Por Charles Albuquerque (*)
Hoje, vamos falar sobre a sudorese excessiva.
Esse problema que incomoda muita gente é conhecido na medicina como hiperidrose.
E quando esse excesso de suor está acompanhado de mal odor, o problema passa a ser chamado de bromidrose. Este último termo deriva do fato de, algumas vezes, essa secreção odorífera também produz cor escura, marrom ou esverdeada.
Vamos falar, genericamente, da hiperidrose, com ou sem odor, que afeta mais frequentemente as mãos (hiperidrose palmar), os pés (hiperidrose plantar) e as axilas. Esse quadro inicia-se normalmente na puberdade ou ainda mesmo na infância.
Um detalhe importante que todos os pais devem saber: quando a hiperidrose se inicia, precocemente, entre os cinco e os nove anos de idade, pode ser um indicador de puberdade precoce, principalmente, se acompanhada do surgimento de pelos axilares ou pubianos (na região genital) e, nesses casos, é prudente uma consulta à pediatria ou à endocrinologia para uma melhor orientação.
A hiperidrose, com ou sem bromidrose, ocorre com mais frequência nas pessoas da etnia negra e nos seus descendentes (quase todos brasileiros pardos, como eu), seguidos das pessoas de etnia branca. Por outro lado, os asiáticos e descendentes são os que menos frequentemente apresentam bromidrose segundo a literatura. A bromidrose plantar isolada é mais frequente em homens jovens e adultos de meia idade seguidos das crianças.
Ao contrário do que muita gente pensa, a má higiene não é a causa do mal odor plantar. Embora a sujeira possa favorecer a proliferação de bactérias nos pés ou no corpo, a causa fundamental da bromidrose está assentada na genética do indivíduo.
Esse odor surge da metabolização das secreções sebáceas e dos aminoácidos produzidos pelo corpo. Essa metabolização é feita pela flora bacteriana da pele. Tanto as características dos aminoácidos e dos lipídeos produzidos pelo corpo quanto o tipo de flora sobrevivente na pele são influenciados pelas características genéticas do indivíduo. O mal odor axilar ou plantar surge dos gases liberados nessa metabolização celular.
Entretanto, convém lembrar que esse mal odor pode melhorar ou piorar com influências do meio ambiente, por exemplo, alguns alimentos e outros fatores externos podem favorecer o mal odor.
Baseado nesse conhecimento, se você tem hiperidrose e está numa fase de produção excessiva de suor pode ajudar a reduzir a produção de mal odor se você evitar a ingestão de ovos, peixes, fígado, rim e alimentos muito condimentados, principalmente com alho. Algumas medicações como amitriptilina, carbidopa, retinóides e zidovudina também podem aumentar o mal odor axilar.
O que se pode fazer para controlar o mal odor axilar?
Hoje, a orientação médica está centrada em dois pontos: reduzir a umidade local e controlar a flora bacteriana normal do indivíduo. Para isso, são sugeridas as seguintes condutas:
- lavar a área afetada 2 a 3 vezes ao dia com sabonetes antissépticos;
- secar bem a pele após os banhos;
- trocar diariamente as roupas e as meias;
- evitar deixar meias dentro dos sapatos;
- evitar guardar roupas e meias usadas para usar mais tarde ou noutro dia;
- colocar as roupas para secar ao sol por pelo menos 2 horas;
- evitar o uso de tecidos sintéticos;
- preferir os tecidos de rayon, algodão, seda ou linho (chique, não?);
- evitar longos períodos de sede, logo, manter sempre uma boa hidratação oral.
Além dessas orientações, a conduta médica pode prescrever fórmulas em talcos, spray ou cremes, contendo substâncias que ajudam a inibir a sudorese e a equilibrar a flora bacteriana local.
Nos quadros de hiperidrose palmar ou plantar excessiva pode-se optar pela aplicação da toxina botulínica, capaz de controlar a sudorese excessiva por um período de seis a doze meses no máximo.
E nos quadros de hiperidrose grave que chegam a constranger socialmente ou atrapalhar o desempenho profissional existe uma opção mais radical que é a simpatectomia.
A simpatectomia é uma cirurgia feita por especialista em cirurgia torácica através de quatro pequenos cortes, dois de cada lado do tórax. Por meio da técnica de videotoracoscopia, o cirurgião consegue bloquear uma parte do principal nervo (um nervo do sistema simpático) responsável pelo estímulo da sudorese e, com isso, as glândulas sudoríparas que trabalhavam excessivamente param de trabalhar e de produzir excesso de suor.
Quando lembramos que, à flor da pele, toda gota de suor tem um significado, descobrimos porque a sudorese excessiva incomoda tanto, afinal, ninguém quer sair perdendo significado por aí.
Espero que você tenha gostado e tire o melhor proveito dessas informações. Afinal, viver à flor da pele não é uma opção, é uma condição, suada ou não!
Nota de curiosidade:
O livro “O Dote de Letícia” tem 95.308 palavras em 320 páginas e a palavra SUOR aparece apenas uma vez em todo o livro. Confira:
“…Nesse aspecto, pouca coisa mudou, pois o Estado, quando não cumpre seu papel social, torna-se senhor feudal; e a súdita sociedade trabalha para lhe pagar metade do suor em impostos….” (Trecho de O Dote de Letícia – Pág. 111)
Um grande abraço.