sábado, 07/09/2024
Quadro de Adauto Machado
Quadro de Adauto Machado retratando a Academia Sergipana de Letras Foto: Claudefranklin M. Santos

A Academia Sergipana de Letras em Revista (1974)

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Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos (*)

 

Fundada no dia 01 de junho de 1929, a Academia Sergipana de Letras, dois anos após, criou a sua revista. A publicação do número foi anunciada pelo acadêmico Antônio Manuel de Carvalho Neto (1931-1933), fundador da cadeira de número 25, então na condição de presidente do Sodalício. Iniciava ali, uma história de noventa e três anos de existência, marcada por altos e baixos no que diz respeito à sua tiragem, publicação e regularidade.

Entre 1931 e 1937, a Revista da ASL circulou de forma ininterrupta, com dois volumes por ano. Retomou suas atividades em 1943, na presidência do acadêmico José de Magalhães Carneiro. Não foi publicada entre os anos 1944 e 1945. Entre 1946 e 1949, voltou a ser lançada uma vez por ano. De 1950, em diante, quando não teve número em circulação, passou a viver um período de hiatos seguidos (1951-1952, 1956-1957, 1960, 1962, 1969, 1974-1975, 1978, 1980-1981, 1984, 1990, 1994, 1997, 1999-2000). Ficou sem publicar entre 2000 e 2005, depois mais cinco anos sem regularidade (2005-2010).

Entre 2017 e 2018, a pedido de seu atual presidente, Dr. José Anderson Nascimento, tive a satisfação de redigitalizar todos os seus números e disponibilizá-los na página de revistas científicas da Universidade Federal de Sergipe. Com a não renovação do convênio e com a mudança de perfil da UFS no que se refere à postagem de revistas, o conteúdo saiu do ar. Atualmente, alguns números podem ser acessados pelo portal da ASL: https://letrassergipanas.com.br/revistas. Em 2018, dei continuidade a um trabalho iniciado pelo Arionaldo Moura Santos (até então, Coordenador do Movimento Cultural Antônio Garcia Filho – MAC), em parecia com a Editora do Governo de Sergipe (EDISE) e a SEGRASE (Serviços Gráficos de Sergipe), organizei e editei os números inéditos 37, 38 e 39. Vale aqui esclarecer uma curiosidade que reflete bem a irregularidade da revista (por razões contextuais). O número 40 foi lançado em 2011, em homenagem ao imortal João Freire Ribeiro. Havia a possibilidade de os números anteriores também serem publicados, mas ficaram no prelo esse tempo todo até, enfim, saírem do forno.

Antes de me afastar daquela missão, em julho de 2020, por razões de saúde e de ordem pessoal, deixei com a presidência mais quatro números prontos (41, 42, 43 e 44), aguardando apenas a sua publicação (impressa e/ou digital). Ainda em 2020, em livro do MAC organizado pelo acadêmico Dr. Guilherme do Nascimento (Recortes do Movimento Cultural Antônio Garcia Filho), em capítulo de minha autoria, faço um balanço histórico do periódico: “A Revista da Academia Sergipana de Letras: História e Memória Cultural (1931-2020)”, pp. 125- 141.

Considerando a importância da Revista da Academia Sergipana de Letras para a historiografia, literatura e cultura sergipanas, rendo minhas homenagens a ela com uma efeméride importante. Refiro-me aos 50 anos da publicação de seu número 14, em 1974. Trata-se de uma época de renovação da ASL e também de tensões políticas em razão do regime ditatorial em vigor desde o golpe de 1964. Conduzia os destinos da instituição o imortal Severino Pessoa Uchoa (1909-1983), tendo seu mandato encerrado em 1977.

