Por Luciano Correia (*)
Pra começo de conversa, favor não confundir com Outubro Rosa, uma campanha de forte apelo midiático que visa alertar as mulheres e a sociedade sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama e de colo do útero. Esta, tem salvado vidas e prestado um bem inestimável às mulheres em todo o mundo.
Já a onda pink que ora borra as manchetes, apesar do frisson que vem assanhando até gente insuspeita pelos quatro cantos, não é rigorosamente uma novidade, posto que a estrela principal do bafon é uma senhorinha nascida em 1959. Se você faz parte deste planeta em chamas e costuma ligar um rádio ou TV, ou bisbilhota redes pelo menos uma vez por dia, sabe bem que me refiro a uma das mulheres mais cobiçadas de todos os tempos, uma moça chamada Barbie.
Na verdade, a cobiça referida é virtual, um fetiche construído com precisão cirúrgica para servir a gula desses taradões incorrigíveis, que, é claro, jamais viram a Barbie como uma inocente boneca. E creio eu que nas próprias intenções de quem pariu a beldade estavam embutidas, nas entrelinhas dos desejos ocultos, a erotização da loira para consumos múltiplos – sexual, comércio de utensílios, roupas etc. Freud também explica isso, além de tudo que já explica.
A sessentona Barbie se atualiza nesses anos todos em uma penca de produtos da indústria cultural, alimentando seu imaginário com novas e novas ações midiáticas, e na venda das bonecas em si, com mais de um bilhão de exemplares vendidos. De novo mesmo nessa onda rosa atual, só a capacidade de renovação do mesmo repertório, o êxito na forma de requentar uma velha história e ofertá-la, com cheiro de tinta fresca, ao museu de grandes novidades, como cantava Cazuza.
Em nome desse novo sucesso da parada, vi gente de todas as procedências, até do jornalismo tido como objetivo e informativo, vestir-se de rosa e decorar ambientes em homenagem ao filme que estronda as bilheterias do mundo inteiro. Ao pequeno Jão Cabeça Quente, um moleque que ilumina minha vida há quatro meses, eu não tenho sabido explicar que o tema relevante da cultura no mundo inteiro, nesse momento, é a recente encarnação da Barbie nas telas do cinema.
De todo modo, uma constatação: de tão inserido na sociedade do espetáculo, o fenômeno cai nas infalíveis previsões de outro pós-moderno, o artista Andy Warhol, e também parece cumprir a sina dos 15 minutos de glória. Nessa justa hora, seguramente, os fornos de Hollywood assam o próximo pão pra alimentar o circo. E logo teremos um novo e estupendo sucesso de bilheterias.