Desde antes Júlio César (100-44 a.C.) atravessar o Rio Rubicão com suas tropas, o normal é que a disputa política se dê por meio da polarização entre dois grandes grupos antagônicos, mesmo em sociedades de sólidas tradições democráticas e partidariamente plurais.
Republicanos e democratas, liberais e conservadores, socialistas e democratas cristãos, tories e whigs, bolcheviques e mencheviques, saquaremas e luzias, saramandaias e bole-boles, mais do que uma disfuncionalidade, essas divisões são efeitos da gravidade do poder político.
A tendência é que os similares se agrupem contra aquilo que consideram um antagonista mais perigoso, ainda que tenham divergências entre si. Por isso que os fascismos sempre foram alçados ao poder com ajuda dos liberais, na luta contra humanistas, socialistas e comunistas.
E o Brasil não foge a essa regra.
Um exemplo disso: de 1989 a 2018, os dois candidatos que foram para o sergundo turno da disputa presidencial abarcaram juntos, em média, os votos de 54,6% do eleitorado cadastrado na Justiça Eleitoral.
O menor patamar já atingido foi em 1989, quando Collor de Mello (PRN) e Lula da Silva (PT) totalizaram votos que correspondiam a 39,3% do eleitorado apto. De modo análogo, o maior dos níveis foi observado em 2006, quando Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB) tomaram para si 68,8% do eleitorado total.
Dentro dessa série histórica, geralmente, os candidatos que chegam em primeiro lugar ficam com 1/3 do eleitorado e o segundo colocado com pouco mais de 1/5 desse mesmo montante.
No entanto, as candidaturas de esquerda, quando vencem o primeiro turno, o fazem com 34,2% do eleitorado ao passo em que as de direita sagram-se vitoriosas nessa fase com uma proporção de 32,2%.
Ou seja, nas eleições vencidas por aquela, há uma maior participação eleitoral do que naquelas em que essa última ganha.
No primeiro turno de 1989, 1994, 1998 e 2018 os votos válidos perfizeram uma média de 71,4% do volume total. Por outro lado, de 2002 a 2014, essa proporção fica em torno de 74,4%.
Isso dá força à hipótese de que o campo progressista se fortalece com o aumento da participação popular nas eleições, enquanto que a desmobilização seria mais interessante para o campo conservador.
De todo modo, o esperado é que as eleições presidenciais no Brasil sejam decididas entre dois polos de forte atração, de forma que um pleito no qual três candidaturas disputem o eleitorado em condições similares é algo ainda pouco provável.
(*) Emerson Sousa é Mestre em Economia e Doutor em Administração
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