Por Jader Frederico Abrão (*)
Outro dia, conversando com um grupo de Irmãos da “Ordem”, deparei com algumas críticas em ataque ao desenvolvimento programático das reuniões ritualísticas desenvolvidas sob o REAA. Disse um deles: “Enquanto não encerrada uma reunião, todos os assuntos devem ser discutidos e deliberados, pois assuntos podem surgir inesperadamente a cada momento, e como maçons, devemos resolver os problemas e não os postergar”. Outro Irmão assim protestou: “As reuniões devem caminhar com maior objetividade, pois no salão social nos aguardam os familiares”.
De estalo, percebi que tais protestos ferem de morte os principais objetivos da Ordem maçônica, sempre realizados durante o desenvolvimento inteligente das nossas reuniões ritualísticas, sendo estas as únicas responsáveis por cumprir diversas funções institucionais, incluindo o aperfeiçoamento do maçom — o mais importante objetivo da Ordem maçônica.
Lembrei que há quase 25 anos, ingressei nas fileiras da Loja Vale do Pirapitinga — 3094, do Oriente de Cumari-Goiás, com a promessa única de passar por uma iniciação. À parte das orientações e das informações previamente recebidas dos membros daquela importante Oficina, dentre eles o meu pai, busquei entender melhor o significado da palavra Iniciação e entendi que significava o ato de começar, ingressar em algo ou em circunstância, e, também, significava o ato de ser elevado de uma condição para outra, de um nível para outro nível superior. Então, após iniciado, fez total sentido o compromisso em polir a própria pedra bruta conforme os ensinamentos ritualísticos simbólicos e espirituais, encontrados nas dinâmicas das reuniões maçônicas, ordinárias ou extraordinárias, que sempre oportunizam a cada maçom um caminho mais rápido para a construção do Templo individual, justo e perfeito, orientado sob constante ligação ao Grande Arquiteto do Universo.
Na obra literária intitulada “Grau do Aprendiz e seus Mistérios”, de autoria de Jorge Adoum, Editora Pensamento, pag. 13/14, temos que “O grande objetivo da Maçonaria é o despertar do poder latente que se acha em cada ser, e converter o homem em Deus, consciente de sua divindade sem limitações e dúvidas. O Maçom tem que trabalhar inteligentemente para o bem dos demais. Seu esforço tem que ser dedicado ao progresso universal. Deve ajudar o Grande Arquiteto do Universo em sua Obra. O Maçom deve construir e aprender por suas próprias experiências, sem apoiar-se nos demais; ele tem que dar sempre sem esperar recompensa. O Aprendiz tem o Mestre externo por guia na Senda até encontrar seu próprio Mestre Interno e ver sua própria luz em seu mundo interior. Conhecer a Verdade e praticar a Verdade é o caminho do Maçom e de todos os homens.”
Com o passar dos anos, ficou claro que o objetivo principal da maçonaria não está nas deliberações da Ordem do Dia, nem mesmo nos jantares ou confraternizações, mas sim no magistério, servindo de escola da virtude e da perfeição. Por esta máxima comecei a perceber o grandioso zelo e a iluminada sabedoria existentes em tudo que envolve as atividades oferecidas pela maçonaria ao iniciado, pois nada é ao acaso ou impensado. Inteligentemente, o magistério tem destaque na programação cronológica das reuniões maçônicas e, sobre estas, passaremos à reflexão.
Nós, maçons, devemos dedicar com zelo e amor, na condução de nossas rotinas diárias, amenizando as ansiedades, prevenindo os embates, iluminando os caminhos com parcimônia e calmaria, o que não é simples de alcançar, sobretudo no mundo moderno. Podemos até dizer que as ansiedades morais e as atribulações emocionais não são patrimônio exclusivo do homem contemporâneo, já que a composição predial atual de uma Loja Maçônica segue a mesma arquitetura adotada há muito tempo, inclusive com a presença do Átrio e de suas mesmas atribuições de purificar os pensamentos e as energias. As vicissitudes da vida, portanto, caminham ao nosso lado até a Sala dos Passos Perdidos, onde se colocam ardentes e desejosas em transpor o Átrio. Avaliando este contexto, percebemos que a Ordem maçônica desenvolveu o Átrio como mecanismo de auxílio à melhor preparação do bem-estar psicológico do maçom.
