Para muitos, parece que viver é sinônimo de estar endividado (já ouvi algumas pessoas próximas dizendo isso). Mas, na verdade, o fato de recorrer ao crédito para adquirir algo está mais associado a como fomos ensinados sobre nossos hábitos de consumo, pois buscamos muitas vezes adquirir algo imediatamente, mesmo não tendo o capital necessário para isso.
Acontece que muitas vezes, o crédito, seja qual for sua modalidade, pode ser evitado, bastando que, para adquirir o bem, juntemos o dinheiro para isso. Ou seja, mudemos o enfoque do imediato para no futuro.
Essa abordagem traz diversas vantagens, principalmente o fato de que é mais fácil, com a ajuda dos investimentos, juntar uma quantia ao invés de pegar um empréstimo e pagar juros. Claro que muitos dos leitores já devem ter escutado sobre isso diversas vezes, no entanto, aqui venho chamar a atenção, não para que não se use o crédito, mas que, para uma vida financeira saudável, utilize o crédito de maneira consciente.
Dicas importantes
Para isso podemos separar algumas dicas que podem ajudar bastante na hora de escolher se faremos uso ou não do crédito.
Observe se recebe desconto à vista: muitos produtos podem ser comprados com descontos quando à vista ou em 1x no cartão de crédito. Se a pessoa recebe esses descontos, deve considerar comprar à vista (ou em 1x no cartão, que também é considerado à vista pelo Código de Defesa do Consumidor). Se não receber desconto nenhum, pode ser melhor parcelar.
Compre itens de longa duração no crédito: cuidado para não cair na armadilha de consumo desenfreado e dividir o crédito de coisas imediatas para muitas vezes. Por exemplo, dividir o valor do abadá “X” para várias vezes, pois depois que a festa passar você ainda continuará pagando por ele durante muito tempo; já itens de longa duração trarão, na teoria, mais satisfação durante muito tempo, aliviando psicologicamente o fato de pagá-lo.
Observe os juros cobrados e não a parcela: muitas pessoas se importam somente com o valor da parcela, quando no final o que realmente importa são os juros cobrados. Na compra, busque sempre saber quanto de juros você paga ao parcelar. Normalmente essa informação vem descrita como Juros Mensais, então, em uma compra parcelada para 12x, por exemplo, busque saber o quanto de juros é que fica no final (chamado de Custo Efetivo do Financiamento). Em alguns casos, as pessoas pagam mais que o dobro do preço do produto achando que estão lucrando com parcelas pequenas.
Compre somente o que realmente precisa/quer: essa é clássica. Compre somente quando tiver certeza que não é uma compra por impulso, pois muitas vezes pagamos caro em coisas desnecessárias e nos arrependemos da compra em algumas horas Mas a dívida ficará conosco durante muito tempo.
Use cartões de crédito que consideram vantagens: essa também é clássica, mas já que vamos usar algum cartão, vamos aproveitar aqueles que nos concedem algumas vantagens, como milhas, por exemplo, que podemos trocar por viagens ou produtos; assim, para cada R$ pago ganhamos milha e essa vantagem competitiva é muito interessante.
Essas cinco dicas nos oferecem algumas vantagens e certas proteções quando vamos usar cartões de crédito e/ou cheque especial. Devemos frisar que, ainda assim, devemos sempre pensar muito bem antes de nos endividar, pois, como é dito: “quem paga juros não enriquece, pois enriquece os outros”.
Porém, diferente do que muitos falam, o crédito não é um vilão que vai nos empobrecer. Como toda ferramenta financeira, as linhas de crédito podem, se usadas de maneira correta, ser grandes aliadas para que conquistemos alguns sonhos financeiros. Mas para isso devemos sempre tomar certos cuidados, por exemplo:
Nunca devemos deixar nossa linha de crédito consumir mais que 20% de nossa renda mensal (incluindo todas: prestação do cartão, cheque especial, empréstimos etc.). Lógico que essa projeção é muito conservadora, ou seja, defensiva, pois podemos assim ter uma relativa tranquilidade para pagar as contas. Claro que podem existir meses onde isso seja excedido, mas via de regra é melhor que sejam poucas vezes.
Contratar seguro de compras para o cartão. Esses seguros acrescentam uma pequena porcentagem no valor final da fatura, mas ficamos protegidos em caso de perda ou roubo do cartão, ou de um eventual desemprego. Assim, nesses casos, nossas compras são quitadas nos poupando essa dor de cabeça (como todo seguro, pagamos para não usá-lo, mas se precisarmos, ele está lá e realmente é uma mão na roda).
Seguindo essas dicas, muitos dos problemas das linhas de crédito podem ser evitados. Assim, acredito que poderemos utilizar o crédito para conseguirmos algumas vantagens que muito nos auxiliarão, depois, claro, de termos tomado os devidos cuidados para não sermos pegos de saia justa.
Podemos concluir que o crédito é uma ferramenta que pode nos levar a uma bela dor de cabeça e ao SPC, ou nos ajudar a aumentar nossas chances de lucro futuro (voltaremos a esse ponto em uma newsletter futura). Basta que saibamos como usá-lo. Em analogia, funciona como um carro que pode nos levar onde queremos, mas que devemos tomar cuidado com a maneira como dirigimos e com sua manutenção para evitar problemas.
(*) David Rocha escreve semanalmente, às terças-feiras. Ele é assessor de investimentos e educador financeiro, que vive o mercado diariamente, desde 2011, e autor do livro Tesouro Direto – Um Caminho para a liberdade financeira de 2016.
** Esse texto é de responsabilidade exclusiva do autor. Não reflete, necessariamente, a opinião do Só Sergipe.