Ele diz que “se fosse viver de livros estaria passando necessidade”. Segundo o escritor, “as pessoas dão valor, nos admiram e nos aplaudem, mas ficam, em geral, esperando ganhar o livro. Não têm aquele hábito de ir aos lançamentos – coisa que não tenho feito mais, pelo menos os autorais -, e tampouco à livraria, com raríssimas exceções, claro”.
Nesta vida de escritor, Claudefranklin sofreu alguns reveses, mas a paixão pela literatura sempre foi mais forte. “Por muito pouco, me aposentei por ali, como escritor. Senti de perto, pela primeira vez, a pequenez e a maldade humana. Mas superei e segui fazendo o que eu gosto até hoje: lecionar e escrever”, confessou. “Tenho consciência de que não agrado a alguns, mas dou mais atenção ao meu bem-estar, à minha saúde mental e espiritual e foco naqueles que nos amam, nos admiram e nos estimulam”, destacou.
Agora, Claudefranklin está escrevendo a biografia do professor Josué da Silva Mello, lagartense como ele, ex-reitor da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), na Bahia, que o convidou para essa empreitada. Em setembro do ano passado, quando iniciou as pesquisas para contar a história de Josué, Claudefranklin foi à casa do biografado várias vezes para entrevistas. O livro, que ainda não tem nome, está em vias de conclusão e a pretensão é lançá-lo em março, em Feira de Santana.
No próximo dia 15 de abril, o escritor lagartense deve lançar o primeiro volume do livro “Servido de todos Padre Mario Rino Sivieri (1942-1979”) de 2022, contando a história de Dom Mario Rino Sivieri, que escreveu em coautoria com Anselmo Vital e Sérgio Botelho. Ele acredita que esse livro poderá ser traduzido para outro idioma. Dom Mario nasceu em Castelmassa, na Itália, em 15 de abril de 1942, foi o terceiro bispo da Diocese de Propriá e morreu aos 78 anos de idade, no dia 3 de junho de 2020, em Aracaju.
Apaixonado pelo Carnaval baiano, Claudefranklin escreveu “A vida é um trio elétrico”, que conta a trajetória de Armandinho, Dodô e Osmar. Este e os outros dois que completarão a trilogia são um desdobramento do seu pós-doutorado em Cultura e Sociedade, pela Universidade Federal da Bahia, entre 2016 e 2017. “Além de ‘A vida é um trio elétrico’, à mercê de Deus, até 2025, quero publicar um segundo volume sobre a trajetória da Banda Trio Elétrico Armandinho Dodô e Osmar e um terceiro sobre o carnaval elétrico em Sergipe”, disse.
Com um livre trânsito entre o sagrado e profano, o professor diz que seu livro “A santinha do Novo Horizonte” é a menina dos seus olhos e foi pagamento de promessa. “Eu e minha esposa somos devotos da santa francesa de Lisieux. Pela nossa fé, nossa filha, Júlia Gabrielle é fruto de uma intercessão dela, pois tenho varicocele, que dificulta em muito a questão da fertilidade. De todos os meus trabalhos, incluindo os acadêmicos, foi o que mais me realizou enquanto escritor e pessoa”.
Sexto filho – de um total de sete – do comerciante e vereador José Almeida Monteiro e dona Maria Claudemira dos Santos Monteiro, ambos falecidos, Claudefranklin, começou o curso de História na Universidade Federal de Sergipe (UFS), aos 17 anos, e aí não parou mais de estudar. Seu nome, pouco comum, foi dado pelo irmão mais velho, José Cláudio Monteiro Santos, com a licença do patriarca. E aí os irmãos são Claudemir, Claudineide, Claudiane, Claudicleide, Claudefranklin e Claudimax.O nome Claudefranklin foi inspirado no escritor Franklin Távora, cearense de Baturité, um dos representantes da prosa regionalista do romantismo brasileiro, cujas obras valorizam os costumes do Norte do Brasil. Um dos seus grandes romances é O Cabeleira.
Conheça um pouco mais sobre a vida e a obra do escritor lagartense Claudefranklin Monteiro.
Boa leitura.
SÓ SERGIPE – O senhor lançou, recentemente, junto com a também escritora Ana Medina, o livro “Pela luz dos olhos teus”, contando a história do médico Hugo Gurgel. O título dessa biografia remete à canção de Tom Jobim e Miúcha. Como se deu a escolha desse título?
