O presidente Jair Bolsonaro foi filmado enquanto comia churrasco com farofa de maneira bastante imunda, parecendo um porco esfomeado. No entanto, o vídeo foi logo apagado, haja vista ter sido criticado por seu oportunismo barato, querendo passar a imagem de “homem simples” para o povo a fim de aumentar sua credibilidade face às porvindouras eleições.
Acontece que, na verdade, não é de hoje, Bolsonaro aposta em uma estética daquilo que ele imagina ser o povo. Isto é, desde quando aparece por aí comendo pão com leite condensado, tenta mostrar uma suposta aparência de “pessoa simples”, “homem do povo”, acabando por ofender as pessoas afrontosamente.
É que na sua limitada visão, ele confunde ser simples com ser nojento, caricato e fantasioso. E fica cada vez mais evidente o seu desprezo pelo povo, inclusive utilizando-se dessa estética segundo a qual o povo não tem modos e se alimenta parecendo um porco (com todo respeito aos porcos). Para ele, o povo é como o cavalo Sansão do livro de George Orwell: “Revolução dos Bichos”. Incapaz de pensar politicamente e que acredita em tudo que vê e ouve por aí. Inclusive nesse tipo de estética vulgar de “homem simples”.
Ora, para além dessa visão preconceituosa, incide também uma mentira que a população não acredita mais. O presidente já gastou R$ 29,6 milhões com cartões corporativos até dezembro. Os cartões livremente utilizados pelo presidente, seus familiares e auxiliares mais próximos cobrem exatamente despesas como refeições. Se de fato preferisse o churrasquinho com farofa em uma barraca de rua, Bolsonaro não teria superado seus antecessores, Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), nos gastos com cartão corporativo.
É que na era do homem comum, como enfatiza o psicanalista Mario Corso, aquele só reconhece a autoridade daquele em que ele se vê. Bolsonaro, ao pensar que ganhará a simpatia do povo pelo fato de estar todo sujo de farofa, na verdade apenas reflete sua própria imagem. Um ser abjeto, preconceituoso e despreocupado com a situação do povo brasileiro. Em que pese sempre ter feito questão de demonstrar abertamente essa imagem, a burguesia brasileira achou que ele era a melhor opção. Tempos difíceis.
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(*) Gabriel Barros é advogado e pós-graduando em Direito Público.
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