Experiente na segurança pública, onde ingressou por concurso público em 2001, Katarina traz para administração Edvaldo Nogueira o que aprendeu na carreira de delegada, e vê seu campo de trabalho se ampliar. “Como vice-prefeita, tenho uma amplitude na maneira de ver e atuar. Podemos usar outros mecanismos de políticas públicas para prevenir a criminalidade”, ressaltou.
“Eu entrei na política e quero fazer carreira”, assegurou Katarina que poderá ter a possibilidade de, a partir de abril, ser a prefeita da capital pelos próximos 32 meses, caso o atual gestor se desincompatibilize para ser candidato a governador de Sergipe. No dia 14, o governador Belivaldo Chagas, PSD, fará uma reunião para definir qual será o nome que irá apoiar, e no dia 15 ou 20 será o lançamento. “Eu me sinto pronta, venho me preparando”, garantiu.
Com uma resalva, “se você me perguntar se estou 100% pronta, acho que ninguém está. Estamos sempre aprendendo, e estou me esforçando, estudando, ouvindo. Essa é uma posição de busca ativa. Temos que ouvir, ter aquela ‘escutativa’, aprendendo com meu grande mestre que é Edvaldo e com os seus auxiliares, nossos secretários”, completou.
Acompanhe a conversa que Katarina Feitoza teve, esta semana, com o Só Sergipe.
SÓ SERGIPE – Quando o seu nome foi lançado para compor a chapa de Edvaldo Nogueira como candidata a vice-prefeita, a senhora disse que tinha projetos que atendem ao coletivo e que, num cargo executivo, poderia colocá-los em prática. Enfim, quais projetos realmente vingaram?
KATARINA FEITOZA – Sim. Na gestão municipal, junto ao prefeito Edvaldo, ele vem me dando abertura para que possamos discutir, falar. Desde a época da campanha, ainda na formulação do plano de governo, ele se colocou à minha disposição para que pudéssemos discutir. Edvaldo me ouviu. Em muitas coisas eu já estava sendo contemplada, porque as ideias são muito convergentes. Em outras, ele acabou contemplando algumas ideias nossas. Agora, quando a gente assumiu – há mais de um ano juntos – , eu fiquei muito satisfeita porque pautas, que são bandeiras minhas, como a valorização da mulher, o enfrentamento à violência doméstica, conseguiram avançar. O Plano Municipal de Enfrentamento à Violência Doméstica hoje é uma realidade.
“Lógico que não nos preocupamos somente com as mulheres, mas a mulher é o eixo da família.”
Edvaldo assinou o decreto no final do ano passado. Nós já temos um norte, um protocolo a ser seguido, graças à assinatura deste plano e a sensibilidade do prefeito. Então, esse é um dos nossos projetos coletivos. A preocupação sempre em volta da mulher. Lógico que não nos preocupamos somente com as mulheres, mas a mulher é o eixo da família. Outro exemplo é o aumento de vagas em creches. Se for comparar de 2016 a 2021 houve um aumento de 15% na oferta de vagas, com perspectivas de um aumento ainda maior e isso será anunciado pelo nosso prefeito. Assim é uma gestão muito participativa. Fico muito feliz em poder contribuir com ele, e o prefeito me ouve e dá espaço para que eu possa trabalhar também.
SÓ SERGIPE – Então a vice-prefeita é proativa e não decorativa…
KATARINA FEITOZA – Decorativa jamais (risos).
SÓ SERGIPE – Durante o processo de escolha do seu nome, isso foi algo que a senhora colocou. Não queria ser decorativa.
KATARINA FEITOZA – Quando eu vim para a política, foi porque almejava embarcar em algum projeto que atendesse a coletividade, mas que dentro da segurança pública ficamos meio tolhidos. Chegava num ponto que a gente não conseguia avançar. Existe um projeto específico que Edvaldo me colocou à frente, que trata do enfrentamento à violência de uma forma geral, só que pelo viés das políticas públicas sendo ofertadas às comunidades. Queremos comprovar que através destas políticas conseguimos diminuir a violência, desde que aquela comunidade se sinta abraçada, acolhida, onde ali existam os serviços de qualidade. Nossos serviços já são de qualidade e percebemos o quanto a nossa cidade evoluiu nos últimos seis anos.