CLAUDEFRANKLIN MONTEIRO – A partir do levantamento de fontes, sobretudo as entrevistas que fizemos. A partir de um determinado momento da escrita, vimos que estávamos diante de um amor sincero e uma relação muito forte entre o biografado e a sua amada. Foi algo intuitivo. Veio à minha mente o trecho dessa canção quando vi a foto que ilustra a capa. Apresentei a proposta de título à Ana Medina e por conseguinte à Eline Gurgel, filha do casal, que concordaram prontamente, com entusiasmo e alegria.
SÓ SERGIPE – O senhor e Ana Medina passaram dois anos trabalhando no livro, que foi iniciativa da filha do homenageado Eline Gurgel. O que mais lhe surpreendeu ao pesquisar a vida desse médico?
CLAUDEFRANKLIN MONTEIRO – A humanidade dele. Era um médico humanista na melhor acepção da palavra, e isso se refletiu na criação dos filhos e também dos netos. Hoje, é Dra. Andréa quem cuida dos negócios da Santa Helena, filha de Dra. Eline. Há muito nela dos avós: o tino administrativo de dona Lucinha e a dedicação ao trabalho de Dr. Hugo Gurgel. Uma receita de sucesso que está prestes a completar 50 anos de existência.
SÓ SERGIPE – O senhor já vem trabalhando para lançar brevemente, a biografia de um conterrâneo seu, o professor Josué da Silva Mello, ex-reitor da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). O livro já está concluído? Já tem um título?
CLAUDEFRANKLIN MONTEIRO – Sim. Conheci o professor Josué há alguns anos. Esteve em minha casa em Lagarto e me pediu para escrever uma síntese de sua vida para a Revista Perfil. Foi aí que descobri que ele era meu conterrâneo. Nasceu ali uma relação de admiração mútua, de respeito e hoje de amizade fraterna. Anos depois, voltamos a nos encontrar em minha posse como sócio do Instituto Histórico da Bahia. Na oportunidade, muito brevemente, por conta da solenidade, externou seu desejo de ter a sua vida e trajetória profissional registrada em livro. Ficamos de nos falar dali em diante.
SÓ SERGIPE – E como foi esse reencontro?
CLAUDEFRANKLIN MONTEIRO – Passado aquele nosso reencontro em Salvador, mais um período nos distanciou naturalmente. Vieram outros projetos e a pandemia. Ano passado, ele me mandou uma mensagem e voltou a tocar no assunto. Fui à casa dele com minha esposa e meu filho, e ali firmamos o compromisso. Em setembro, voltei mais uma vez por lá, e iniciei efetivamente o projeto. Está em vias de conclusão e pretendemos lançar em março, inicialmente em Feira de Santana.
SÓ SERGIPE – Além dessas duas biografias citadas, é da sua autoria “A vida é um trio elétrico”, uma trilogia sobre Armandinho, Dodô e Osmar. Acredito que foi um trabalho demorado e de muita pesquisa.
CLAUDEFRANKLIN MONTEIRO – “A Vida é um Trio Elétrico” foi um livro simples que pretendia abrir uma trilogia sobre o Trio Elétrico Armandinho, Dodô e Osmar. Projeto suspenso temporariamente, em razão, sobretudo, da pandemia de Covid-19. Tinha acabado de lançar “A santinha do Novo Horizonte”, histórico de uma paróquia de Lagarto-SE.
As mortes de Paulo Milha, produtor do grupo, e de Moraes Moreira, “quebraram minhas pernas”, como se diz no popular. Fiquei desanimado, como muitos de nós, e adoeci física e psicologicamente. Fui me dedicar a pôr essas coisas em ordem e aguardar os desdobramentos. Foi quando surgiram outros projetos, um pessoal, de memória, “Eutímia – Crônicas para não esquecer”, e o primeiro trabalho coautoral com Ana Medina, onde fizemos memória dos 150 anos da Paróquia de Senhora Santana, Boquim-SE. Sem falar nos outros que já mencionei.
SÓ SERGIPE – Quais são os outros dois livros que completarão essa trilogia?
