Dia desses viajei a São Paulo. E pude perceber o quanto Caetano foi feliz quando, poeticamente, descreveu a cidade em cinza e deselegâncias discretas. É muito concreto para minha cabeça. O mar de água que falta à lírica e concrética cosmópolis dos irmãos Campos dá lugar a um mar de cimento,ostentação e pressa.
O metrô se salva. É confortável (pelo menos no horário em que usufruí da rapidez e comodidade), climatizado e resolve bem o problema do caótico trânsito.
Foi bem nesses dias que um taxista (ô lugarzinho com táxi caro!) me relatou o fato de uma mulher (apresentando fortes sinais de embriaguez) atropelou e matou dois trabalhadores, numa madrugada fria. A frieza da noite (era 1h30, na Avenida Luiz Dumont Villares, segundo o G1) se confundia com a da condutora, que, mesmo tendo cometido o ato, fugiu em disparada e causou outros transtornos até ser parada por paulistanos conscientes que desconfiaram da situação e agiram, tomando-lhe a chave do veículo.
Foi levada pra polícia. A condutora bêbada, presa. Há indícios de que havia consumido álcool três vezes mais que o permitido.
– Um chopinho não faz mal a ninguém. É madrugada. Todos os gatos pardos podem ser mortos. Aliás, os gatos só, não. Gatos, cachorros, periquitos, papagaios. A noitemorte é nossa!!!
Os dois corpos foram enterrados. A condutora, solta no mesmo dia do enterro. Um órfão, também vítima da irresponsabilidade dessa etílica moça letal, fiho de um dos noturnos trabalhadores, pranteava saudades do pai, por não mais tê-lo vida à frente.
-E aí, você vai dizer o quê?
– Nada. Somente silêncio.
Chamou a atenção, nas diversas matérias veiculadas na televisão feitas sobre o assunto, o sorriso esboçado e de fino trato da moça cambaleante no dia do acidentomicídios.
No Brasil, parece que todo mundo tem o direito de matar uma vez. E não é não? E o fato de ser “réu primário”?
– Banalizou, papai. Custa R$ 1,00.
– E se der bronca?
– Paga fiança e sai. Mas tem que sair logo, senão sai em Bareta.