Por Luiz Thadeu Nunes (*)
Ela nasceu em uma manhã chuvosa de sexta-feira em 23 de março de 1934, na primeira metade do século passado, em Viana, Maranhão.
Partiu jovem, aos 43 anos. O coração parou em uma madrugada, enquanto dormia, em 02 de novembro de 1976.
Neste 23 de março, caso ainda estivesse aqui, minha mãe completaria 90 anos.
Alguém já disse que as mães não deveriam morrer. Quando uma mãe parte, todos ficam órfãos. As mães povoam o mundo com seus ventres, e o sustentam com seu amor. Não há nada mais sublime na terra que amor de mãe. Amor de mãe é incondicional, supera tudo. Quando um filho está doente, quem não se afasta da cabeceira da cama é ela – a mãe. Quando o filho é preso, todos podem abandoná-lo, menos a mãe. É amor genuíno. Quando a mãe perde um filho, ela morre junto.
Tive o privilégio de conviver com minha mãe por dezessete anos, onze meses e doze dias. Que mãe maravilhosa Deus me deu. Mulher forte, decidida, lutadora, trabalhadora. Era empoderada, quando o termo não constava nos dicionários.
Com seis filhos para criar, trabalhava os três turnos. Ela nos deu amor, nos educou, vestiu, alimentou, nos deu o melhor que podia. Nada nos faltou. Com o pouco que tinha fez a multiplicação dos pães e peixes. Coisa que só as mulheres sabem fazer.
Minha mãe era professora primária, lecionava em três lugares diferentes. Quando vejo mulheres se queixarem que estão exaustas, exauridas com o que fazem, penso: isso é muito pouco perto do que minha mãe fazia. Assim, admiro-a, hoje, ainda mais.
No início da década de 70, fez faculdade de Educação, e mesmo com sua jornada puxada, e seis filhos pequenos para cuidar, concluiu o curso.
Dizem que a passagem do tempo ajuda a aplacar a saudade. Permita-me divergir, amigo leitor, querida leitora. A passagem do tempo avivou em mim a saudade.
Quantas coisas maravilhosas não foram vividas, com sua precoce partida. Ela não acompanhou minha entrada na faculdade de Agronomia e formatura. Não conheceu minhas namoradas, nem a mulher que escolhi para dividir minha única vida.
Não conheceu seus netos, Rodrigo e Frederico, que certamente adorariam tê-la como avó. Não acompanhou minha trajetória. Não soube do acidente que quase ceifou minha vida. Seguramente estaria na cabeceira dos leitos hospitalares, por onde passei, incentivando-me a seguir firme pela vida. Quantas orações e promessas ela teria feito pela minha recuperação.
Não a vi criar meus irmãos, se aposentar, envelhecer.
Ela não viu minhas andanças pelo mundo, a conquista de cada etapa, as viagens para lugares cada vez mais longínquos. Estaria preocupada, receosa de que algo de mau acontecesse com o filho dela. Ficaria com o coração apertado. Hoje, com as redes sociais, se comunicaria comigo em todos os quadrantes da terra. Não soube que me tornei escritor, lancei livro, que escrevo para jornais de todo o Brasil. Certamente estaria feliz. Ficaria orgulhosa em saber que me tornei um homem destemido, que dominou o medo para alcançar seus objetivos. Contente em ver que aprendi, com seus ensinamentos, a lidar com dinheiro; quantas lições: “Primeiro ganhe para depois gastar”, sigo à risca. “Não coloca teu braço onde não alcança”, “Com dinheiro não se brinca”. “De onde se tira e não se coloca, acaba”. Conselhos mais do que atuais.
“Não te empolgas com o muito, não te abates com o pouco.” “Tudo passa: o bom e o ruim.” “Tenha equilíbrio e sabedoria diante das adversidades”, dizia ela. Mulher espiritualizada: “Nunca perde a fé em Deus, ele nos conhece melhor do que nós; sabe do que precisamos”. “Estuda, o conhecimento abre portas.” “Leia muito, nunca deixa de aprender”, lições atemporais que passei para Rodrigo e Frederico.
Ela me ensinou a ser forte, apesar de sua ausência. Tive que me reinventar para continuar na caminhada. Como um anjo torto sigo teimoso pela vida, mas a carência de mãe nunca passa. Quando o mundo encrespa, quando tudo fica toldado é de minha mãe que primeiro lembro. Como seria bom tê-la por perto. Quanto carinho, amor e atenção deixei de receber com sua precoce partida.
Quantas coisas boas deixamos de viver juntos. No crepúsculo da vida, continuo órfão do teu amor, querida mãe. Obrigado, Maria da Conceição Nunes e Silva, você foi maravilhosa. Só poderias ter nascido em março, mês em que se celebra o Dia Internacional da Mulher. Minha mãe, saudades…