A primeira grande contribuição do livro A Casa Lilás, do jornalista Luiz Eduardo Costa, é que ele restitui a grandeza do jornalismo e da literatura em terras de Sergipe D’El Rey, atualmente vivendo, as duas áreas, uma espécie de penumbra. Só mesmo um grande do jornalismo local, filho de peixe, dono de uma cultura invulgar, com passagens por vários jornais, poderia empregar seu delicioso texto a uma história que atende a preceitos básicos do jornalismo: relevância, importância histórica, denúncia social e investigação. Na literatura, contempla seus valores mais notáveis: forte conteúdo dramático, vida pública e vida privada, universalidade, capacidade narrativa e estilo. Pois todos esses ingredientes estão presentes na obra de Costa, que trata do célebre Crime da Rua de Campos, como ficou conhecido o assassinato do médico e político sergipano Carlos Firpo, em 1958.
Ao misturar as duas linguagens, o livro faz o chamado new journalism, ou seja, o jornalismo literário, valendo-se, pois, da verve narrativa do autor, um ensaísta do primeiro time no jornalismo brasileiro. Assim, o texto vai e vem, ora percorrendo os intrincados meandros que envolveram a morte do personagem e o vergonhoso processo investigativo que, na realidade, parece ter sido feito para encobrir a verdade e os verdadeiros autores do crime que chocou o Estado na época. Paralelamente, Costa vai tecendo um rico painel da sociedade sergipana desde os anos 40, da política à economia, além de um rasante na sociedade da época, a vidinha cotidiana de uma Aracaju provinciana e mesquinha.
Duas perplexidades saltam da leitura de A Casa Lilás: a primeira é o escandaloso processo (ou a ausência de um processo sério) para apurar o caso e adotar as providências, fruto dos governos violentos da UDN, dominados pelos velhos coronéis da política paroquiana. O governo era a própria máquina de violência e perseguição.
Carlos Firpo, um jovem e promissor médico, muito querido da população, ex-prefeito de Aracaju, trabalhava para ser o candidato a governador ou a vice nas eleições estaduais, mas nem mesmo o fato dele ser um aliado do governo de Leandro Maciel o livrou do fogo amigo. Tudo leva a crer que o plano de seu assassinato e o acobertamento do crime se deu no ambiente do governo.
A outra perplexidade vem do limbo em que foi jogado esse trágico episódio de nossa história recente, sem que nenhum historiador, jornalista ou quem quer que seja tenha se voltado para o tema. Esse longo silêncio parece coadunar a criminosa atuação da mídia da época, composta de duas emissoras de rádio governistas, uma de fato, outra de fato e de direito. Para se ter uma ideia, um jornal de oposição, a Gazeta Socialista, deu coro à versão fictícia construída pelo secretário de Justiça do estado, encarregado do inquérito, Heribaldo Vieira, ele próprio interessado nos cargos que Firpo almejava. Vieira paira no centro de todas as suspeitas. Como secretário de Segurança, tinha o governo e opositores na mão, com ou sem motivos para intimidá-los e persegui-los. Depois de tudo, acabou preterido por Leandro na indicação para o governo, mas ainda ganhou uma vaga no Senado. Se o plano era alijar Carlos Firpo para pavimentar o próprio caminho para o poder, a maquinação deu certo.
Na trama urdida com requintes de perversidade, mentiras deslavadas, falsificações grosseiras, tortura e assassinato de testemunhas, o conteúdo político foi varrido da cena, para não deixar pistas de que os verdadeiros motivos que respondem pela morte de Firpo eram tão somente a briga nos intestinos da UDN. Nesse aspecto o serviço foi bem feito, com a substituição do pano de fundo político para a intriga passional, um suposto caso de amor inventado entre a mulher do médico, Milena Mandarino, e o coronel da aeronáutica Afonso Ferreira Lima. O tal romance jamais foi provado. Os executores do crime são apresentados e, logo em seguida, um deles é morto a pauladas pela polícia de Heribaldo Vieira. Num inquérito onde tudo foi nebuloso, nem a verdade nem os mandantes jamais apareceram. E o silêncio só não durou mais, porque Luiz Eduardo Costa foi remexer nesses sombrios anais de nossa história.
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(*) Luciano Correa é jornalista, doutor em Comunicação, atual presidente da Fundação Cultural de Aracaju (Funcaju).
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