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A (difícil) arte de ficar só, parte 2

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Na semana passada fiz uso do nobre espaço deste jornal para falar de solitude e solidão. Dei o título de “A (difícil) arte de ficar sozinho”.

Comecei falando sobre o medo que a maioria das pessoas tem de ficar só; afinal de contas somos seres sociais: gostamos de reunir, aglomerar, ajuntar, tudo junto e misturado. Durante a pandemia do coronavírus aumentou muito o número de ansiosos por ficarmos isolados, imposição dada pelas medidas sanitárias. Hoje quase ninguém se lembra, mas foram dias punk.

Com o artigo, recebi vários depoimentos de pessoas amigas e de algumas que não conheço. Retomo o tema. Muitas afirmando que têm medo de ficar só, não gostam de solidão, gostam de estar cercadas de gente. Outras, entretanto, gostam de estar só, sem ter que dar satisfação de sua vida, das atitudes que tomam; que amam sua companhia.

Estudos recentes mostram que permanecer por algum tempo só, ajuda a melhorar a concentração.

“Pesquisadores definem a solidão como um sentimento de angústia que sentimos quando não temos, ou não somos capazes de obter, os tipos de conexões ou relacionamentos sociais que desejamos. A solitude é diferente.

Embora as definições de solitude das pessoas possam variar, o que é interessante é que, para muitos, ser solitário não significa necessariamente que não há mais ninguém por perto”.

A querida Ilvene, solteira por opção, enviou mensagem dizendo que adora morar só, tem o apto só pra ela, sem dar satisfação a ninguém.

O amigo Augusto Pantoja, casado, pai, avô, residente na tórrida Manaus, disse: “O que é a solitude? Não ter medo do silêncio, do estar sozinho. A solitude é gostar de estar com você mesmo”.

“Acho que a pessoa deveria ter medo de estar em má companhia, e não na própria, então essa pessoa não gosta dela”, escreveu minha querida Débora, divorciada, sem filhos, mãe bichológica, de SP.

Débora é mulher de papo reto, sem firulas, cujo lema é “Ou soma ou some”. A quantidade de relacionamentos que já teve é numerosa, e a fila continua andando.

Ouvi de Débora certa vez, em devaneios noturnos, que ela não é mulher de se sujeitar a homem. Da mesma forma como se apaixona perdidamente, “se acaso me quiseres, sou dessas mulheres, que só dizem sim. Por uma coisa à toa, uma noitada boa. Um cinema, um botequim….”, desapaixona: “Mas na manhã seguinte, não conta até vinte, te afasta de mim, pois já não vales nada, és página virada, descartada do meu folhetim”, parafraseando Chico Buarque, mestre em alma feminina.

Logo, Débora descartou mais um, já pensando no próximo. E, arremata, é bíblico: “Amai o próximo, pois esse já faz parte do passado”.

Mas a melhor de todas foi a mensagem de Ana, querida amiga cearense radicada na Austrália. Ela é, também, especialista em fazer a fila andar.

“Você acorda com você, trabalha com você, toma café da manhã com você, faz cocô por você. Almoça, lancha, janta, toma banho, canta, chora, ri, tudo com você. Chega em casa com você, assiste a TV, lê um livro, e vai dormir com você. Por mais que tenha muita gente com você ao seu redor, a única pessoa que está com você o tempo todo é você mesma. Portanto se ame, se cuide, se valorize. Porque se você, que passa o tempo todo com você não fizer isso, não vai ser outra pessoa que vai fazer”. Viva Ana, que matou a charada da vida.

Conviver com o outro, dividir a vida, sonhos, planos, a cama, o aparelho sanitário é tarefa árdua, que requer sabedoria, construção permanente.

Viver solitário em um relacionamento a dois é algo desgastante e doentio, que muitas pessoas pagam um preço altíssimo para ter uma companhia.

E, meu amigo Ricardo, descasado, sem filhos, escreveu: “Isolamento é ficar preso em um leito de hospital, lutando pela vida. Ficar em casa é uma bênção”.

 

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(*) Eng. Agrônomo, palestrante, cronista e viajante: o latino americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes da terra, autor do livro “Das muletas fiz asas”.

E-mail: luiz.thadeu@uol.com.br

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Luiz Thadeu Nunes

Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e viajante: o homem mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes da terra. Autor do livro “Das muletas fiz asas”.  Membro do IHGM, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; ABLAC, Academia Barreirinhense de Letras, Artes e Ciências; ATHEAR, Academia Atheniense de Letras; e da AVL, Academia Vianense de Letras, membro da ABRASCI. E-mail: luiz.thadeu@uol.com.br

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