A Educação é um dos temas mais presente no debate eleitoral. É comum ouvirmos os(as) candidatos(as) proporem soluções para os problemas que afligem a escola e as pessoas envolvidas no processo educativo, a exemplo dos(as) professores(as), estudantes e responsáveis.
Os dados, em certa medida, legitimam a preocupação. Amplamente divulgado pelos meios de comunicação, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) constatou que a educação brasileira, de forma geral, precisa melhorar para alcançar indicadores satisfatórios de qualidade.
Em escala nacional, o IDEB das escolas públicas municipais nas séries iniciais (1º ao 5º ano do ensino fundamental) foi de 5.7 pontos. Nas finais (6º ao 9º ano do ensino fundamental) a pontuação foi 4.5.
Entretanto, sabe-se que a qualidade da educação não pode ser resumida à nota no IDEB. Questões relacionadas ao aspecto estrutural, salarial, alimentação, mobilidade urbana, econômico e social interferem na relação ensino-aprendizagem, afetando, principalmente as crianças e os jovens que estudam. São vários os fatores que precisam ser considerados para, através de uma ação coordenada e planejada, serem encarados por políticas públicas de curto, médio e longo prazos.
Ao observar a realidade da rede pública municipal de Aracaju, de forma específica, observa-se que a situação não distingue da nacional, muito embora os dados apontem para uma situação preocupante quando o assunto é IDEB.
Segundo o último levantamento, a capital sergipana, com notas 4,8 (séries iniciais) e 3,9 (séries finais), ocupa a última e a 22ª colocação, respectivamente, entre as capitais do país. A situação, ainda comparando com as demais capitais do país, revela que Aracaju piorou nas séries iniciais e melhorou nas finais, já que ocupava, respectivamente, a 25ª e 26ª posições em 2017. O bom desse quadro é que, por considerar apenas as capitais, fatores de ordem econômica tendem a propiciar mais semelhanças.
Por outro lado, quando observamos a realidade dos municípios de Sergipe, cidades com menor capacidade de investimento do que Aracaju, a exemplo de Itabaianinha e Amparo do São Francisco, têm notas superiores às da capital. Esse quadro pode revelar que a melhoria do IDEB nem sempre depende do poder econômico das cidades.
O diagnóstico revela também que, embora esteja em uma posição inferior ao das demais capitais do país e abaixo de algumas cidades do interior sergipano, o IDEB tem aumentado em Aracaju. A nota nas séries iniciais era 2,9 e nas finais 2,5 em 2005, havendo um incremento de 1,9 e 1,3 pontos, respectivamente, ao longo dos últimos 15 anos.
Em 2015, ano que antecedeu a última eleição para prefeito(a) de Aracaju, o IDEB registrado na rede municipal era de 4,4 (séries iniciais) e 3,4 (séries finais), ou seja, nos últimos 4 anos, o IDEB teve um aumento de 0,4 ponto nos dois ciclos do ensino fundamental.
Se o recorte considerar os últimos 8 anos, o IDEB das séries iniciais saltou de 3,6, em 2011, para 4,8 em 2019. No caso das séries finais, saltou 3,1 para 3,8 entre 2011 e 2019.
Se considerarmos os quadriênios, pode-se constatar que o aumento do atual foi superior ao obtido entre 2007 e 2011, que ficou na faixa de 0,3 ponto, e bem inferior ao crescimento registrado entre os anos de 2011-2015, quando o aumento do IDEB das séries iniciais foi de 0,8 ponto. Quando se analisa os dados das séries finais, percebe-se um aumento de 0,3, entre 2011 e 2015, e estagnação entre 2007 e 2011.
Esse diagnóstico deve considerar que nos últimos anos houve o aumento no número de vagas no ensino infantil e fundamental, a construção de novas escolas, mudanças na gestão democrática, a reformulação da carreira do magistério municipal para se adaptar à lei do Piso Nacional e o aumento dos recursos (FUNDEB, arrecadação municipal, etc).
É bom considerar também que, nesse período, houve mudanças no comando da Secretaria Municipal de Educação (SEMED) e no Centro Administrativo Prefeito Aloísio Campos, situações que podem ter trazido continuidade ou interrupção nas ações da pasta.
O fato é que a análise de qualquer avaliação, a exemplo do IDEB, deve considerar um conjunto de fatores, a exemplo dos econômicos, sociais e políticos, isso sem falar dos aspectos que perpassam a relação entre ensino e aprendizagem.
Com base nessas considerações, faço algumas perguntas aos(às) candidatos(as) a prefeito(a) de Aracaju:
1) Sua proposta fortalece o caráter público e gratuito da escola? Por quê?
2) Qual a sua opinião sobre o novo FUNDEB?
3) Quais propostas você apresenta para a educação infantil?
4) Como sua administração executará o Pacto Sergipano pela Alfabetização na Idade Certa? E o Plano Municipal de Educação?
5) Seu governo defende parceria com instituições (confessionais, filantrópicas, privadas) de ensino para ofertar novas vagas? Por quê?
6) Como será executada a gestão democrática na rede municipal de ensino?
7) Os(as) estudantes serão ouvidos(as) na elaboração das políticas públicas para a educação? E os(as) trabalhadores(as) da educação? E as consultorias (ONG’s, universidades, SEDUC, entidades privadas, etc.)?
8) Qual sua opinião sobre o Piso Nacional do Magistério? E sobre a carreira do(a) professor(a) e dos demais trabalhadores(as) da educação?
9) Qual proposta você apresenta para instituir a Cultura de paz no ambiente escolar?
10) Seu governo usará as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) no processo ensino-aprendizagem após o fim da pandemia da COVID-19? Por quê?
11) Qual papel as avaliações em larga escala (ANA, Prova Brasil, SAEB, IDEB, SAESE, etc.) terão no seu governo? E a Base Nacional Comum Curricular para a educação básica?
Essas perguntas não cessam o debate em torno do tema da Educação, muito menos visa restringi-lo. Servem como uma espécie de estímulo para que os(as) eleitores de Aracaju possam refletir e indagar os(as) candidatos(as), pensando em questões importantes e que um deles/delas terá que enfrentar, caso vença a eleição para prefeito(a) da capital sergipana.
(*) Christian Lindberg Lopes do Nascimento é professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Graduado em Filosofia (UFS), doutor em Filosofia da Educação (UNICAMP) e pós-doutor em Educação (UNICAMP).
**Esse texto é de responsabilidade exclusiva do autor. Não reflete, necessariamente, a opinião do Só Sergipe.
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