O maneiro Pessoa afirmava que é necessário se ter “duas dúvidas por minuto e aprender, pelo menos, duas coisas por dia!”. Parece um absurdo, mas, não o é.
Trocentas observações acontecem, ininterruptamente, pelo cérebro humano para que se escolha uma e esta seja crucial para uma tomada de decisão ou arquivada para futuras atitudes.
Aquelas observações aprendidas não serão esquecidas e farão parte de um repertório, de um cabedal de conhecimentos a ser utilizado nas atitudes frustradas, arrependidas.
Arrependimento, portanto, é uma descoberta de uma ação pessoal passada, realizada em certas circunstâncias que se mostrou equivocada no presente.
Não se deve confundir arrependimento com remorso. Enquanto aquele tem origem numa tomada de decisão voltada para um resultado proficiente, este, deliberadamente, consubstancia-se em um prejuízo para si ou para outrem e tem consequências mórbidas.
O homem ao se descobrir arrependido, identifica, de imediato, um desvio na rota de vida traçada por ele mesmo e passa a ter atitudes para retornar ao seu plano de viagem imaginado anteriormente. Aqui, não se quer coibir as correções de rota, ao contrário, um arrependimento eficaz conduz a outros mais, haja vista, que a cada instante se toma decisões pessoais, corretas ou não, fruto da utilização do sagrado direito divino do livre arbítrio.
Ao se falar em livre arbítrio, fala-se na liberdade que o homem tem de fazer o que quiser ao alcance do seu tirocínio, sem olvidar das correlatas consequências. A cada instante, o homem depara-se com infinitas possibilidades de ações e ele escolhe apenas uma.
Não podemos mudar o passado, mas podemos construir um lindo futuro. Para isso, devemos ouvir mais, agir mais e usar o diálogo com sabedoria, como a nossa principal arma no presente. (Lenilson Xavier).
Não se pode confundir, realmente, o arrependimento com o remorso. Arrependimento é uma virtude e o remorso é um vício que merece um incessante combate.
O arrependimento é inerente à natureza dos homens de boa vontade, imperfeitos em busca de sua perfeição, britas querendo ser seixos rolados.
Todo aquele que compreende o arrependimento, revela-se um otimista, um caçador de conhecimentos, um sábio, um bem-resolvido, um homem feliz.
A pessoa arrependida deve irradiar o seu arrependimento, tornando-o invulgar e pedagógico, contribuindo assim, pela qualidade do indivíduo.
O remorso é característica das pessoas inescrupulosas, perversas, dissimuladas, mal-humoradas, arrogantes, preconceituosas, deterministas, desnorteadas e infelizes.
Que se tenha em mente que o erro e o acerto fazem parte do mesmo processo de aprendizagem, do exercício de generosidade mental, coerência ética e humildade intelectual como bem define o Mário Cortella:
Ensinar o que se sabe, praticar o que se ensina e perguntar o que se ignora.
Por tudo isso, não se deve temer o reconhecimento de um erro, ele liberta e ajuda no conhecimento da verdade, principal caminho para a felicidade pessoal e de entes próximos, contribuindo para uma sociedade justa e perfeita.
Aquele maneiro Pessoa do início já percebera que até para as coisas que se aprende diariamente, cabe arrependimento, mudança na aplicabilidade, assim, formando base para a construção do processo cognitivo humano.
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(*) Engenheiro aposentado, otimista, pensador e agente de mudança.