Por Emerson Sousa (*)
Se você tiver a oportunidade de algum dia ler um livro de Microeconomia – não é chato, pode crer! – você vai ver que a existência de uma verdadeira concorrência entre as empresas pede alguns requisitos para existir.
Pede que o mercado seja composto por uma miríade de ofertantes e demandantes que possuem uma ínfima participação no total de transações e que não têm poder algum de, sozinho, afetar os preços vigentes, ou seja, que o mercado seja atomizado.
Pede também que todos os participantes – vendedores e consumidores – detenham os mesmos níveis de conhecimento sobre o que está sendo negociado e que eles possuam o mesmo poder de barganha, ou seja, que os agentes sejam simétricos.
Pede que os itens comercializados sejam iguais e que tenham as mesmas condições de venda em qualquer que seja o lugar, aqui ou ali, lá ou acolá, ou seja, que os itens sejam homogêneos.
Pede, por fim, que qualquer um que queira vender ou comprar o possa fazer na hora que lhe der na telha, ou seja, que seja um mercado livre de barreiras.
Então, você já percebeu, não foi?
Não existem mercados verdadeiramente concorrenciais no Capitalismo!
Isso porque, nos dias atuais, o Capitalismo somente consegue organizar o circuito produtivo – da fase de alocação até à acumulação – a partir dos Oligopólios.
Eu sei que você já sabe, mas eu vou repetir o que é um Oligopólio:
Oligopólio é um tipo de estrutura de mercado em que um pequeno número de empresas domina a produção e venda de um determinado bem ou serviço e que atende a uma imensidão de consumidores.
Nesse mercado, há uma interdependência entre as empresas, o que significa que as ações de uma empresa têm impacto nas outras empresas do mercado.
Os oligopólios podem surgir em vários setores da economia, como telecomunicações (Vivo, Claro, Netflix, Prime, Google), automobilístico (VW, Fiat, GM), indústria farmacêutica (Pfizer, Roche, J & J) e de alimentos (Bunge, Cargill, Monsanto).
Devido à sua concentração de mercado, as empresas oligopolistas têm uma grande influência sobre os preços e a produção, o que pode resultar em práticas de fixação de preços, diferenciação de produtos e barreiras à entrada para novas empresas.
Ao invés de estabelecerem uma verdadeira concorrência, que resultaria numa queda dos preços praticados, essas firmas apenas se coordenam para que elas disputem os mercados num formato em que suas lucratividades não decaiam de um dado nível por elas tacitamente fixados.
Então, o Capitalismo apenas nos oferece como opção de consumo os produtos que os Oligopólios ofertam e, para piorar, sob os preços que eles estabelecem.
No mais das vezes, se não for Brahma, vai ter que ser Itaipava ou Amstel; se não for Honda, vai ter que ser Yamaha; se não for Bradesco, vai ter que ser Itaú ou Santander; se não for Sony, vai ter que ser LG ou Samsung.
Você não tem escolha!
Em muitos momentos da tua vida, um Oligopólio te impôs ou vai te impor o que comprar!
E você ainda vai pagar o preço que eles querem.
Concordo que você pode até dizer: “Ah, mas ao invés de comprar nos oligopólios, eu prefiro, por exemplo, o chocolate caseiro dos meus vizinhos da esquina, que é mais gostoso e mais barato!”
Esse argumento é válido, mas entenda uma coisa: nenhuma fabriqueta de cozinha doméstica é capaz de fazer frente à Nestlé ou à Kraft Foods.
Mesmo que ela conseguisse centuplicar a sua produção e vender todo esse estoque, ela nem faria cócegas nessas duas gigantes.
Então, você, em verdade, não tem escolha, os Oligopólios te emaranharam numa rede.
E eles também sufocam o Empreendedorismo!
Isso porque, mesmo que um dado setor da economia seja quase que totalmente movimentado por pequenos empreendimentos, tais como mercearias, padarias, bares, consultórios médicos e outros mais, os fornecedores desses segmentos são grandes Atacadistas que os fustigam com seus preços, prazos e condições e ficam com a maior parte da lucratividade.
Sem deixar de atentar para o fato de que o maior inimigo do Pequeno e Médio Empreendimento são as grandes corporações.
Afinal, qual o futuro da Farmácia Modelo e da Drogaria Santa Luzia perante a força onipresente da Drogasil e da Pague Menos?
Mas há outro agravante: com tanto poder assim, os Oligopólios estendem seus tentáculos para outros setores de nossas vidas, tal como a Política.
Dessa forma, eles conseguem influenciar as decisões dos três poderes, nas três esferas de governo.
Assim, uma Vale pode interferir na legislação ambiental, uma I-Food na regulação trabalhista, uma GM na política industrial e uma Apple nas estratégias de comércio exterior.
Talvez, não por acaso, que alguns bilionários brasileiros, por meio de suas fundações, apoiam grupos de formação política para quem pretende se lançar candidato nas eleições brasileiras.
A ideia seria criar um ambiente político favorável ou, ao menos, lenientes com os Oligopólios nas áreas de poder.
“Tá dominado, tá tudo dominado!”, como diriam os SD Boys.
Não há espaço para o bem-estar social nos planos estratégicos dos Oligopólios, há apenas para os seus níveis rentabilidade.
E isso não é exagero deste irresignado digitante, há muitos exemplos concretos dessa realidade na história.
Basta ver a luta do advogado Ralph Nader, nos anos 1960/1970, para fazer com que as montadoras de automóveis transformassem o Cinto de Segurança num item obrigatório de fabricação.
Também é digna de nota o embate do geoquímico Clair Patterson, também nos anos 1960, com a indústria de combustíveis por conta da contaminação ambiental pelo chumbo causada pela queima da gasolina aditivada com um derivado desse metal.
Se bem que nem precisaríamos ir tão longe – no tempo e no espaço – para vermos o quão perigoso é a sanha das grandes corporações por seus lucros, afinal de contas, o Brasil tem as histórias de Mariana e Brumadinho, ambas em Minas Gerais, para contar.
Repito: não há espaços para o bem-estar coletivo nos planos estratégicos dos Oligopólios, por mais que eles digam o contrário.
E, também não se esqueça: cada vez mais, os Oligopólios impedem a livre concorrência e garroteiam a nossa liberdade.
Bem como de que a organização dos mercados em Oligopólios é condição sine qua non do Capitalismo, é uma decorrência automática.
De um polo a outro, mercados e estados são capturados por Oligopólios.
É por isso que, enquanto houver Capitalismo, nós seremos servos de algum Oligopólio vigente.
Causou-me alegria e espanto ler esse artigo vindo de um administrador/economista! Comumente são reacionários e, vai um pleonasmo, conservadores à milésima potência!
Gostei muito! Oportuno e necessária sua divulgação. Obrigada!