Após longa abstinência sem viajar, entrar em uma aeronave, embarquei na última segunda-feira, 05 de setembro, para São Paulo. No começo da pandemia do coronavírus, fevereiro/20, estava na Europa. Voltei às pressas para casa, antes de fecharem as fronteiras. Desde então, viajei apenas uma vez, para a região norte do país e para Cuiabá. Fui para entrevistas e palestras.
Agora estou em SP para o lançamento do livro “Das muletas fiz asas”, que lancei pela editora N’versos primeiramente em São Luís, minha Ilha do Amor, em 22 de junho.
Desacostumado a entrar em uma aeronave, após check-in, despachar bagagem, passar pelo raio X, pegar a aeronave na remota, ou seja, no pátio do aeroporto, subir escadas, finalmente me acomodei no assento. Afivelei o cinto, fechei os olhos em gratidão ao bom e maravilhoso Deus por estar novamente voando. Com a decolagem, reclinei o assento na esperança de relaxar. Vinha de dias corridos e tensos. Nem o choro persistente e estridente de uma criança a bordo, tirou-me a alegria de estar nos ares. No desembarque em Guarulhos, novo perrengue, minha mala não chegou. Tive que esperar três longas horas até a companhia aérea localizar a bagagem e me entregar. Desembarquei às 20h, deixei o aeroporto às 23h, contente por não terem extraviado meus pertences. De vez em quando tenho que brincar o “jogo do contente” para não fritar o juízo, e inviabilizar o dia. Nem sempre sou assim, mas quando consigo, evito uma série de aborrecimentos.
Como as coisas mudaram na aviação! Venho de uma época em que as companhias aéreas serviam alimentação quente, duas ou três opções, acompanhadas de água mineral com gás, refrigerantes, sucos, cerveja, uísque, vinho e Campari, além de café e sobremesas. A Varig, a melhor companhia aérea de todos os tempos, uma das melhores do mundo, servia refeições com talheres de inox e em louças. Em todos os voos eram embarcados os jornais do dia, os de maior circulação no país: OGlobo e JB do RJ; Folha e o ESTADÃO, de São Paulo, além dos locais.
Estou falando de voos nacionais e na classe econômica, onde eu tinha acesso. Com a falência das três grandes: Varig, VASP e Transbrasil, surgiram a TAM e a GOL, e depois a Azul. Mais enxutas, como o momento econômico exigia, e com um serviço de bordo frugal. A TAM, hoje LATAM, inovou ao distribuir nos voos balas de chocolate. O lanche era um sanduíche frio de queijo, acompanhado de água, suco, refrigerante e café. Durante a pandemia, por determinação da ANVISA, todos os serviços de bordo foram suspensos por causa dos protocolos contra a Covid-19.
Neste último voo, o lanche oferecido foi um saco de banana chipe, com 10 gramas, isso que você leu, 10 gramas, que mal enche um dedal, acompanhado de suco de laranja. O suco parecia feito com água que lavou as casca da fruta, além de água e um café, ou seja: um copo com água morna e um sachê de café solúvel.
No voo, perguntei pela revista de bordo, me informaram que não existe mais revista impressa. Agora é baixar o aplicativo, a revista é digital.
Conheço muitas das companhias aéreas internacionais. Em andanças pelo mundo, conheci as companhias low cost, de baixo custo. Elas se caracterizam por vender passagens baratas, mas cobram tudo por fora: bagagem, marcação do acento, até a água servida a bordo. No Brasil, estão cobrando passagem aérea com valor cheio e oferecendo serviços de companhias low cost. Com isso as companhias aéreas aumentam os lucros. Só quem perde somos nós passageiros.
Neste final de semana, retomo as viagens internacionais. De SP embarco para nove países das Américas. Mesmo com todas as mudanças, para pior, nada me tira a alegria de cruzar os céus do mundo.
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(*) Luiz Thadeu Nunes e Silva é engenheiro agrônomo, palestrante, cronista e viajante. Autor do livro “Das muletas fiz asas”. O sul-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 143 países em todos os continentes da terra.