Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos(*)
Esta semana, enquanto alguns parlamentares se empenhavam em levar para o plenário da Câmara dos Deputados um projeto de lei que propunha uma absurda anistia para os fora da lei de 8 de janeiro de 2023, os índices de queimadas, baixa umidade e poluição do ar, aumento das temperaturas e desmatamento das matas e biomas brasileiros, queda no nível de rios, entre outros problemas, atingem níveis cada vez mais preocupantes. Sem falar, em razão disto tudo, a piora considerável da qualidade de vida, da saúde e do bem-estar da vida humana no Brasil.
Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (INPE), 49% dos incêndios se concentram na Amazônia, 32% no Cerrado, 8,8% na Mata Atlântica. Isto, em 2024, até a presente data. Na América Latina, ainda de acordo com o mesmo órgão, na América Latina, entre 01 de janeiro e 11 de setembro, o Brasil ocupa a vergonhosa primeira colocação, com 21.581 focos, um dos maiores índices desde 2018, abaixo, apenas, do ano de 2022, quando os focos chegaram a ser de 29.868.
Como bem salientou o ministro do Supremo, Flávio Dino, o país vive uma “pandemia de incêndios”, que fatalmente antevê o que há muito se fala de uma “pandemia climática”. Eu diria mais! Estamos, para além disto, vivendo ou chegando ao nível mais ordinário e vil de ganância e desfaçatez política que já vivemos em toda a nossa história. Fala-se muito em relativismo e este é um dos piores, pois fere e mata. Mata-se, da mata e a mata, até os hospitais públicos (vítimas de doenças respiratórias e de toda uma série de vírus letais novos), fenecendo a confiança das pessoas nas instituições democráticas, abrindo largas estradas e avenidas para aventuras autoritárias ou aberrações políticas como as que vemos na Venezuela.
A prática de queimar uma área de terra para o uso agrícola é uma herança cultural dos povos originários do Brasil e dos antigos quilombos. A chamada coivara. Entretanto, quando feito desta forma não causa estragos, alguns deles irreversíveis, para a natureza e para a vida humana, dado que é feito com responsabilidade, controle e consciência, tirando da terra os frutos ela, generosamente, pode nos fornecer.
Ainda esta semana, em razão do pouco que pude expor aqui, mas penso que o suficiente para uma reflexão/ação mais eficiente e célere, vimos toda uma mobilização dos poderes constituídos, notadamente, do Governo Federal, com vistas a impedir e reverter este quadro catastrófico, para não dizer, apocalíptico que estamos vivendo há anos e que chegou a um absurdo intolerável. Chega de discursos bonitos e programas que não surtem os efeitos esperados. Deve haver, a meu ver, não só uma educação ambiental, por meio de uma consciência coletiva de zelo, mas punições mais severas. Se entendermos, e é o que se diz oficialmente, que parte considerável dessas queimadas são criminosas, que se faça cumprir a lei, doa a quem doer (aliados e adversários políticos), mexendo, sobretudo, no bolso de quem se beneficia das queimadas. Multas insípidas e cadeia não resolvem, e nesse caso é pouco. Deveria ser crime hediondo. Já dizia a sabedoria popular: “não se aprende por amor; que se aprenda pela dor”, direto na gorda conta bancária dessa turma do agro (não todos), mas na daqueles que agem de forma irresponsável, egoísta, inconsequente e criminosa.
Esperamos que a próxima Campanha da Fraternidade (2025), com questões que envolvem o meio ambiente, propondo o tema “Fraternidade e Ecologia Integral”, possa alcançar os corações e mentes duras daqueles que fazem das queimadas fonte de riquezas e lucros, para que possamos viver, enfim, num país onde o uso do solo e da natureza possa ser racional, sem destruí-los, exterminar sua fauna e flora e, por conseguinte, a nós mesmos, que dela dependemos para existirmos enquanto espécie humana.
Foi-se o tempo em que cantar “o circo pegou fogo, palhaço deu sinal” era só uma brincadeira/canção infantil inocente. Assistimos, hoje, no Brasil a um bárbaro e macabro “espetáculo”, onde a mata pega fogo e o “circo” está armado no Congresso Nacional. Quanto ao “palhaço”, esse segue passando fome, morando na rua, sem saúde, educação e segurança de qualidade, sem emprego, sem perspectivas e expectativas alvissareiras de futuro, até que lhe reste apenas as cinzas de sua existência.