sábado, 16/11/2024
Rita Lee
A irreverente Rita Lee, em seu refúgio Foto: Arquivo pessoal/Instagram

Intestino, o segundo cérebro

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Luiz Thadeu (*)

“Sou uma senhora de 75 anos, que ‘caga’ quase todas as manhãs. Uma senhora que ama café ao acordar. Não sou uma lenda, não quero ser uma lenda do rock. Foda-se Rita Lee, foda-se eu. Não dou a mínima, não projetem nada sobre mim. Sou uma senhorinha de 75 anos, curtindo seus últimos dias de vida, estou feliz com essa condição, é tão difícil aceitar isso?.”

Caro leitor, amiga leitora, peço desculpa por abrir a crônica de hoje de forma escatológica. Apenas reproduzo uma postagem recente da cantora Rita Lee, em suas redes sociais.

Rita Lee é a personificação da irreverência, bem sabemos. Não poderia ser diferente. Até para falar de seu infortúnio, Rita é original.

Há três anos tratando de um câncer de pulmão, reclusa em seu sítio no interior de São Paulo, na companhia do apaixonado e parceiro Roberto de Carvalho, Rita segue sua caminhada, brigando pela vida.

Cito Rita Lee para falar de um dos órgãos mais importante que temos dentro de nós, e que pouco falamos: o intestino. Pensar no intestino é também lembrar dos barulhos constrangedores ou cheiros desagradáveis, consequências que podem ser causadas por aquilo que comemos. Contudo, seu papel vai além da alimentação. O órgão é capaz de influenciar o humor, estresse, transtornos psicológicos e declínios cognitivos.

Recentemente li uma entrevista com a gastroenterologista alemã, Giulia Enders, autora do livro “O discreto charme do intestino”.

Sabe aquela dor de barriga em momentos de estresse ou ansiedade? O cérebro e o intestino se conectam por meio de uma íntima rede nervosa em uma comunicação que ocorre nos dois sentidos, explica Giulia Enders no livro.

“Um intestino que não se sente bem pode prejudicar nosso ânimo de maneira mais sutil, da mesma forma que um intestino saudável e bem nutrido pode melhorar ligeiramente nosso humor”, escreve Enders.

“Quando o ponto de partida é o intestino, os neurônios saem do trato gastrointestinal e chegam a áreas do cérebro responsáveis pelas emoções, pela memória e pela motivação”, diz a obra. Isso também justifica o aumento do risco de ansiedade e depressão entre aqueles que possuem diagnóstico de intolerâncias alimentares ou doenças intestinais, como a síndrome do intestino irritável.

Segundo a autora, “descobertas recentes consolidaram as ligações entre transtornos mentais e declínios cognitivos”.

“Agora nós temos estudos muito precisos ligando doença de Parkinson e depressão a mudanças nas bactérias no intestino”, afirma Giulia Enders.

A ciência já comprovou que a Helicobacter pylori, responsável pelas úlceras estomacais, é associada a uma maior probabilidade de desenvolvimento de Parkinson. O crescimento exagerado de bactérias ruins também pode comprometer a absorção de vitaminas, aumentar o risco de alterações metabólicas em indivíduos obesos e causar doenças inflamatórias intestinais.

Os tipos de estímulos enviados ao cérebro dependem da alimentação, mas o conjunto de microrganismos que vivem no intestino é mais determinante, diz a obra. Estudos mostram que a presença de algumas bactérias no órgão, como a família de Lactobacillus, podem diminuir a quantidade de hormônios do estresse no sangue e aumentar a capacidade de sono, aprendizado e memória.

Enders afirma que o consumo de alimentos prebióticos, que alimentam bactérias boas, como vegetais ou frutas, e alimentos fermentados, como chucrute, kefir e kombucha, são mais benéficos do que o consumo diário de probióticos, bactérias isoladas em laboratórios.

Desde criança ouço falar que cicrano ou beltrano é “enfezado”.

No dicionário, enfezado é um sujeito “tomado de raiva, irritado, irascível”, mas hoje sabemos que tem a ver com seu trato intestinal. Não fazer cocô regularmente, mexe com o humor.

Como sou simplista, enquanto eu estiver comendo, saboreando cada porção, e colocando para fora uma vez por dia, continuo com a alegria de viver.

Quanto à Rita Lee, na semana passada, deixou o hospital na capital paulista e voltou para seu refúgio. Sua assessoria anunciou que em maio, Rita lança sua segunda biografia, narrando a doença e o período pandêmico.

A ela, desejo saúde; que continue fazendo seu cocozinho todos os dias; que possa compor coisas maravilhosas que sua irreverência produz com maestria.

(*) Engenheiro agrônomo, palestrante, cronista e viajante. Autor do livro “Das muletas fiz asas”, o latino americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes.

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Sobre Luiz Thadeu Nunes

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Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e viajante: o homem mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes da terra. Autor do livro “Das muletas fiz asas”.  Membro do IHGM, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; ABLAC, Academia Barreirinhense de Letras, Artes e Ciências; ATHEAR, Academia Atheniense de Letras; e da AVL, Academia Vianense de Letras, membro da ABRASCI. E-mail: luiz.thadeu@uol.com.br

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