“Viva como se fosse morrer, porque você vai!”, frase imperativa escrita em letras garrafais, estampada em uma camiseta branca que ganhei de presente. Visto com prazer. Presente de uma amiga querida, que conhece minha visão de vida… e da morte.
Sempre fui fascinado pela finitude da vida. Por mais que você tenha dinheiro, beleza, saúde, prestígio, tudo acaba. Isso é libertador. Se não acabar hoje, lá na frente findará. Nada é eterno a não ser o tempo e o mundo, que nós terráqueos, com atitudes egoístas e irresponsáveis, estamos querendo acabar. Mesmo sabendo que todos nós vamos nos fud… não tomamos consciência em preservar nosso habitat. As catástrofes climáticas estão aí para provar.
Tenho perdido muitos amigos e conhecidos para a libitina. Alguns jovens, outros no adiantado dos anos, e fico a me perguntar, o que vale a pena viver? Ou melhor, qual a melhor e prazerosa maneira de viver antes de partir? “Terra, aproveite enquanto está em cima dela”, meu lema de vida.
No café da manhã soube da partida de um conhecido, 39 anos, que perdeu a batalha para um câncer recém-descoberto. Homem jovem, produtivo.
Dias antes fui ao velório da esposa de um querido amigo, 59 anos, também vitimada por um câncer, que lutara por dois doloridos anos. Todos nós temos no nosso entorno pessoas que estão travando batalhas pesadas para continuarem vivos.
Leio nos jornais que um homem muito rico, morreu aos 68 anos, de infarto fulminante. Ele foi preso na operação Lava Jato, defraudada em 2014. Foi condenado a 70 anos de prisão, a delação dele levou a Petrobras para o centro das investigações. O que quero dizer, caro leitor, amiga leitora, é que o dinheiro que ele furtou não serviu pra livrá-lo da morte. Partiu e não levou nada. Se duvidar, deixou grande herança para os descendentes se matarem.
Se você for gordo ou magro, feio ou bonito, rico ou pobre, inteligente ou burro, alto ou baixo, branco, amarelo ou preto, alegre ou triste, gostar de sexo ou não, gostar de viajar, ou nunca ter saído de casa, de uma coisa esteja certo: assim como eu, você vai morrer. Ninguém escapa. Ter medo da morte não te impede de morrer, te limita a viver. Viver com propósito, com planos de futuro, mesmo o futuro sendo incerto e desconhecido, é o grande desafio.
A vida é a coisa mais fugaz que existe. Somos instantes, e em instante somos nada, viramos fumaça que se perde no espaço. É imperativo encontrar uma maneira saborosa de viver. Seja o protagonista de sua jornada, e não se contente em ser coadjuvante da vida alheia. Isso cabe para os cônjuges, filhos, amigos.
É imperativo encontrar uma maneira gostosa de viver. Sim, viver tem sabor, o sabor que damos a ela. A vida pode ser leve e doce, pesada e amarga, cabe a cada um escolher o caminho que quer trilhar. Conheço pessoas que têm enormes problemas e são leves, enquanto outras que têm tudo, vivem insatisfeitas. Gente que para cada solução cria um problema. De tão amargas, acredito que essas pessoas por pouco não nasceram um pé de boldo. Só pode.
Por isso, caro leitor, amiga leitora, não se leve muito a sério, você não sairá vivo dessa vida. Aproveite, usufrua, pire, permita-se ser você, pois “só você sabe a delícia e as dores de ser o que é”, parafraseando Caetano Veloso.
A vida é incerta, uma surpresa diária. Por mais que tenhamos rotas, nosso destino pode mudar em segundos. Por isso, faça o máximo para permanecer no amor, na paz, no seu melhor. Não perca tempo com questiúnculas. Viva cada dia como se fosse o ultimo, com a felicidade que lhe cabe.
Lembre-se que hoje é o primeiro dia do resto de nossas vidas. Portanto, quando tudo passar, e os bons momentos virarem saudades em alguém, vão lembrar de você com a intensidade que você viveu.
Desejar ver a vida de outra forma, seguir outro caminho, ressignificá-la, isso sim, pois a vida é breve e precisa de valor, de sabor, sentido e significado. E a morte é um excelente motivo para buscar um novo olhar para a vida.
Em 02 de novembro de 1976, Dia de Finados, perdi minha mãe. Ela partiu jovem, 43 anos, de infarto fulminante. Sua precoce partida deixou uma imensa saudade, que nunca cessa, ao contrário, aumentou com a passagem do tempo. À minha mãe, Maria da Conceição Nunes e Silva, dedico esta crônica.
Vida longa com saúde, sucesso, sorte, sorrisos, sexo, sonhos, sustentabilidade, realizações e conquistas para todos. Viver é bárbaro.
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(*) Luiz Thadeu Nunes e Silva é engenheiro agrônomo, palestrante, cronista, escritor e viajante. Autor do livro “Das muletas fiz asas”. O sul-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes.