Por Antônio Carlos Garcia (*)
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
Bertolt Brecht (1898-1956)
Certa vez, ouvi de uma pessoa que me é muito cara, que “não está nem aí para essa eleição, que político não merece nenhuma confiança”. Diante de tantas coisas que ocorreram nos últimos anos, com famílias divididas entre os que apoiam um e os que apoiam o outro, busco entender o descontentamento desta pessoa muito querida. Mas não me basta entendê-la, mas, sim, ajudá-la a encontrar o seu caminho como cidadã, dizendo o quão é importante a participação dela na vida da cidade. Digo-lhe que a vida, nada mais é, do que uma sucessão de escolhas, que somos responsáveis por todas elas e que tudo tem consequências. Em Gálatas, há um provérbio por demais sábio: “a semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória.”
O poema de Bertold Brecht, que abre estas linhas, é um convite à ação. As eleições municipais aqui no nosso país é a festa da democracia, onde todos os milhões de eleitores são protagonistas. É votando que os cidadãos vão decidir quem será o prefeito ou prefeita da sua cidade e quem serão os vereadores. Voto nulo, anula o eleitor e faz dele um pária que foi apenas perder tempo numa seção eleitoral. Há de se concordar que o Brasil é terra de profissionais. Neste período eleitoral que antecedeu ao grande dia, hoje, não foram poucas as denúncias de corrupção. Aqui em Aracaju não foi diferente. Por aqui ocorreram suspeitas de corrupção, também. Acreditem!
Mas isso não é motivo de desânimo ou de fuga para não comparecer à sessão eleitoral. Tem que ir sim, porque se não agirmos, os corruptos assumirão o poder que você os deu. Deixar de ir é omissão. Há uma frase de valor inquestionável de Martin Luther King: “O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”. Não sejamos esses bons silenciosos. Se em algum lugar deste país existirem maus tomando conta da cidade – por escolha dos eleitores, frise-se – hoje é um dia de dizer que chega, e dá uma chance àquele que lhe parece mais confiável (se, ainda é possível encontrar gente confiável na política), e dar uma chance. Afinal, é preciso ter coragem para chegar e fazer as mudanças que a cidade precisa, ter transparência nos atos públicos.
O que é um prefeito ou prefeita, senão alguém que escolhemos para administrar a cidade em que vivemos? Literalmente, entregamos a essa pessoa a chave do cofre da cidade, onde está o nosso dinheiro, para que ele ou ela administre. Por isso, analise bem, veja o passado de cada candidato, a história de vida, com quem se aliou e até mesmo a genealogia. O exemplo arrasta, tanto para o bem, como para o mal.
Portanto, incomode-se com a sua cidade. E vigie o alcaide eleito (ou eleita). Cobre as promessas de campanha, use o bom senso e descarte aquelas que nem mesmo o candidato acreditou, por serem surreais. Neste tempo de falatório do horário eleitoral, de carreatas, de alguns abraços sem a mínima empatia, o que mais eles fizeram foi falar demais. E quem fala demais, dá bom dia a cavalo.
Esses dias de campanha serviram para o eleitor separar o joio do trigo e hoje escolher alguém que, efetivamente, tenha coragem e que lhe represente e respeite. Importe-se com a cidade, importe-se com o seu vizinho, com seu colega de trabalho, importe-se com os desconhecidos. Se não fizer isso, chegará o dia em que ninguém se importará com você e aí poderá ser tarde demais.
Enfim, a cidade somos todos nós.