sábado, 16/11/2024
Vista do Pão de Açúcar com o bairro de Botafogo Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Quase perdido no Rio de Janeiro

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Luiz Thadeu Nunes e Silva (*)

 

Estive no Rio na semana passada, fui a trabalho, para um congresso de Agentes de Viagem. Desembarquei na Cidade Maravilhosa sob um calor escaldante. Na semana que os meteorologistas diziam ser a mais quente do século. Mesmo sendo nordestino não gosto de calor.

Hospedado na Barra, pedi um Uber para me conduzir até o RioCentro onde estava acontecendo o evento da ABAV.

Não demorou o motorista de aplicativo chegou. Como bom carioca, me cumprimentou, confirmou meu nome e seguiu destino. Senhor de meia idade, cabelos brancos, gago.

Conversador, no trajeto até o RioCentro foi falando empolgado das belezas do Rio. Pergunta de onde sou, fala que saiu uma única vez do Rio, foi para Salvador, Bahia.

Digo que sou do Maranhão; como sempre faço, pergunto qual a capital do Maranhão. Quase sempre as pessoas erram.

-Agora o senhor me pegou.

-É Piauí.

-Não.

-Moço, não sou muito bom de geografia. Vou chutar novamente, é Aracaju?

-Não, a capital do Maranhão é São Luís.

-Aprendi hoje, a capital do Maranhão é São Luís. Lembrei, a terra do Sarney.

Falou que gostou do Nordeste. Contou sua rotina. Divorciado, mora só, no subúrbio; que dirige das seis da manhã às três da tarde. Volta para casa para dormir. Tem dois cachorros, seus verdadeiros amigos. Fala animado do amor e da fidelidade dos cães por ele.

-Meus cachorros gostam mais de mim do que todas as mulheres que já tive.

-Mulher é coisa boa, mas dá trabalho.

-O senhor é casado?

-Sou, há 40 anos.

-Muito tempo, diz ele me olhando incrédulo, como se estivesse diante de um ET.

Diz que o carro é financiado, que por enquanto é do Santander.

Na última separação teve que vender o carro, dar a parte da companheira, e com a parte que lhe coube deu entrada no carro que conduz.

De repente, ele solta um “ixe!”

-Tudo bem, amigo? Pergunto.

-O senhor tem tempo?

-Sim, o que aconteceu?

-O Wazer está me mandando para um lugar estranho. Errou a rota.

-Como assim?

-Nós estamos indo na estrada que dá na Cidade de Deus.

Pensei com meus botões, agora lascou.

Ele olhou pra mim, deve ter lido meus pensamentos.

-Não se preocupe, nesta hora da manhã, e ainda chovendo, os “meninos de Deus” estão dormindo. Eles só “trabalham” mais tarde. Não foi preciso entrar na comunidade.

-Aqui é a entrada da Cidade de Deus, mostrou-me refazendo o caminho.

Lembro do filme de mesmo nome dos diretores Fernando Meirelles e Kátia Lund, baseado no livro de Paulo Lins.

“Cidade de Deus” foi lançado em 2002 e chegou a ser indicado ao Oscar de melhor direção em Hollywood.

O GPS refez o caminho, retornamos para o trajeto que nos levou até o RioCentro. Cheguei sã e salvo.

Na minha próxima ida ao Rio quero “subir” em uma comunidade.

Afinal de contas, para um cabra que abre a boca para se gabar que já visitou 151 países em todos os continentes, não conhecer uma comunidade carioca, mundialmente famosa, não conhece o Rio, não conhece o Brasil, não conhece é nada.

Viva o Rio, viva a irreverência dos cariocas, viva o Brasil.

 

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Sobre Luiz Thadeu Nunes

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Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e viajante: o homem mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes da terra. Autor do livro “Das muletas fiz asas”.  Membro do IHGM, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; ABLAC, Academia Barreirinhense de Letras, Artes e Ciências; ATHEAR, Academia Atheniense de Letras; e da AVL, Academia Vianense de Letras, membro da ABRASCI. E-mail: luiz.thadeu@uol.com.br

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