Estes dias acordei com a bonita mensagem, via WhatsApp, da querida Ana, que dizia: “Quão sortudos somos nós que podemos ver, andar, sentir e não sofrer de nenhuma doença terminal. Quão sortudo somos nós que não mendigamos para comer e temos um teto sob qual dormimos. Não temos idéia de como somos abençoados”.
Ana é um exemplo de superação, de resiliência. Nascida no nordeste brasileiro, no árido sertão cearense, especialista em perrengues, desde cedo aprendeu a conviver com o pouco, mas nunca se lamuriou. Boa nordestina, fez dos limões ótimas limonadas, que bebeu, como caipirinha, nos lugares mais fascinantes da terra. Viajada, educou os olhos para o belo, e fez do tempo um aliado. Desenvolveu a sabedoria, se adaptou ao que não pode mudar, e corrigiu o rumo de tudo que a incomodava. Sua companhia é um bálsamo. Muitas risadas de situações inusitadas.
Conheci Ana Brown – o sobrenome é do último marido – em uma viagem a Melbourne, Austrália. Em 2015, na primeira vez que visitei aquele fascinante e surpreendente país longínquo, encontrei Ana, na casa de amigos brasileiros. Logo nos conectamos. Tínhamos tantas coisas em comum, que a conversa rendeu outro encontro, antes de tomar o voo que me levaria para Auckland, Nova Zelândia.
Compartilhei a mensagem de Ana com amigos, alguns contumazes reclamões. Caro leitor, amiga leitora, você já percebeu como tem pessoas que têm um problema para cada solução. Nunca, em nenhuma época ou estação do ano estão satisfeitos. Estou cercado de gente assim. Olho, penso com meus botões: “Oh! Coitados”. São pessoas que estão perdendo o que a vida tem de melhor.
No domingo, Dia das Mães, em uma matéria da Folha de São Paulo, li a história de Patrícia Pontes, 39 anos, residente em São José dos Campos, SP.
Patrícia já era mãe de uma garota de sete anos quando engravidou de quadrigêmeos, em uma fertilização in vitro. Após o parto prematuro, os quatro nasceram de sete meses. Patrícia conta ter notado algo diferente com os quadrigêmeos. Eles não sentavam e nem andavam. Após exames, o diagnóstico: os quatro tinham paralisia cerebral.
“Nunca procurei saber o motivo da paralisia. Não faz sentido para mim. Nossa realidade continua a mesma e o amor sempre irá prevalecer. Diagnóstico não é destino e sempre vou procurar os melhores tratamentos para eles”. Foi a melhor história que li esses dias sobre o amor incondicional de mãe. Mãe é onde a vida começa e o amor nunca acaba. Sublimes, as mães são representante de DEUS na terra. O companheiro de Patrícia e pai dos quadrigêmeos a abandonou, e ela se reinventou. Tristes os homens que não evoluíram.
O dia a dia na casa da família é agitado. Os quadrigêmeos, que estão com nove anos, estudam em uma escola municipal, durante as tardes, quando Patrícia aproveita para trabalhar. Ela é influencer, ganha o suficiente para bancar a casa.
Com novo namorado, Patrícia se diz completa como mãe e como mulher. “Acho que todo mundo imagina, quando se fala de ‘mãe de quadrigêmeos’, que é uma mãe acabada, cansada, que não se cuida”. Ledo engano, Patrícia é linda, bem cuidada, disposta, e incentiva outras mães de filhos especiais. Viva Patrícia. Viva as mulheres.
A vida por si só já é um presente, e como tal deve ser aproveitada todos os dias até o final. A vida é dádiva. As verdadeiras maravilhas da vida são: poder ver, poder ouvir, poder tocar, poder provar, poder sentir, poder rir, poder amar.
Se você, caro leitor, amiga leitora, tem tudo isso, tenha gratidão. Você descobriu o significado de riqueza. Rico é quem dá valor às pequena coisas.
“Ter problemas na vida é inevitável, abater-se por eles é opcional”, meu slogan de vida. “Todo dia com sua agonia”, diz minha psicóloga Rita de Cássia.
Ao acordar, faço uma oração de agradecimento ao bom e maravilhoso DEUS por me conceder mais um dia de vida, e peço coragem para enfrentar o que vem pela frente com seus mistérios e surpresas.
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(*) Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e viajante. Autor do livro “Das muletas fiz asas”, o latino americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes.