quinta-feira, 14/11/2024
verdade

A relatividade das coisas

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Por Luiz Thadeu Nunes e Silva (*)

 

Sou o tipo do cara que gosta de algumas palavras, e não gosta de outras; tem algumas que chego a implicar. Às vezes pela sonoridade, outras pela grafia, ou mesmo pelo uso que acho inadequado.

serenidade, sabedoria, paciência, alegria, mansidão, saudadeCom o avanço da idade, faço uso constante de algumas palavras que não saem do meu vocabulário. Exemplos: serenidade, sabedoria, paciência, alegria, mansidão, saudade.

Mas, se tem uma palavra que gosto muito é a “relatividade”. Amo essa palavra! Desde sempre, quando alguém me pede uma opinião, eu respondo simplesmente “é relativo”.

Nem sempre a palavra “relatividade” fez parte do meu vocabulário. Mas, desde que entendi que tudo na vida não é pão-pão, queijo-queijo, depende do ponto de vista de quem olha, ela entrou para o rol das palavras que mais uso.

Porque sempre tem uma outra pessoa com uma outra opinião completamente diferente daquela e eu preciso ouvir os dois lados pra, daí então, conseguir formar uma opinião minha. Se a pessoa quer fazer as coisas de uma determinada maneira para mim está ótimo – “se você gosta assim, também é bom pra mim” – porque não tem certo nem errado: tudo é relativo!

Então não me chamem para apartar briga porque eu vou dar razão pros dois lados; entendo que cada um tem a sua própria razão pra ter aquele ponto de vista. Tudo na vida é muito relativo porque depende da perspectiva que você está olhando.

E tudo é tão relativo mesmo… Em outros tempos cheguei a acreditar em tantas coisas que hoje não acredito mais, e passei a acreditar em outras que antes não tinham o menor sentido para mim. Até a minha visão de pecado, de céu e inferno mudou com o tempo. O que mudou? O meu olhar, a maneira que passei a enxergar as coisas.

O bom de quem envelhece é saber que não somos donos de nenhuma verdade. Não há nada mais chato do que ser dono de verdades.

Viver é se adaptar constantemente às novas situações que a vida nos apresenta. Tudo muda tão rápido, e quem ficou preso às verdades, ficou pra trás. Na semana passada, em quarto de hotel em Shangai, China, assisti, via internet, à entrevista da atriz Fernanda Torres no programa Roda Viva na TV Cultura, SP. Ela como sempre dá show. Fernanda tem 58 anos, e ao ser perguntada como estava enfrentando o envelhecer, disse: “A idade é uma beleza, você fica um cara mais consequente, ‘caga’ menos regras, você tem menos certeza das coisas”. E, citando Nelson Rodrigues: “Jovens, envelheçam”, e concluiu dizendo que “com a velhice tudo fica mais relativo”.

Para falar a verdade, aos 65 anos, onde me encontro, cada vez mais entendo menos da vida. Só peço sabedoria e paciência para me adaptar às coisas que não posso mudar. E, parafraseando Viktor Frankl, neurologista austríaco, fundador da escola Logoterapia: “Quando a circunstância é boa, devemos desfrutá-la; quando não é favorável devemos transformá-la, e quando não pode ser transformada, devemos transformar a nós mesmos”.

Eu que sempre tive opinião formada sobre tudo; hoje, no outono da vida, meu desafio é não ser um velho chato, dono da verdade, sempre pronto a corrigir os outros. Ainda tenho muito a aprender com a vida.

 

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Sobre Luiz Thadeu Nunes

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Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e viajante: o homem mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes da terra. Autor do livro “Das muletas fiz asas”.  Membro do IHGM, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; ABLAC, Academia Barreirinhense de Letras, Artes e Ciências; ATHEAR, Academia Atheniense de Letras; e da AVL, Academia Vianense de Letras, membro da ABRASCI. E-mail: luiz.thadeu@uol.com.br

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