CLAUDEFRANKLIN MONTEIRO – Esses livros sobre o Trio Elétrico Armandinho Dodô e Osmar são um desdobramento de meu Pós-doutorado em Cultura e Sociedade, pela Universidade Federal da Bahia, desde minhas passagens por lá entre 2016 e 2017. Devo retomar as publicações agora em 2023, quando Osmar faria 100 anos de nascimento. Talvez, se eu der conta, publique uma homenagem a ele, em livro. Além de “A vida é um trio elétrico”, com a mercê de Deus, até 2025, quero publicar um segundo volume sobre a trajetória da Banda Trio Elétrico Armandinho Dodô e Osmar e um terceiro sobre o carnaval elétrico em Sergipe.
SÓ SERGIPE – O seu trabalho circula bem entre o sagrado e o profano. No terreno sacrossanto, há um livro seu sobre Santa Teresinha, lançado em 30 de setembro de 2020. O que o motivou fazer essa pesquisa?
CLAUDEFRANKLIN MONTEIRO – Sim. Transito bem nesses dois campos de pesquisa. Amo o Carnaval. Sou católico, mas me considero livre para escrever uma História da Igreja, da Religião e das Religiosidades sem amarras ideológicas. Não é à toa que o livro de Josué Mello é sobre um presbiteriano. “A santinha do Novo Horizonte” foi uma paga de promessa. Eu e minha esposa somos devotos da santa francesa de Lisieux. Pela nossa fé, nossa filha Júlia Gabrielle é fruto de uma intercessão dela, pois tenho varicocele que dificulta em muito a questão da fertilidade. De todos os meus trabalhos, incluindo os acadêmicos, foi o que mais me realizou enquanto escritor e pessoa.
SÓ SERGIPE – Como nasceu o Claudefranklin escritor? O senhor conta numa entrevista que seu lado escritor surgiu a partir da amizade com o poeta Assuero Cardoso, que o estimulou a escrever para um jornal. Mas será que antes disso já não havia um escritor em ebulição?
CLAUDEFRANKLIN MONTEIRO – Como tudo na minha vida, aconteceu de forma muito natural. Desde menino, gosto de ler. Meu irmão mais velho, professor José Cláudio Monteiro Santos (falecido) sempre me estimulou. Mais tarde, foi meu professor de Redação no ensino médio, ele me dizia que um bom escritor é um grande leitor. Nunca tive maiores ambições na minha vida além de viver da minha profissão: professor. Dar minha aula, cumprir minhas obrigações com dedicação e qualidade, e me recolher em casa. Mas, a partir de 1996, tudo mudou, e em grande medida, não somente Assuero mas também o saudoso jornalista Emerson Carvalho e Raimundinho me estimularam a escrever para o jornal Folha de Lagarto. Daí em diante, não parei mais e as outras coisas foram, também, surgindo e acontecendo naturalmente. De tal sorte que escrever para mim é um deleite, é como respirar: uma necessidade vital. Se o que escrevo é bom ou não, eu sigo escrevendo. Não por vaidade, mas por satisfação.
SÓ SERGIPE – Quando foi lançado o seu primeiro livro e o que ele conta?
CLAUDEFRANKLIN MONTEIRO – Nunca me considerei poeta. E, por incrível que pareça, tenho dois livros de poesia publicados, inclusive o primeiro, “Centrifugação” (1999). Esse livro foi estimulado por Assuero. Numa de nossas “farras”, depois de algumas cervejas, peguei um guardanapo e escrevi o poema que deu o título ao livro. Ele viu, leu e gostou. Cheguei a inscrever o poema numa das edições do Concurso de Poesia Falada de Lagarto, ficando em sexto lugar. Dali em diante, fui escrevendo outros poemas e colecionando numa gaveta. Quando juntei uma boa quantidade, levei para ele e perguntei: e aí, merece uma publicação? No que me disse: claro que sim.
SÓ SERGIPE – Desta primeira publicação até agora, quantos livros já escreveu?
CLAUDEFRANKLIN MONTEIRO – Autorais, já se vão dez. Em coautoria, capítulos de livros, livros organizados, prefácios e apresentações, mais de cinquenta. Digo isso sem orgulho, mas com alegria. Tenho convicção de que Deus foi e tem sido muito generoso comigo, de modo particular como escritor: me proporcionando mais do que pedi e me permitindo mais do que mereço.