A dinâmica das reuniões maçônicas foi estabelecida por nossos antepassados, que iluminados estabeleceram foco, em prima facie, na estabilidade moral, espiritual e emocional do ser humano, inserindo o Átrio como espaço precedente ao Templo, onde ocupamos sob condição de relaxamento mental, de introspecção profunda e de total silêncio, proporcionando um ingresso ao ambiente sagrado, livre de pensamentos mundanos e de ansiedades parasitárias das nossas boas energias, oferecendo ao autoaperfeiçoamento uma mente translúcida e um coração sensível ao bem.
Seguindo, após este momento de transcendência em ligação plena ao Grande Arquiteto do Universo, nos dedicaremos a resolver os registros de notas relativos à última reunião, tendo como função a revisão e a chancela do próprio registro realizado em ata; também, a recordação dos assuntos recentemente tratados e a sua ciência por aqueles Irmãos, por acaso, faltosos; e, por último, a representação no subconsciente de todos, de um ato formal que passa a estabelecer o foco no presente, por estarem resolvidos os assuntos do passado.
Os trabalhos tomam força e vigor com o início de uma fase administrativa que busca conhecer os assuntos que deverão ser colocados sob a apreciação e a deliberação dos presentes, ocorrendo através da verificação de correspondências de expedientes administrativos, recebidas e enviadas, inclusive, daquelas recolhidas durante os trabalhos pelo Mestre de Cerimônia, com o fito de amealhar propostas e informações. Após, finalizando a fase de levantamento de assuntos a serem tratados, dá-se início às manifestações e deliberações, que ocorrem através da Ordem do Dia, salvo prévio Escrutínio, se porventura, houver sindicâncias pendentes de deliberação.
A Ordem do Dia é também um importantíssimo momento em que somos experimentados como ferramentas a operar na Obra do Divino e sob a Sua vontade. As nossas manifestações e deliberações, devem ser guiadas por influência do Grande Arquiteto do Universo. De regra, todos os presentes apreciarão os assuntos pendentes de deliberação, tendo direito de expressar e votar, sendo em muitas oportunidades tratados temas urgentes, sensíveis e importantes, às vezes exigindo uma abordagem pragmática, o que poderá até gerar efeito sísmico na linha de espiritualidade comum e necessária à reunião maçônica. Portanto, esta fase que se inicia com o levantamento dos assuntos pendentes é finalizada mediante suas apreciações e deliberações, que de forma inteligente e proposital, foi incluída no início dos trabalhos, devendo ocupar a reunião maçônica apenas neste momento.
Com o encerramento da Ordem do Dia, os trabalhos se voltam à última fase da reunião e a partir desse momento a dinâmica dos trabalhos passa a desenvolver atos e comportamentos que a todo momento estimulam o aperfeiçoamento individual e a fraternidade entre os Irmãos, sendo em muitos ritos o momento apropriado para receber os visitantes e as Autoridades Maçônicas.
Dá-se, então, continuidade à reunião após o ingresso de visitantes — se for o caso —, passando ao novo momento que será abrilhantado pelo estudo. O Tempo de Estudos, que de regra é realizado dentro do período de ¼ de hora, autoriza a reflexão sobre qualquer tema, desde que não fira a individualidade dos pensamentos e das ideias, fazendo-nos imergir em conhecimentos diversos que deveras agigantam a nossa bagagem cultural, social, científica, moral, emocional, espiritual, ritualística. Desta forma, a reunião dá o primeiro passo rumo ao seu encerramento, trabalhando a garantia da plena estabilidade e conforto, moral e espiritual, dos presentes, proporcionando crescimento e fraternidade.