São obras em todos os cantos da cidade, na zona norte, na zona sul. E são obras estruturantes que causam, realmente, impacto na vida das pessoas. Nós estamos tendo uma série de inaugurações na zona norte que são de emocionar, de ver crianças vindo abraçar a gente e dizer: ‘minha tia, eu andava na lama aqui; não conseguia nem sair de casa quando chovia’. E hoje está tudo com calçamento, saneamento básico, sem esgoto a céu aberto. A zona norte ficou totalmente transformada, assim como a zona sul.
Na Atalaia, que é um bairro nobre, nós andávamos ali pela orla e era maravilhoso. Quando entrávamos em duas ruas por ali, era esgoto a céu aberto, na piçarra. Hoje isso não existe. Você passa por ali e vê tudo organizado, graças à gestão de Edvaldo, graças ao trabalho de toda essa equipe. Isso tudo é fruto de um planejamento estratégico. Nós temos foco, eixos muito claros e venho participando disso desde o início da gestão. E o maior eixo nosso é o desenvolvimento social. Nós queremos desenvolver, impactar na vida das pessoas dessa forma, seja com obras estruturantes na educação, na saúde. Veja como enfrentamos a pandemia na nossa cidade. Sinto-me muito contemplada e feliz de poder fazer parte desta construção.
SÓ SERGIPE – De que forma a Katarina, que atuava na segurança, enxergava Aracaju? E hoje vice-prefeita, como ela a vê?
KATARINA FEITOZA – A grande diferença, a grande mudança é a perspectiva, a forma de olhar para as situações. Na segurança pública eu tinha uma visão mais limitada, meu objetivo era combater a criminalidade e tentar prevenir. Especialmente na Polícia Civil, a gente trabalha muito mais no reativo, e não na prevenção. Quando eu vou atuar, o homicídio já aconteceu, o tráfico já está acontecendo. Hoje, como vice-prefeita, tenho uma amplitude na maneira de ver e atuar. Eu posso, também, trabalhar com segurança pública.
“Meu grande projeto coletivo é trabalhar as políticas públicas de forma que consigamos salvar nossas crianças, nossa juventude e que possamos trazer um conforto aos mais idosos, especialmente às nossas mulheres.”
E esse é um dos meus objetivos, é ajudar o município a fazer a sua parte com relação à segurança pública, pois acredito que todos os entes federados têm responsabilidade nisso, como está na Constituição. E, ao mesmo tempo, não fico restrita a isso. Podemos usar de outros mecanismos de políticas públicas efetivas de infraestrutura, escolas, creches, saúde, lazer para as comunidades e isso vai impactar de tal forma que vamos conseguir prevenir a criminalidade, prevenir que uma criança de 12 ou 13 anos tenha praticado um homicídio como verificamos, sendo cooptada pelo traficante da região. É esse meu grande objetivo. Meu grande projeto coletivo é trabalhar as políticas públicas de forma que consigamos salvar nossas crianças, nossa juventude e que possamos trazer um conforto aos mais idosos, especialmente às nossas mulheres.
SÓ SERGIPE – Estamos próximos de um período eleitoral, o prefeito Edvaldo Nogueira pode ser candidato a governador. A senhora está pronta para ser a prefeita a partir de abril, caso realmente ele seja candidato?
KATARINA FEITOZA – Desde o momento em que me coloquei como candidata a vice-prefeita, eu já tinha, com responsabilidade, de me preparar para isso. Porque tudo pode acontecer. Qual é o papel de um/a vice? Assumir o lugar do gestor máximo em casos de impedimento dele, seja de saúde (que Deus o livre), renúncia, uma viagem, como aconteceu, ou permanentemente ou temporariamente. A única função do/a vice-prefeito/a é essa.
Eu exerço outras funções aqui no município, porque o prefeito Edvaldo tem essa característica de deixar que a gente trabalhe, eu gosto de trabalhar e isso foi tema de uma das nossas conversas na campanha. Que eu viria ser vice para trabalhar, ajudar ele. Eu me sinto pronta, venho me preparando. Se você me perguntar se estou 100% pronta, acho que ninguém está. Estamos sempre aprendendo, e eu estou me esforçando, estudando, ouvindo. Essa é uma posição de busca ativa. Temos que ouvir, ter aquela ‘escutativa’, estou aprendendo com meu grande mestre, que é Edvaldo, e com os seus auxiliares, nossos secretários.
