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A ( difícil ) arte de ficar sozinho

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Por Luiz Thadeu (*)

Passar tempo sozinho, consigo mesmo, pode causar medo em muita gente, o que é compreensível. Somos seres sociáveis, gostamos de estar cercado de gente. A pandemia do coronavírus provou isso. Por causa do isolamento imposto pelas medidas sanitárias, aumentou muito o número de pessoas depressivas. Ao mesmo tempo, a diferença entre momentos de solitude e solidão é muitas vezes incompreendida.

Um estudo acadêmico mostrou que solitude – o tempo que passamos sozinhos, sem interagir com outras pessoas faz bem para a saúde mental. Uma pesquisa publicada há mais de dez anos e, até aquele momento, as descobertas relacionadas ao tempo que os jovens passavam sozinhos sugeriam que eles frequentemente se sentiam para baixo. Novas pesquisas apontam resultados diferentes. Ficar só, por alguns momentos, é benéfico para a saúde mental.

Nas redes sociais, na televisão ou durante as músicas que ouvimos, normalmente imaginamos a felicidade como euforia, entusiasmo e animação. A partir dessa perspectiva, a solitude é muitas vezes confundida com a solidão.

Pesquisadores definem a solidão como um sentimento de angústia que sentimos quando não temos, ou não somos capazes de obter, os tipos de conexões ou relacionamentos sociais que desejamos. A solitude é diferente.

Embora as definições de solitude das pessoas possam variar, o que é interessante é que, para muitos, ser solitário não significa necessariamente que não há mais ninguém por perto.

Em vez disso, muita gente pode sentir – e de fato sente – solidão em espaços públicos, seja sentada para um café movimentado tomando uma xícara de chá ou lendo um livro em um parque. Ou ao lado do cônjuge, em um relacionamento longevo. Quantas pessoas que conhecemos estão só, mesmo dividindo a cama? Pesquisas recentes mostram o número crescentes de casais que se separam após 40, 50 anos de convivência, pois se sentem só morando sob o mesmo teto.

Hoje, sabe-se que reservar um tempo para si mesmo pode ter um impacto positivo no seu humor diário.

Todos nós já tivemos dias em que há problemas no trabalho, quando as coisas não saem como o esperado ou quando assumimos muita responsabilidade e nos sentimos sobrecarregados.

Estudos mostram que reservar um tempo para si mesmo, um momento de solitude, pode ajudar a lidar com essas situações.

Estudos publicados na revista The Lancet, no Reino Unido, mostraram uma série de experimentos, alguns muito simples como sentar em silêncio consigo mesmo. Em alguns estudos, as mochilas e dispositivos dos estudantes foram retirados para que ficassem sentados apenas com seus pensamentos; em outras ocasiões, os alunos ficaram na sala com livros ou celulares.

Depois de apenas 15 minutos sozinhos, descobre-se que quaisquer emoções fortes que os participantes pudessem estar sentindo, como ansiedade ou euforia, diminuíram. Conclusão: que a solitude tem a capacidade de reduzir os níveis de excitação das pessoas, o que significa que pode ser útil em situações em que nos sentimos frustrados, agitados ou com raiva.

Muita gente poderia presumir que apenas os introvertidos apreciariam a solitude. Embora seja verdade que os introvertidos podem preferir ficar sozinhos, eles não são as únicas pessoas que podem colher os benefícios da solitude.

Pesquisa realizada com mais de 18 mil adultos em todo o mundo, mais da metade votou na solitude como uma das principais atividades que pratica para descansar. Portanto, se você é extrovertido, não deixe que isso te impeça de reservar um tempo para a solitude para desacelerar.

A parte desafiadora de passar um tempo sozinho é que, às vezes, pode ser chato e solitário.

Muita gente acha que ficar a sós com seus pensamentos pode ser difícil e prefere ter algo para fazer. De fato, se forçar a sentar e não fazer nada pode fazer com que você ache o tempo sozinho menos agradável. Então você pode preferir fazer algum tipo de atividade durante seu momento de solitude.

No teste foi dado aos participantes a opção de não fazer nada ou passar o tempo separando centenas de lápis em caixas.

Após serem solicitados a ficar sozinhos por dez minutos, a maioria dos participantes optou por separar os lápis.

No entanto, a escolha de fazer a tarefa chata decorre do desejo de se manter ocupado quando outras pessoas não estão por perto para ocupar nosso espaço mental.

Portanto, se você se pegar checando o celular toda vez que tiver alguns momentos de solitude, isso é bastante comum. Muita gente navega no celular para lidar com o estresse e o tédio.

Algumas pessoas também preferem passar o tempo sozinhas fazendo tarefas diárias, como ir ao supermercado, arrumar objetos ou fazer uma caminhada. É um tempo solitário válido.

Provoco você, caro leitor, amiga leitora: se você chegar em casa e não tiver ninguém para dividir o espaço, é solitude ou solidão?

Fico com o ensinamento de Jô Soares: “Eu me basto…a pior solidão é a solidão acompanhada”.

 

__________

(*) Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e viajante: o latino americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes da terra, autor do livro “Das muletas fiz asas”.

E-mail: luiz.thadeu@uol.com.br

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