Em recente almoço com amigos – só homens que se conhecem de longas datas; uns casados, outros divorciadas e um solteiro convicto -, um dos comensais perguntou: “Qual de vocês ainda beija na boca da mulher?”, em seguida fez uma ressalva, “não vale beijar a amante”. Todos caíram na risada.
Conheço casais que mal se tocam, não há mais contato físico, e assim convivem por anos a fio. Beijar na boca, nem pensar. Com o tempo os sentimentos vão mudando, e os casais vão se acostumando a viver juntos; mesmo dividindo a mesma cama, há um apartheid de corpos.
Li recentemente uma matéria sobre a origem do beijo na boca. Em que momento da história os humanos começaram a se beijar nos lábios?
Beijar na boca é um ato tão natural e comum em várias sociedades atuais que é facilmente banalizado. Mas, na verdade, segundo a matéria, “não está claro se as pessoas sempre se beijaram ou se isso só começou a acontecer em um passado relativamente recente”.
O fato é que a história e os motivos do beijo são mais complexos do que se poderia imaginar.
Em artigo publicado na revista científica Science, foram analisados quantidades significativas de evidências negligenciadas que desafiam as crenças atuais de que o primeiro registro de beijo romântico-sexual aconteceu na Índia, por volta de 1500 a.C.
Antropólogos evolucionistas sugeriram que o beijo na boca evoluiu para avaliar a adequação de um parceiro em potencial, por meio de sinais químicos transmitidos na saliva ou na respiração.
Outros propósitos sugeridos para o beijo incluem provocar sentimentos de apego e facilitar a excitação sexual.
O beijo na boca também é observado entre nossos parentes vivos mais próximos, os chimpanzés e bonobos. Isso sugere que o comportamento pode ser muito mais antigo do que as primeiras evidências atuais em humanos.
A população na antiga Mesopotâmia pode ter inventado a escrita, embora sua invenção no antigo Egito também tenha sido mais ou menos contemporânea.
A escritura mesopotâmica mais antiga é de cerca de 3.200 a.C., da cidade de Uruk, agora no sul do Iraque. Essa escrita, chamada cuneiforme, era inscrita em tabuletas de argila úmida com o auxílio de estiletes de bambu em forma de cunha. Há registro de beijos dessa época.
Quando garoto, em férias escolares, em Rosário, na casa dos meus avós maternos, curioso, perguntei para minha avó Maria do Carmo, se ela beijava meu avô na boca, pois eu não via. Assim como nunca vi meu pai beijando minha mãe.
Ela me disse, rubra que na época dela “não tinha essas safadezas”. “De onde tu tiraste isso? Vai brincar, menino”. Ao ler a matéria científica fiquei na dúvida se me minha avó mentiu ou se beijava às escondidas. Uma coisa é certa, meus avós, com beijo ou sem beijo, fizeram onze filhos: quatro mulheres, sete homens.
Voltando à história, “Em um dos exemplos mais antigos, descrito no chamado Cilindro de Barton, um artefato de argila da Mesopotâmia com inscrições cuneiformes, diz-se que duas divindades tiveram relações sexuais e se beijaram: “… com a deusa Ninhursag, ele teve relações sexuais. Ele a beijou. E preencheu seu ventre com o sêmen de sete gêmeos”.
Fontes posteriores, como provérbios, um diálogo erótico entre um homem e uma mulher e um texto jurídico, dão a impressão geral de que beijar no contexto do sexo, da família e da amizade era provavelmente uma parte comum da vida cotidiana em áreas centrais do antigo Oriente Médio, do final do terceiro milênio antes de Cristo em diante.
Algumas das fontes mais antigas que mencionam o beijo na boca podem ser encontradas em textos mitológicos sobre atos dos deuses que datam de aproximadamente 2.500 a.C.
Mas como diz uma querida amiga, que não entende nada de história, “Não sei como começou essa história de beijo na boca, mas sei quando parei, foi logo após o casamento.” Por isso a pergunta do meu amigo, “quem continuava casado e beijando a mulher na boca?”.
O Dia dos Namorados, foi criado em 12 de junho de 1949 pelo publicitário João Agripino Doria, pai do ex-governador João Doria Jr, para incentivar as vendas no comércio. É a terceira data de maior vendas do comércio.
Beijar faz bem, também é um ótimo exercício! Durante o ato, cerca de 29 músculos são movimentados constantemente, trabalhamos cinco nervos e eliminamos de 12 a 18 calorias!
E como canta a arretada baiana Cláudia Leite:
“Eu quero mais é beijar na boca
Eu quero mais é beijar na boca, eu quero mais
Eu quero mais é beijar na boca
E ser feliz daqui pra frente, pra sempre”.
Neste Dia dos Namorados, 12 de junho, desejo a todos muitos calientes beijos na boca.
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(*) Eng. Agrônomo, palestrante, cronista e viajante: o latino americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes da terra, autor do livro “Das muletas fiz asas”.
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