SÓ SERGIPE – Como tem sido a experiência da mulher Katarina vice-prefeita, mãe, esposa? Como a senhora faz para dividir o tempo com a família, diante das exigências que o cargo lhe impõe?
KATARINA FEITOZA – É como qualquer outra mulher. A maior parte de nós mulheres tem que dividir e exercer vários papéis: o profissional, a esposa, dona de casa, mãe, amiga. Nós temos que ser um todo e fazer o melhor naquilo que a gente se propõe, naquele momento. Quando estou em casa com meu filho, eu sou a melhor mãe que eu posso ser [não sei se é a melhor mãe que ele acha, risos]. Dou o melhor de mim para José Vinicius, que é meu filho.
Quando estou aqui trabalhando, me dou 100% para os aracajuanos. Aqui minha cabeça está voltada para os projetos do município, para o que podemos fazer de inovação, o que podemos fazer para contribuir, correr atrás a fim de melhorar e impactar positivamente a vida das pessoas. E aí vai… Quando estou com meu marido, tenho que ser a melhor esposa do mundo. E procuramos sempre nos desdobrar. Na polícia não era diferente do que é aqui.
“…eu entrei na política e quero fazer carreira.”
Muitas vezes, eu trabalhando no interior, deixava meu filho pequeno aqui com outras pessoas tomando conta e eu tinha que monitorar pelo telefone. E nem por isso deixei de me destacar dentro da minha profissão. A mulher tem esse dom de conseguir fazer muitas coisas ao mesmo tempo e fazer bem.
SÓ SERGIPE – A senhora pensa num futuro político?
KATARINA FEITOZA – Sim, penso, eu entrei na política e quero fazer carreira. Meu nome está à disposição, faço parte de um grupo muito forte, consolidado, o PSD. Não sei o que será do futuro ainda. Quando fazemos parte de um projeto político, temos que aguardar, vendo como as coisas vão acontecendo, como você vai se posicionar. Eu gosto muito de ser útil. Lógico que temos as nossas preferências e vamos colocar isso no momento apropriado. Mas antes do meu querer, tem que ser o meu dever. O que é mais importante nesse momento? Em que posso ser mais útil agora? Todas as posições que ocupei na minha vida profissional foram assim. Na polícia, quando um chefe me chamava e perguntava o que eu queria, eu dizia: onde o senhor está precisando? É no Santa Maria? Ah, ninguém quer ir para o Santa Maria, eu vou.
“…estou me preparando para enfrentar qualquer desafio que venha.”
Todos os desafios que vieram para mim – mesmo com o medo do novo, pois eu sou humana – sempre busquei me preparar e enfrentar. Como agora estou me preparando, para enfrentar qualquer desafio que venha. Não é fácil, dá medo, mas o medo é até salutar, desde que ele não nos paralise. E meus medos nunca me paralisaram, sempre me impulsionaram. Estude, se prepare fazendo o melhor possível. Beire o impossível.
SÓ SERGIPE – Katarina é mulher conciliadora, antes de bater o pé na porta? Pergunto isso, em virtude de uma frase que o delegado Jocélio Fróes lhe disse, certa feita.
KATARINA FEITOZA – [risos] E eu vou repetir essa frase aqui. Engraçado isso, é uma característica minha. E não quer dizer que é melhor ou pior do que as de outras pessoas. Mas cada uma tem a sua característica. E esse perfil de conciliadora, que eu trago, foi uma das coisas que fez com que o próprio Belivaldo Chagas e o pessoal do PSD vissem em mim o potencial político que eu não via.
A gente tem mania de acreditar que política é só a partidária, mas fazemos política o tempo todo. Você deve fazer política na sua casa com a sua esposa quando quer definir um roteiro de viagem, do que vai comer durante a semana, senão o casamento não dá certo. Se for imposição, o casamento não dá certo. Na minha vida como delegada, como gestora dentro da polícia, sempre usei dessa característica minha de saber resolver problemas de maneira conciliatória.
Jocélio Fróes, certa vez, me disse assim: ‘É fácil a gente arrebentar a porta, mas se a gente pode achar a chave é bem melhor. Demore um pouco mais para resolver procurando a chave’. Arrebentar a porta é imediato, você resolve, mas as consequências ficam ali. Você não consegue mais consertar a porta. Remenda, mas não fica igual. Aparentemente você resolveu, mas as cicatrizes, as sequelas ficam. Demore um pouco mais para resolver procurando a chave. E assim eu tenho feito durante toda a minha vida. Eu sempre procurei muito a chave. Lógico que, quando não tem como, você arrebenta a porta. Mas estou sempre procurando a chave. Tenho certeza de que política é isso, é a arte do diálogo.
