Durante a cerimônia de encerramento do Seminário de Abertura do Ano Legislativo, promovida pela Revista Voto, em Brasília (DF), o Ministro da Economia da República Federativa do Brasil, o Sr. Paulo Guedes soltou mais uma sequência de declarações erráticas.
Na oportunidade, tentando defender o atual nível de taxa de câmbio, que classificou como normal, ele deu a entender que um câmbio depreciado é bom porque incentiva as exportações, reduz as importações e melhora o saldo da balança comercial.
Se ele se inteirasse mais da realidade contemporânea da economia brasileira, ele não soltaria uma absurdo desses. Afinal, no Brasil, o volume de exportações não é função da taxa de câmbio.
Segundo dados disponibilizados pelo Sistema Gerenciador de Séries Temporais do Banco Central (SGS/Bacen), desde janeiro de 1995 até dezembro de 2019, a taxa de câmbio do dólar estadunidense para compra variou entre um mínimo de R$ 0,8388 e um máximo de R$ 4,1547, estabelecendo um valor médio de R$ 2,2787.
Entre o fim e o início desse período, a apreciação da moeda ianque frente à brasileira foi de 386%, sem descontar o diferencial de inflação entre as duas economias (a nossa e a deles). Ao mesmo tempo, as exportações brasileiras variaram, positivamente, algo como 500%. À primeira vista, parece que o Sr. Guedes está certo.
Mas não está!
Isso porque a fase de maior crescimento das exportações brasileiras se deu entre os anos de 2002 e 2011, quando esse volume saiu de um total de US$ 3,9 bilhões e foi a US$ 21,9 bilhões, um incremento aproximado de 454%.
Por outro lado, nesse mesmo período, o dólar norte-americano, para compra, viu seu preço cair em 22,8%. Tendo iniciado com uma cotação de R$ 2,3771, em janeiro de 2002, e chegando ao final dessa época, em dezembro de 2011, com um preço de R$ 1,8362. Se a lógica do Sr. Guedes estivesse certa, isso não era para ter acontecido.
O que o Sr. Guedes desconhece (ou finge desconhecer) é que as exportações brasileiras não são função da taxa de câmbio, mas da demanda internacional. A venda dos nossos produtos para o exterior depende da renda do estrangeiro. Se essa aumenta, nós exportamos mais; se cai, exportamos menos.
E, para agravar mais ainda o raciocínio do Sr. Guedes, entre janeiro de 2012 e janeiro de 2016, o dólar para compra sofreu uma valorização da ordem de 126%, chegando a inéditos R$ 4,0517. Porém, o que aconteceu com as nossas exportações nesse exato momento? Viram-se reduzir em 31%, caindo para pouco mais de US$ 10,3 bilhões naquele mês, o menor nível desde fevereiro de 2009.
Dessa forma, o Sr. Guedes comete uma estultice conceitual quando propaga que o câmbio depreciado é muito bom para as exportações, porque isso não tem sustentação na realidade.
Do mesmo modo, o Sr. Guedes promove outro disparate quando associa déficits externos às viagens ao exterior dos brasileiros e essas a dólar barato. Em verdade, mais poder sobre essa variável tem o nível de renda do brasileiro, não o câmbio valorizado.
Veja que, entre novembro de 2008 e julho de 2014, ocorreu um boom das viagens a passeio ao exterior, com um incremento de 410%. Todavia, nesse mesmo período, o dólar para compra somente perdeu 2% do seu valor de transação.
Mais uma vez o Sr. Guedes se equivoca porque parece não conhecer a economia brasileira. Caso ele estivesse certo, por conta de um aumento de 15,3% na taxa de câmbio, entre abril de 2016 e dezembro de 2019, não era para os gastos com viagens ao exterior terem crescido 39,8% nesse mesmo espaço de tempo.
Então, a fim de se evitar dissabores dessa natureza, seria de bom tom o Ministro da Economia da República Federativa do Brasil abster-se de dar declarações sobre a economia brasileira.
(*) Emerson Souza – Economista
(*) Fábio Salviano – Sociólogo