sábado, 16/11/2024
Sebastião Nery, ícone do jornalismo brasileiro Foto: Redes sociais

A grande prosa de Sebastião Nery

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Luciano Correia (*)

 

Duas boas histórias contadas por um dos melhores contadores de histórias da imprensa, o jornalista baiano Sebastião Nery, filho de Jaguaquara, Bahia, aqui perto da gente. Em 1928, pouco antes da Revolução de 30, os conspiradores se articulavam dentro e fora do país. Oscar Pedroso Horta, jornalista do Diário da Noite, depois Estado de S. Paulo, faz uma perigosa viagem de monomotor de Santos a Porto Alegre e depois a Montevidéu, para levar uma encomenda de alguns mapas estratégicos para o movimento. Foi a pedido de Siqueira Campos, ele mesmo, o do movimento tenentista, herói do Forte de Copacabana e membro da Coluna Prestes, esse que dá nome a um importante bairro de Aracaju. Deveria entregar os tais mapas a Prestes, exilado no Uruguai. E agora é ele, Pedroso Horta, quem conta, a Sebastião Nery, no seu livro “Ninguém me contou, Eu vi”.

“De repente, mal eu chegava, aparece no hotel um homenzinho muito magro e muito feio, calçado em botinas de elástico:

– Sou o comandante Luís Carlos Prestes.

Percebi logo que era um agente da polícia brasileira.

– O senhor não é Oscar Pedroso Horta?

– Sou.

– Não trouxe uma encomenda de São Paulo para mim?

– Não o conheço. Estou aqui a negócios, não trouxe nada.

O homenzinho muito magro e muito feio foi embora. Tratei logo de trocar de hotel. Peguei um táxi e fui ao endereço de Luís Carlos Prestes. Lá, para espanto meu, encontrei exatamente o homenzinho muito magro e muito feio. Era ele mesmo.”

Ainda do mesmo livro, conta Nery, de uma entrevista com Hélio Fernandes, da lendária Tribuna da Imprensa, do Rio de Janeiro. O irmão de Millôr conta que Golbery, o diabólico general que encantava até gente de esquerda (Glauber Rocha o chamou de gênio de raça, certa vez), era muito amigo de Carlos Lacerda. Mas brigaram no episódio do movimento para não dar posse ao presidente João Goulart. Jango, como se sabe, era o vice de Jânio, o tresloucado que renunciou pensando que o povo ia chamá-lo de volta.

Como isso não se deu, e Goulart era temido pelos militares + UDN e a totalidade da burguesia nacional, começou uma conspiração para não permitir a posse de Jango, que, no dia da renúncia do presidente, estava em viagem à China. Como divergissem nas estratégias desse outro golpe, de amigos fraternos viraram inimigos figadais. Diz Hélio Fernandes, sobre o tal gênio da raça:

“Golbery só tinha uma meta e um objetivo no governo, que era liquidar a candidatura Lacerda. Golbery passa 24 horas por dia sem fazer nada, a não ser pensando em maldade contra alguém, para destruir alguém. Ele não tem nenhuma ideia construtiva. Nunca teve uma. O livro dele sobre geopolítica é terrivelmente cansativo, não tem nada de geopolítica, não tem nada de literatura. Tem apenas o número de páginas. Se fosse impresso em branco era a mesma coisa. Ele é um gênio da maldade.”

 

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Sobre Luciano Correia

Luciano Correia
Jornalista e presidente da Fundação Cultural Cidade de Aracaju (Funcaju).

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