SÓ SERGIPE – E eu faço uma analogia. A senhora é um exemplo como delegada, tem sido, também, como vice-prefeita. O que diria às mulheres – aproveitando suas experiências – que desejam ingressar na vida política? Qual é a chave para ir aonde quiserem?
KATARINA FEITOZA – A chave é o preparo. Nós temos que encontrar meios de evoluir, buscar o aprendizado, o saber. E é por isso que estou num cargo de gestão. O que eu mais almejo para as mulheres aracajuanas? É conseguir dar empoderamento a elas, liberdade. E você só tem liberdade quando tem independência intelectual, financeira. Estamos buscando aqui que nossas mulheres tenham essas independências, pois assim elas se firmam. Os relacionamentos delas serão cada vez melhores, cada uma sabe seu potencial, seus limites. Então, acho que a chave é procurar essa liberdade intelectual e financeira e não se paralisar com os medos. Todos nós – homens e mulheres – temos nossos valores.
Mas, historicamente, se formos analisar, nós mulheres estamos sempre numa corrida de obstáculos. Para a mulher existem várias barreiras e para o homem está livre, é uma corrida sem barreira. Essa é a grande diferença. Temos que pular o obstáculo da maternidade, dos preconceitos. Quando não existe preconceito nenhum, existem as questões biológicas. A mulher grávida tem suas limitações naquele momento, mesmo que seja uma gravidez saudável. E ele não vai se privar de nada. Para amamentar o filho, a mulher precisa de seis meses. Nós somos essenciais para a sociedade nesse sentido. Todo homem nasceu de uma mulher e a sociedade não entende isso. Na hora de contratar uma mulher, não faz porque ela vai parir, vai amamentar, vai se afastar por um tempo.
Eu, na minha formação como delegada, pulei vários obstáculos. Para os meus colegas homens era uma corrida de 100 metros simples, mas para mim foi com obstáculos. Eu tinha acabado de ter meu filho. Quando me inscrevi no concurso meu filho tinha um mês de vida, e na primeira prova ele tinha dois meses. Eu ia ter minhas aulas com os seios cheios de leite. Tinha que sair da aula para esvaziar o peito cheio de leite, fora o constrangimento que fica, e eu estava concorrendo em pé de igualdade com os colegas. Meu marido, que sempre foi um grande parceiro, levava meu filho para a Academia de Polícia para eu amamentá-lo. À noite, no outro dia, eu ia ter prova oral. Cheguei em casa uma hora da manhã, pois estava estudando com uma amiga, meu filho acordou e fiquei com ele até três horas da manhã. Será que meu colega homem passou por isso? Será que ele chegou, em casa, teve que cuidar do filho e dar o peito? São os obstáculos que a sociedade não enxerga.
“Nós não podemos sair às ruas com a roupa que queremos, por quê? Se for uma roupa mais curta ou decotada, você esta sujeita a todo tipo de insinuação, até de ser apalpada.”
E o pior, nós mulheres, muitas vezes, não enxergamos que são obstáculos que temos que pular. Isso não nos incapacita e não nos impede de chegarmos aonde queremos, mas temos que ter consciência destes obstáculos e temos que enfrentá-los. E são vários: preconceito, violência sexual que sofremos, por exemplo, nos ônibus. Quando eu ia pegar um ônibus minha mãe me doutrinava, cheia de cuidados. E com toda razão. Isso acontece, não é nenhuma estorinha. Nós não podemos sair às ruas com a roupa que queremos, por quê? Se for uma roupa mais curta ou decotada, você esta sujeita a todo tipo de insinuação, até de ser apalpada. E ainda escuta alguém dizer: ‘Como é que vem para um lugar com uma roupa dessa?’ Esses são os obstáculos que a gente tem que pular, e foi por isso que entrei na política também, para que possamos dar exemplo a essas meninas. ‘Se eu consegui, você também consegue’. Eu não tenho sobrenome famoso, não vim de família abastada, mas de pessoas humildes que batalharam muito para seus filhos. Estudei em escola pública grande parte da minha vida, no finalzinho foi que estudei em escola particular. Se eu consegui, todo mundo consegue.