Por Luiz Thadeu Nunes e Silva (*)
Estive no Rio de Janeiro na semana passada. Fui para as bodas de Frederico, meu segundo filho, que escolheu a Cidade Maravilhosa como cenário de seu enlace com Isadora.
Encontrei com os amigos Teresa Teles e Pedro Henrique, no final da tarde, no dia da chegada. Todos açambarcados em seus afazeres, mas gentis e generosamente deixaram seus compromissos, e se encontraram comigo para um café, próximo ao hotel em que me hospedava, em Botafogo. Conversa boa, pra lá de metro, como dizia minha saudosa mãe Dinha.
Teresa, colega dos bancos escolares do Colégio Batista, amiga de longas e de diferentes fases da vida. Sempre atenciosa; privar de sua atenção e amizade é um privilégio de poucos. Pedro, era a primeira vez que o via pessoalmente; já nos conhecíamos através de amigos comuns, que fizeram a ponte. Pedro e eu somos missivistas, escrevemos cartas para jornais. Já tínhamos nos encontrado nas páginas de OGlobo, tradicional periódico carioca, e no Jornal Pequeno, de São Luís, onde publicamos crônicas e artigos semanalmente. Conhecê-lo pessoalmente foi como se já nos conhecêssemos desde 1958, ano em que nascemos. Ele em Cururupu; eu, na Ilha do Amor.
No primeiro encontro, Pedro presenteou-me com o livro “Recortes”, que será lançado no dia 28 de agosto próximo, na Books Livraria, Botafogo, Rio.
Gostei do título “Recortes”, lembra fragmentos, que no caso do autor, são pequenas narrativas de nossa rica História de tempos idos.
Tive o privilégio de caminhar pelo centro antigo do Rio, em um mergulho na bela arquitetura de séculos passados, que exala histórias/estórias de nosso Brasil.
Combinei com Pedro que nos encontraríamos no largo da Carioca. Encontrei-o na saída do metrô que dá acesso à avenida Rio Branco. Caminhando sobre pedras portuguesas, que recobrem as calçadas do centro do Rio. Fomos para a rua Luís de Camões. Nossa primeira parada foi no prédio do Real Gabinete Português de Leitura. O imponente prédio, construído em 1880, levou dez anos para ser concluído. Tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural, tem um acervo de 350 mil obras. Uma das mais imponentes bibliotecas do mundo. De beleza inigualável, respirar o frescor dos livros é um bálsamo, cercado de histórias por todos os lados. Além da beleza arquitetônica, esse lugar é de extrema importância para o Brasil. Lá está preservada grande parte da história entre Brasil e Portugal.
Em suas cercanias visitamos os Sebos -que teimosamente resistem ao tempo; verdadeiros guardiões de memórias. Para os que gostam de garimpar preciosidades, é um achado. Comprei um punhado de livros, para a biblioteca comunitária que estou montando.
Caminhamos pelas estreitas ruas do comércio, a famosa SAARA, Sociedade de Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega. O Saara ganhou o título de maior shopping a céu aberto da América Latina. Com lojas de rua que atendem a todos os segmentos, de brinquedos infantis a itens de decoração; passeio obrigatório para quem gosta de quinquilharias como eu.
Ao todo, são 12 ruas que compõem o Saara, com mais de 900 lojas. Vale lembrar que a região fica no Centro Histórico da cidade e mantém a arquitetura original preservada.
Aproveitamos para almoçar no restaurante Sírio e Libanês, de tradicional comida árabe, na rua Senhor dos Passos nº 217. Antigamente, quando em idas ao Rio, a convite de meu saudoso tio Francisco Aragão, almoçava no Cedro do Líbano, na rua Senhor dos Passos nº 231. O restaurante fechou as portas após 73 anos, durante a pandemia do coronavírus.
Caminhar na companhia do escritor Pedro Henrique é como estar acompanhado de um manual do Rio no início do século XX, quando o Rio era a capital federal e cultural do país, e ditava a moda e os costumes do Brasil. Cada rua, cada esquina é entremeada de lembranças que Pedro tão bem conhece. Embora seja médico por formação, e se auto intitule escritor e historiador por puro diletantismo, Pedro é antes de tudo um memorialista – espécie em extinção. E dos bons. Um guardião da memória desse rico período da história brasileira. Pedro Henrique resgata o Maranhão, com seus intelectuais e homens das letras, que marcaram época nos tempos áureos do Rio de Janeiro.
Terminamos o passeio em uma concorrida mesa preta com cadeira de palhinha, na Confeitaria Colombo, na rua Gonçalves Dias. A centenária Colombo, fundado em 1894, continua como templo da gastronomia carioca.
Ler “Recortes”, já de volta à Ilha do Amor, meu chão preferido, é sorver cada detalhe da cidade que deixei para trás. Como escreveu sua amiga Lílian Maial, que prefaciou o livro, “Pedro mergulha no passado, revivendo sua infância, trazendo-nos imagens vívidas de uma cidade desde seu nascedouro, ao mesmo tempo que passeia pelo Rio de Janeiro dos vestidos farfalhantes, das belezas naturais e da sífilis, da falta de saneamento e das questões políticas”. Ao caminhar ao lado do escritor e personagem desse Rio, que continua lindo e rico em histórias, foi um mergulho na história.