quinta-feira, 21/11/2024
"Lembro de um tempo em que não havia mensagens, muito menos “redes sociais”, apenas olhares que diziam tudo", diz Luiz Thadeu Foto: Pixabay

Houve um tempo…

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Por Luiz Thadeu Nunes (*)

 

Rebobinando a memória, me transportei no tempo, mergulhei no passado, senti saudades de uma época que não mais existe. Senti saudades de mim. Saudade de muitas coisas: saudade dos que caminharam ao meu lado, que hoje não estão mais aqui. Ou que não mais existem para mim, ou eu para eles. Coisas da vida. Como disse o poeta Vinícius de Moraes: “A vida não é brincadeira, amigo. A vida é arte do encontro embora haja tanto desencontro pela vida”.

Senti saudades dos quintais das casas dos meus avós. Tive o privilégio de conviver com todos eles. Não os chamava de avô ou avó. Papai Agripino e Mamãe Maria, pais de minha saudosa mãe Dinha, tinham uma enorme casa, com um quintal que se estendia até o Rio Itapecuru, em Rosário; Papai Didi e mãe Olindina, pais do meu saudoso pai Luiz Magno, proprietários de uma enorme área, o Sítio do Físico, região rural de nossa Ilha do Amor.

Não sou nostálgico, apenas ativei o modo memória; deixei os pensamentos fluírem, resgatando em mim, instantes saborosos, que ficaram lá atrás. E que teimam em voltar.

Lembro de um tempo em que não havia mensagens, muito menos “redes sociais”, apenas olhares que diziam tudo… Esses dias li algo engraçado e verdadeiro: “Rede social é algo que inventaram para a pessoa, em sua casa, nos azucrinar na nossa”.

Tempos em que não existiam likes, e as pessoas se conheciam e se cumprimentavam nas ruas…

Houve um tempo em que o conselho de um pai era melhor do que qualquer postagem de um “influencer”, e a história de um avô era mais verdadeira do que qualquer referência da Wikipédia…

Houve um tempo em que o e-mail não existia, mas você recebia bilhetes, cartões postais e cartas de amor…

Sou missivista, escrevi cartas de amor para paixões não correspondidas. Por timidez e insegurança perdi amores.

Houve um tempo em que ninguém te insultava escondido no anonimato de uma rede social; era o balcão de um bar, o local onde se discutiam, com argumentos e respeito, partilhando um vinho, uma cerveja, um refresco ou um guaraná.

Houve um tempo em que as pessoas, não aparentavam o que não eram; tempos em que não existiam Photoshop e nem filtros; eram os anos os responsáveis ​​por desenhar as rugas nos rostos dos mais velhos.

Não nos foi dada a permissão para segurar o tempo, “ele só anda de ida”, escreveu Manoel de Barros, o poeta das coisas simples. Como o tempo não volta, os pensamentos me fizeram resgatar esses momentos especiais.

“Fisicamente, habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória”, escreveu José Saramago.

Diria mais: a memória nos redime, nos faz recuperar tempos indeléveis.

Hoje, tenho saudades daquele tempo em que tudo era mais simples, mais leve, mais verdadeiro… “Nada é para sempre, dizemos, mas há momentos que parecem ficar suspensos, pairando sobre o fluir inexorável do tempo”, cito novamente José Saramago.

Um brinde aos que não precisam de razões, mas celebram cada noite, cada dia, cada minuto, independente de calendários e vivem com urgência, para alimentar o ato de ser feliz.

Um brinde ao que foi e ao que ainda está por vir.

 

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Sobre Luiz Thadeu Nunes

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Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e viajante: o homem mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes da terra. Autor do livro “Das muletas fiz asas”.  Membro do IHGM, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; ABLAC, Academia Barreirinhense de Letras, Artes e Ciências; ATHEAR, Academia Atheniense de Letras; e da AVL, Academia Vianense de Letras, membro da ABRASCI. E-mail: luiz.thadeu@uol.com.br

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Um comentário

  1. Sobre a crônica do grande mestre @⁨~Luiz Tadeu Nunes e Silva⁩

    O cronista à larga, Luiz Thadeu Nunes, mais uma vez [e que venham tantas e tantas outras], elabora diamantino texto em poucas palavras e linhas.
    Sob a pena de um escritor medíocre, o tema resultaria em mera afetação, mero sentimentalismo exagerado — coisa que por aqui, infelizmente, campeia.
    Sob os cuidados de Thadeu, o texto traz, qual aromas e sabores equilibrados dum excelente vinho, os cheiros e matizes dantanho. O odor verde do limo nos muros; o trescalo ao pinho das gavetas pertencentes às belas e pesadas cômodas.
    E o amor? Bem, quem não viveu a triste experiência de perder um entre muitos? Nem que tenha sido os longamente curtos amores da adolescência?
    Hum… Talvez nem todo mundo tenha vivido isto…
    Quanto aos acertos entre desafetos num balcão de bodega, vejam bem, fui espectador ou protagonista de vários. Nem sempre apenas a bebida e o respeito bastaram: o indefectível canivete de mola também era convocado para cumprir seu papel.
    Mas, é verdade, mais de uma vez, finda a contenda, os antes inimigos figadais agora chocavam os copos com doses de falso conhaque ou milone.
    Thadeu cuida de esclarecer que não é nostálgico.
    Pelo meu lado, assumo que o sou até em demasia.
    Busco viver. Mas sinto falta daqueles tempos todos os dias.

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