Literatura é um engajar-se, Sartre vociferava. Convenhamos: há algo de verdadeiro nisso. Mas até quando seria possível manter o punho da voz firme ao sentir que “o fracasso é que a língua perde/ritmo”, como escreve o Gabriel Resende Santos, nascido num Rio de Janeiro em maio de 1994. E se o ritmo está alquebrado, a vida inteira se desmonta. Destarte, acreditar em Rimbaud e Whitman pode ser mesmo uma solução. O menino que questiona “quantos minutos tem a pétala”, é o mesmo que não conta segredos para nenhuma fúria e que sabe que todo “entendimento é um jogo de morte”.
A poesia presente em “Elevador” tem o corpo sem acomodação, a alma sem afetações e gasta seu tempo e seu espaço tentando gritar alguma coisa no meio deste mundo de inaudíveis – habitado por um gentio estranho, muito estranho. Por tentar tal feito, já deixa a simplicidade de ser mera anotação em papel barato e ganha o status daquelas decididas palavras que nos emocionam por ou em determinado momento de nossas vidas. A poesia do garoto sobe e desce, eleva-se e se revela, releva e desvela a pessoa entrada no cubículo dos sentidos.
O efeito poético que se vê na respectiva obra brota de um ritmo aparentemente sólido e por demais amarrado. O autor trabalha o poema, não parece ser um amontoado de versos sem passado. Há sim um dito com elementos simples e modificações de forma um tanto já corriqueiras neste universo, mas talhada como escultura por mãos de quem realmente emprestou sofrimento à palavra. Como pregavam os gregos, o texto poético é aquele que cria alguma coisa, indefinida, mas alguma coisa. Eis a mais simplória definição da poiesis, conceito ao qual Gabriel se enamora em “Elevador”.
Como não existe uma definição perfeita para a boa ou para a má poesia, os aspectos essenciais de uma obra ficam mesmo nas garras dos olhos-tempo do leitor, ser quase sempre ensimesmado que irá confrontar as estrofes lidas enquanto complementa o vago possível dos eixos em verbo com a ideia mais precisa do instante. A poesia de “Elevador” acredita na grande beleza plástica que a palavra pode exprimir, mas não se deixa morrer neste detalhe.
Fala-se muito em mistério quando o ser enunciado é a poesia. Dá-se margem a rios de águas que correm por este mundo. Emoção demais, dizem, pode nublar a vista real das notáveis importâncias. Todavia, escrever é um passo para se sair dos labirintos – ou para se adentrar ainda mais por eles. E escrever poesia num mundo tão surdo-mudo quanto este em que vivemos soa como uma necessidade digna de aplausos. Portanto, uma salva de palmas para o ascensorista.
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(*) Germano Xavier nasceu em Iraquara, Chapada Diamantina-Bahia, em 1984. É jornalista pela UNEB e mestre em Letras pela UPE. Publicou o livro Clube de Carteado (Franciscana, 2006). Seu livro de contos intitulado Sombras Adentro (ainda não publicado) foi finalista do IV Prêmio Pernambuco de Literatura (2016). Em 2021, publicou o livro O Homem Encurralado (Penalux); e em 2022 , Esplanada do Tempo, que compreende a segunda parte da Trilogia do Centauro. Escreve para encontrar o equador de todas as coisas.
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