Por Luiz Thadeu Nunes e Silva (*)
Criei meus filhos, Rodrigo e Frederico, dizendo que a melhor coisa do mundo é filho. Os dois cresceram sabendo disso. São filhos escolhidos, planejados, amados. São confidentes, parceiros, meus maiores amigos. Temos divergências? Muitas, somos universos únicos e independentes. Mas o respeito, a atenção e o amor nos une.
Criei-os repetindo que não há dinheiro, prestígio, status social ou poder que supere o amor por um filho, pelo menos para mim.
Acompanhei cada fase deles. Como perito federal agrário, meu emprego por 35 anos, viajei muito por esse país continental. Prestei serviço em mais da metade dos estados da federação, mas toda e qualquer oportunidade estava junto deles. Sempre que possível, eles viajavam comigo. Lembro de férias deles em Salvador, Rio de Janeiro, Fortaleza, Curitiba. Enquanto trabalhava, eles estavam no apartamento que alugava, para ficarmos próximos.
Em um 07 de dezembro, dia do meu aniversário, Rodrigo com nove anos, durante o almoço em família, por um descuido, colocou cola Super Bond no olho. Terminou a comemoração. Correria para o hospital. Eu desesperado, com medo que ele perdesse a vista. À noite, já estava tudo bem. Criança, sempre astuta, cega qualquer um.
Em um evento do Colégio Girassol, onde eles estudavam, Frederico caiu e rasgou a cabeça. Lá vou eu correndo para o hospital para suturar o couro cabeludo. E o pai louco de medo. Sou homem frouxo, tenho medo de sangue, até de menstruação.
Quando entraram na adolescência, começaram a ir para as festas. Não dormia enquanto não chegassem, fosse a hora que fosse. Assim que tiravam as roupas, e já dormindo, eu cheirava cada peça, para saber se tinha vestígio de drogas. Amar também é vigiar.
Teve o tempo em que os dois furaram as orelhas para colocar brinco, não durou muito. Um dia me pediram para colocar piercing. Olhei sério e disse: “Coloquem primeiro nas ovas, se vocês aguentarem, coloquem onde quiser”. Santo remédio, nunca mais se falou nisso.
Cada fase era motivo de mais vigilância, algumas preocupações e muitas alegrias. Acompanhei cada namorada que escolhiam. Fui amigo de todas, sofri com o fim de alguns colóquios, gostava das moças.
Quando foram escolher o curso superior, emiti minha opinião. Frederico queria cursar Arquitetura. Ponderei com ele, que não tinha aptidão, que a letra dele era feia, não era de um futuro arquiteto. Sugeri que fizesse Direito. Quando ele passou no vestibular para Direito, me preocupei. E se ele não for um bom advogado? A culpa seria minha. A cada semestre da faculdade, sempre perguntava: “Estás feliz com o curso de Direito?” “Sim, pai”.
Hoje, respeitado advogado, estou feliz e realizado com minha indicação.
Filhos não são brinquedos nas mãos dos pais, nem projeções de suas ambições frustradas ou uma extensão de suas expectativas. Eles não vieram ao mundo para realizar nossos desejos ou compensar nossas faltas. São indivíduos únicos, portadores de sua própria essência, e cabe a nós a nobre missão de guiá-los para que sejam felizes, conscientes e livres.
Na sexta-feira, 17/01, nasceu Heitor, meu primeiro neto, filho de Rodrigo e Ana Paula, nora que ganhamos de presente. Todos dizem que se filho é bom, neto é ainda melhor. Ainda não posso emitir opinião. Sei que estou muito feliz pois meu DNA está se reproduzindo, me perpetuando na Terra.
Mesmo em tempos bicudos como este que estamos vivendo e vivenciando, o nascimento de uma criança é tempo de renovação, de renascer a esperança de dias melhores. “É nas crianças que encontramos as maiores lições da vida, mesmo sem palavras. Elas não têm saberes acadêmicos para ensinar, mas carregam o essencial: o motivo mais puro para viver”, cito Rubem Alves.
Seja bem-vindo querido Heitor, você veio ao mundo para trazer alegrias, e nos ensinar que é possível construirmos um mundo melhor. Oportunidade de aprender a amar mais. Gratidão ao Deus Vivo pelo dom da vida se multiplicando. Heitor, você me remoça.