A ASL em 1974 estava assim composta: Antônio Garcia Filho, Felte Bezerra, Emmanuel Franco, José Amado Nascimento, José Silvério Leite Fontes, Luiz Pereira de Melo, Luiz Magalhães, Rubens de Figueiredo, Severino Uchôa, José da Silva Ribeiro Filho, mons. Carlos Costa, João Freire Ribeiro, João Cajueiro, Garcia Moreno, dom Luciano Cabral, Exupero Monteiro, Mário Cabral, Pires Wynne, Jorge de Oliveira Neto, Eunaldo Costa, José Augusto Garcez, Gonçalo Leite, Josué Silva, Mário Cabral, Luiz Fontes Alencar (na condição de inscrito), Benedito Cardoso, Osman Fontes (eleito), Domingos Almeida, José Olino de Lima Neto, Walter Cardoso, Seixas Dórea, Humberto Campos, Clodoaldo de Alencar, Acrísio Torres (inscrito), Luiz Garcia, Marcos Ferreira, Orlando Dantas (inscrito) e Epifânio Dórea. Todos já na eternidade, gozando da imortalidade das letras.

Para uma revista que estava vivendo mais uma retomada em sua história, o número 14 teve um conteúdo protocolar, contendo somente discursos, a saber: Clodoaldo de Alencar (posse), Freire Ribeiro (saudação ao historiador José Silvério Leite Fontes), José Silvério Leite Fontes (posse), Emmanuel Franco (posse), Antonio Garcia Filho (saudação ao Dr. Walter Cardoso), Clodoaldo de Alencar (saudação ao prof. José Amado Nascimento). São peças literárias de grande primor literário e riqueza cultural, que mereciam uma análise mais aprofundada em uma outra oportunidade.

Por ora, quero apenas ressaltar o texto de abertura de Severino Uchôa, cujo título já diz muito do que representou aquele ano para a ASL e também para o futuro de seu periódico: “Revitalização da Academia Sergipana de Letras”. Antes, me permitam dizer que seus contemporâneos poderão dar mais detalhes para além do escrito e publicado, posto que naquele ano eu nascia no dia 6 de março.

Inicialmente, Uchôa destaca a importância da parceria do Governo de Sergipe, na pessoa de Paulo Barreto de Menezes (1925-2016) e o apoio financeiro da Prefeitura Municipal de Aracaju, sob a gestão de Cleovansóstenes Pereira de Aguiar (1926-2018). Vale dizer que esses órgãos, a depender das conjunturas políticas e humores de momento, seguiram sendo as principais responsáveis pelas publicações de nossa revista, como vimos anteriormente com os números mais recentes.

Ainda em seu texto, Uchôa agradece e ressalta a injeção de recursos para a manutenção da ASL via Governo de Sergipe e a promessa de doação da mansão de Garcia Rosa, na colina Santo Antônio, para abrigar a instituição. Isto não foi adiante, pois a partir de 1976, a sede passou a ser em “um sobrado secular da Rua Pacatuba, 288” (NASCIMENTO, 2022, p. 27), prédio do acervo da Secretaria Estadual de Educação, recentemente todo reformado, com a instalação de elevador e de um amplo e confortável auditório.

Sem sombras de dúvidas, o ano de 1974 foi de grande importância para a Academia Sergipana de Letras. Arriscaria a dizer que foi o ano de sua virada histórica, de sua afirmação, de maturidade e também de consolidação definitiva no cenário da cultura sergipana de brasileira, ainda que pesassem sobre os ombros de nossa imortalidade e de sua produção intelectual o cutelo de um regime político do qual não se deve jamais ter saudades.

 

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Fontes e Referências:

https://letrassergipanas.com.br/revistas

NASCIMENTO, Guilherme da Costa (Org). Recortes do Movimento Cultural Antônio Garcia Filho. Aracaju: Edição do Autor: 2020.

NASCIMENTO, José Anderson. Perfis Acadêmicos. 2 ed. Campinas-SP: Pontes Editora, 2022.

SANTOS, Claudefranklin Monteiro. A Revista da Academia Sergipana de Letras: História e Memória Cultural (1931-2020). In: NASCIMENTO, Guilherme da Costa (Org). Recortes do Movimento Cultural Antônio Garcia Filho. Aracaju: Edição do Autor: 2020. pp. 125-141.

 

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Sobre Claudefranklin Monteiro

Claudefranklin Monteiro Santos
Professor doutor do Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe.

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