SÓ SERGIPE – Dentre eles, há algum que o senhor gosta mais?
CLAUDEFRANKLIN MONTEIRO – Sem sombra de dúvidas, como já disse “A santinha do Novo Horizonte” (2020).
SÓ SERGIPE – Seus livros já foram traduzidos para outros idiomas?
CLAUDEFRANKLIN MONTEIRO – Ainda não, mas há uma grande chance de sê-los. Refiro-me ao primeiro volume da biografia de Dom Mario Rino Sivieri, que divido com Anselmo Vital e Sérgio Botelho – “Servido de todos Padre Mario Rino Sivieri (1942-1979”), de 2022, a ser lançado oficialmente no dia 15 de abril de 2023.
SÓ SERGIPE – Como historiador e escritor, como o seu avalia o mercado de livros em Sergipe?
CLAUDEFRANKLIN MONTEIRO – Se eu fosse viver de livros estaria passando necessidade. As pessoas dão valor, nos admiram e nos aplaudem, mas ficam, em geral, esperando ganhar o livro. Não têm aquele hábito de ir aos lançamentos – coisa que não tenho feito mais, pelo menos os autorais -, e tampouco à livraria, com raríssimas exceções, claro. A distribuição é dispendiosa e não há estímulos privados nem governamentais, pelo menos como se deve. Boa parte de meus livros autorais foram bancados com meus próprios recursos. Graças a Deus, nunca tive prejuízo, conseguindo retornar o que investi.
SÓ SERGIPE – Os sergipanos prestigiam as obras dos escritores do Estado?
CLAUDEFRANKLIN MONTEIRO – Seria injusto se dissesse que não. Até que prestigiam. “Pela luz dos olhos teus” foi um exemplo disso. A repercussão foi incrível. Mas rola muita vaidade, inveja e malquerer, sentimentos com os quais aprendi a conviver depois que lancei meu segundo livro, “Nove contos” (2023). Por muito pouco, me aposentei por ali, como escritor. Senti de perto, pela primeira vez, a pequenez e a maldade humana. Mas, superei e segui fazendo o que gosto até hoje: lecionar e escrever. Tenho consciência que não agrado a alguns, mas dou mais atenção ao meu bem-estar, à minha saúde mental e espiritual e foco naqueles que nos amam, nos admiram e nos estimulam. Quanto aos que não perdem uma oportunidade de destilar seu veneno e tentar impor os efeitos de seus recalques, minha oração e gratidão. A gratidão em razão de buscas, aprender e melhorar com as críticas, mesmo as maldosas.
SÓ SERGIPE – Dizem que um bom escritor é, sem dúvida, um bom leitor. Quantos livros você lê por ano?
CLAUDERFRANKLIN MONTEIRO – Não sei precisar em números. Mas, são muitos. Geralmente, mais acadêmicos. Queria mesmo ter tempo de sobra para ler títulos da literatura brasileira e internacional.
SÓ SERGIPE – Com qual estilo literário você mais se identifica?
CLAUDEFRANKLIN MONTEIRO – Sou um livre pensador e por isso mesmo tenho dificuldade de me encaixar em estilos. Gosto muito de narrativas. Para mim, contar uma história é mais interessante do que se prender a teorias, que devem ser meios e não o fim ou uma camisa de força que, em geral, tolhe a criatividade.
SÓ SERGIPE – Quais suas referências entre os escritores brasileiros e estrangeiros?
CLAUDEFRANKLIN MONTEIRO – Sou muito fã de Vinícius de Morais. Desde menino, sou influenciado por seu estilo. Entre os estrangeiros, Moris West, J.J. Benítez e Ohan Pamuk.
SÓ SERGIPE – E na literatura sergipana?
CLAUDEFRANKLIN MONTEIRO – Luiz Antônio Barreto.
SÓ SERGIPE – Professor, a vida é um trio elétrico?
CLAUDEFRANKLIN MONTEIRO -Com certeza! Não é à toa que não quero ninguém triste em meu velório. Quero orações e alegria. E é assim que encaro a vida, como uma grande jornada, onde temos que aprender com os reveses e nunca, jamais, perder o viço de viver. A vida, como o Carnaval, é curta. E enquanto não for cinzas: “Alegria agora / Agora e amanhã / Alegria agora e depois / E depois e depois de amanhã” (Daniela Mercury).