Tomados pela maravilhosa energia dessa nova fase, a seguir nos é oportunizado o momento de doação através do Tronco de Solidariedade, de Benevolência ou de qualquer outra denominação correlata adotada por cada instituição maçônica, através do qual, mais importante que a doação, é submeter frequentemente e didaticamente o maçom à experiência existencial do ato de doar, de desapego, de beneficência. É um momento no qual além do magnífico resultado próprio da “doação”, conseguiremos também — na reunião que se desenvolve — experimentar o resultado espiritual de “viver em doação,” podendo ser mais gratificante ao doador que ao socorrido. Portanto, temos que perceber que a dinâmica da Sessão Maçônica, não foi idealizada somente para deliberação, mas principalmente para o aperfeiçoamento do ser humano.
Satisfeito o momento do Tronco é chegada a oportunidade de apresentarmos palavras ao engrandecimento e a bem da Ordem Maçônica e ao engrandecimento e a bem de todos os Irmãos. Aquele de nós que pede permissão para falar e levantando profere palavras ásperas, ofensivas, deletérias, dentre outras possíveis negatividades, é um obreiro que apesar de iniciado demonstra dificuldade em ver a Luz. Podendo ser um Irmão que não se dedicou a transcender da matéria em ligação plena ao Grande Arquiteto do Universo, por isso, não conseguindo amar e respeitar a Ordem Maçônica, bem como, os seus Irmãos. Podendo ser talvez, ainda, um IGNORANTE que não foi instruído, que não estudou, que não estuda e que talvez nunca estudará, e, por isso, amealhando conhecimentos superficiais, desconhece totalmente o que este meio espera e pode proporcionar ao mesmo, não compreendendo a nobreza e a espiritualidade latente no ambiente em que está inserido e na reunião ritualística que exige uma compostura nobre, discreta e elevada.
O momento de expressarmos a bem da Ordem em Geral e do quadro em particular, é um momento de dizermos palavras iluminadas, para tudo e para todos, é o momento de engrandecermos o ambiente através da elevação energética alavancada por iluminadas manifestações, inclusive, engrandecendo nós mesmos pelo poder do amor que praticamos através do amor falado que deve saltar dos nossos corações em direção ao mundo. Por esta capacidade de sermos amor pelas palavras, acabamos por efetivamente praticar o amor, assim, abraçando todos e sendo abraçados por todos, envolvidos pelo poder da virtude emanada pelo Grande Arquiteto do Universo. Desta maneira, a palavra sempre será AO BEM DA ORDEM EM GERAL E AO BEM DO QUADRO EM PARTICULAR.
Neste momento a ritualística nos faz seres iluminados, quando nos oportuniza experimentar a explicitude do amor ao próximo através das manifestações dos nossos reconhecimentos, das nossas gratidões e das nossas intenções, e o resultado disto em nós, não tem preço.
Não esqueço dos discursos de outrora, numa época em que encharcados de amor, de espiritualidade e de força, homens cultos e homens simples, iniciados, faziam ressoar com todas as forças dos pulmões e dos corações, verdadeiras arpas sagradas aos corações sensíveis ao bem. Temos que devolver à Maçonaria mundial, aos Obreiros e a nós mesmos, a consciência de que uma Sessão Maçônica é palco para líderes benfazejos, que espiritualizados e energizados, declaram e trabalham na Terra sob uma Loja “aberta no céu”.
Por fim, após as conclusões por quem de direito, ocorre a finalização de uma homilia na qual tudo é consagrado ao Grande Arquiteto do Universo, realizando sob o olhar atendo do Pavilhão Nacional, com extremo respeito, o fechamento do Livro da Lei que representa uma grande Luz para todos nós iniciados. Após, declarando encerrados os trabalhos, a saída do ambiente interno do Templo ocorre de maneira respeitosa e orientada, tendo os corações repletos de amor e de paz.
A reunião ritualística é muito mais que apenas um momento para deliberação de assuntos pendentes, sobretudo, é a única oportunidade ofertada pela instituição para compartilharmos o alimento salutar e sagrado que enobrece a alma e possibilita o autoaperfeiçoamento, e por isto, todos devemos mergulhar nos estudos da ritualística que nos conduz com firmeza ao sucesso das nossas aspirações maçônicas, para tanto, é imprescindível que defendamos com todas as nossas forças a realização de nossas reuniões através da serenidade, do compromisso e da entrega à ritualística.
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