SS – Por que ir logo para o Congresso Nacional? Não seria mais fácil tentar uma vaga na Assembleia Legislativa, exatamente no momento que a deputada Ana Lúcia disse que não iria mais concorrer? Ou será que houve um acordo entre a senhora e o candidato Iran Barbosa? Ele é que busca uma vaga como deputado estadual. Enfim, como se deu esse diálogo, essa, digamos, conciliação?

AM – Não é uma conciliação. É, em verdade, o resultado de um processo longo de discussão política interna dentro da Articulação de Esquerda. Quando se discute a intervenção coletiva para participar de um processo político-eleitoral, se discute também o perfil da representação que deve participar.

A candidata a deputada federal Ângela Melo e o presidenciável, Fernando Haddad

SS – Como assim?

AM – Explico: No Brasil, estamos vivendo cotidianamente os efeitos do golpe gestado ainda em 2014, um dia depois da eleição, quando o candidato derrotado e o seu partido – PSDB – questionaram o resultado das eleições. A partir dali, tivemos um avanço brutal contra a democracia. Uma presidenta democraticamente eleita foi retirada do governo sem ter cometido nenhum crime e, naquele processo, inúmeras manifestações contrárias à Dilma tinham caráter machista e misógino, de ódio às mulheres, de negação da participação das mulheres nos espaços institucionais da política. Com o desgoverno Temer, as mulheres são, sem dúvidas, as mais afetadas com as iniciativas de retirada de direitos. Além disso, há uma escandalosa sub-representação feminina no Congresso Nacional. Somos mais de 52% da população, mas ocupamos pouco menos de 10% das cadeiras da Câmara e do Senado. Frente a toda essa conjuntura, avaliamos a importância de termos mulheres feministas, da classe trabalhadora, em Brasília. Por isso, o meu nome foi indicado para a Câmara.

SS – O Sintese, sindicato em que a senhora já foi secretária geral e presidente por duas gestões, sempre elege alguém. Foi assim com professora Ana Lúcia e Iran Barbosa. Vai se repetir com a senhora?

AM – Eleição só se sabe o resultado depois da apuração. (Risos). O poder econômico ainda exerce muita influência no processo eleitoral e a minha candidatura se afasta disso. Porém a população também tem dado demonstrações de insatisfação com o status quo. Por isso, não tenho como afirmar que serei eleita, mas estamos correndo muito trecho por todo o Estado, numa campanha que nos empolga a cada dia, com quatro objetivos: eleger Haddad presidente do Brasil, para representar o nosso Lula; eleger Rogério Carvalho como senador, para ajudar Haddad; me eleger, para que a AE volte a ter uma representação na Câmara dos Deputados; e eleger o companheiro Iran Barbosa, para que não percamos o espaço atualmente ocupado pela deputada Ana Lúcia na ALESE.

SS – Como a senhora está convencendo o eleitorado, principalmente aqueles que não a conhecem, de que seu nome é ideal para ter uma cadeira na Câmara dos Deputados?

AM – As nossas candidaturas, da AE, são de ideias, de debates de propostas e projetos. É assim que buscamos dialogar com a população. Quando vamos aos semáforos, às feiras, aos bairros, sempre vamos para falar sobre aquilo que acreditamos e defendemos no sentido de construir um estado e país com igualdade e justiça social. As pessoas estão sentindo na pele os efeitos de um golpista que não governa para as pessoas. As pessoas estão insatisfeitas, anseiam representantes que se pautem pela coletividade. É assim que dialogamos com cada sergipano e sergipana.

SS – Qual seu principal foco na campanha? Se eleita, os que as pessoas que a elegeram podem esperar da senhora em Brasília?

AM – Se eleita, não apenas as pessoas que me elegerem, mas todas as sergipanas e sergipanos – as mulheres, homens, idosos, jovens, grupos vulneráveis, povo do campo e das cidades, comunidades tradicionais, população LGBT, trabalhadoras e trabalhadores – podem ter a certeza de que em Brasília terão uma mulher que não medirá esforços para lutar diuturnamente pelos seus direitos e pela reconstrução do Brasil.

SS – A senhora e o candidato Iran Barbosa perderam espaço no rádio e TV, e até redigiram uma carta aberta sobre isso,  porque a coligação “Pra Sergipe Avançar” queria que vocês pedissem votos para Belivaldo Chagas e vocês não concordaram. Isso não prejudica sua campanha?  Como tem sido a campanha, desde que a senhora e Iran foram garfados pela coligação?

AM – Logo depois que iniciou o programa eleitoral de rádio e TV, quando eu chegava numa cidade do interior para fazer campanha, muitas pessoas diziam: “te vi na TV. Gostei do que falou”. E essas manifestações aconteciam, em geral, de pessoas que ainda não tinham muito contato comigo. Por isso, ao dar um golpe em mim e em Iran, a coligação buscou prejudicar o crescimento das nossas candidaturas. Mas a população percebeu o que está em jogo. Com o apoio de militantes por todo o Estado, estamos buscando anular a mordaça. As pessoas estão dizendo: “se Ângela e Iran não podem falar, falaremos por eles” e aí estão se empenhando ainda mais na campanha.

SS – Ao tomar essa atitude, a senhora faz oposição ao seu próprio partido e à coligação como um todo. Uma oposição entre coligados?

AM – Na verdade, a coligação é que fez oposição às nossas candidaturas, minha e de Iran. Não estávamos usando o tempo de TV para criticar ninguém. Estávamos utilizando o tempo que nos é de direito para apresentar as nossas propostas, tanto para a Câmara dos Deputados quanto para a Alese. Estávamos utilizando o rádio e televisão para dialogar com as pessoas e nos apresentar como alternativas. Então, o boicote da coligação e o silenciamento das demais lideranças do partido é que fazem oposição a mim e Iran.

SS – A senhora e Iran recorreram à Justiça para terem o direito de participar dos programas eleitorais da coligação?

AM – Ainda estamos discutindo com advogados que militam na Articulação de Esquerda. De todo modo, entendemos que esse é um problema de natureza essencialmente política. Por isso, desde o primeiro momento estamos atuando também no sentido de dar respostas na arena da política.

SS – Muitos candidatos, como a senhora, estão pedindo apoio financeiro através da vaquinha Doação Legal. O seu eleitorado tem respondido em reais de forma significativa? 

AM –  Como disse anteriormente, tanto eu quanto Iran somos contrários à influência do poder econômico no processo político e eleitoral. Nesse sentido, as candidaturas da AE sempre foram construídas com o financiamento militante e coletivo de mulheres e homens que acreditam no projeto que buscamos representar. Todas as nossas campanhas foram assim. Nessa não é diferente. A única novidade é a possibilidade de contribuição pela internet. Há algumas dificuldades de familiaridade com a plataforma, mas as pessoas sempre nos procuram para doar, tanto pela internet quanto diretamente na conta de campanha. E isso nos anima muito.

 

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