A vida é uma soma de vários porquês, muitas vezes sem respostas. E nessa busca incessante do puro sentido de ser é que estamos em movimento.
Durante a tenra infância, ainda muito dependentes, somos conduzidos por nossos pais, parentes, mestres e amigos, observando-os e reconhecendo neles os exemplos dos que seriam homens e mulheres livres e de bons costumes.
Crescemos e, consequentemente, criamos asas, lançando-nos em atribuladas jornadas no ímpeto de atingir o poder, as riquezas e as revelações mundanas até então camufladas e intangíveis. Nem sempre essas descobertas ocorrerão da maneira cinematograficamente romântica tal qual vislumbrávamos, mas sim repletas de desafios nunca antes imaginados e, até então, enfrentados. E assim nos perguntamos, por qual caminho galgar? Já não somos mais aquele jovem inocente bem protegido, percebemos que estamos por nós mesmos, já possuímos vontades próprias, perdemos a candura infantil. Aqueles ídolos e defensores de outrora, muitos deles já se foram, partiram desse plano, deixando-nos uma breve lembrança dos tempos pueris, nos quais a maldade e os problemas não eram perceptíveis, as amizades eram verdadeiras e a alegria aflorava pelos sorrisos constantes, abraços fraternos e carinho maternal.
Somos seres dinâmicos tal qual o planeta em que habitamos. Estamos constantemente sendo conduzidos e impulsionados pelo que extraímos, tanto dos cinco sentidos, como da fértil imaginação, desejos e prazeres. Procuramos nos superar a cada dia, acumulando fortunas e glórias, envoltos por uma sociedade economicamente selvagem, onde a competitividade nos leva ao limite do dever e poder, na qual o tênue equilíbrio da moral e ética pode, em questão de instantes, romper-se, abrindo espaço para a vaidade, inveja, intolerância e infidelidade.
Percorremos caminhos elevados e perigosos, angariamos dezenas de diplomas, inúmeros títulos e vastas medalhas por onde passamos, subindo na vida, sem percepção do nosso entorno, das pessoas com quem convivemos, como um trator! Contudo, quando alcançamos o topo, sobre o cume da montanha da existência humana, olhamos atentamente ao redor e não vemos nada, ninguém. Sozinhos estamos mais uma vez, exaustos, carregados dos pesadíssimos fardos de riqueza acumulada sem ter onde e como gastá-la, não obstante, extremamente vazios de sentido, sem rotas para trilhar doravante, questionado repetidamente se tal dispendioso desafio valera realmente à pena.
Destarte, num turbilhão de sensações angustiantes, volvemo-nos aos tempos de outrora, quando tudo era puro, sincero e verdadeiro. Então, silenciosamente refletimos e, meio que de súbito, percebemos que trilháramos por uma estrada sem motivos, levados pela inércia, cegos e surdos pelas paixões mundanas, onde a sabedoria e o conhecimento apequenavam-se na cruel luta pela sobrevivência.
Vivíamos tão rápida e desatentamente que esquecêramos de valorizar aquilo que sempre nos fora relevante em nossa juventude, o piquenique na praia em família, os intervalos das aulas rodeados por colegas, os primeiros passos na faculdade, os verdadeiros amigos da rua ou do condomínio, o cinema com pipoca acompanhando a namorada, as baladas dos sábados à noite, o churrasco aos domingos na casa da vovó… tudo ficou para trás, permanecendo apenas na lembrança. Não ouvíramos o divino chamado que nos lança na busca do real motivo de viver, que preenche o vazio n’alma e que nos guia pela rota gloriosa no infinito, onde o espírito sobrepuja a matéria, eternamente, deixando, pois, por onde estivemos, um virtuoso legado, como resposta ao propósito de nossa passagem terrena.
O chamado que tanto esperamos nos é ofertado a cada momento, basta querermos escutá-lo, distanciando-nos, por instantes, da atribulada e ofegante rotina diária, reavaliando nossas ações e resgatando nossas origens, pois quando sabemos de onde viemos, reconheceremos onde estamos e certamente alcançaremos nosso destino, nosso propósito, no qual a essência existencial, a paz, o amor e a concórdia estarão transbordando em abundância, na simplicidade das coisas, dos gestos e das pessoas!
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(*) Hernan Augusto Centurion Sobral é médico cirurgião e coloproctologista. Mestre maçom da Loja Maçônica Clodomir Silva 1477, exercendo atualmente o cargo de orador.