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A simulação da virtude

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Por Nilton Santana (*)

 

A melhor lanchonete da cidade que vendia comida árabe estava para fechar e, ao final da noite, o cozinheiro iria fazer apenas um derradeiro pedido. Um homem que prezava muito pela sua fama de virtuoso chegou até o balcão correndo para fazer justamente este último pedido da noite.

— Já estava fechando — Diz o cozinheiro — Apenas irei fazer um último pedido.

O sábio, que estava observando as palavras do cozinheiro e a correria do virtuoso, lhes disse:

— Com tantas pessoas passando fome, você vai esbanjar dinheiro com essa comida? Quanta vaidade! Vai meu amigo, retira-te para a tua casa e come da comida que ali houver. Vai e doa este dinheiro aos necessitados. Você por acaso não se importa com quem passa fome?

O virtuoso retirou-se do balcão cabisbaixo, queria comer a deliciosa iguaria árabe tão falada por todos os seus amigos, mas queria também simular virtude. Retirou-se triste, deu dez passos e voltou-se para ver a lanchonete fechando, como se fosse dar adeus ao que o seu paladar iria degustar. Mas ficou surpreso ao ver o sábio no balcão fazendo o último pedido! O pedido era para ser o seu! Voltou correndo e disse:

— Ei! Fazer o último pedido não era esbanjar dinheiro enquanto as pessoas passam fome?

O sábio respondeu:

— Sim! Mas se eu deixar de comer aqui, os necessitados continuarão passando fome.

O virtuoso disse:

— Mas você não vai dar dinheiro aos necessitados?

O sábio rebateu:

— Já estou dando dinheiro aos necessitados! O cozinheiro que aqui trabalha necessita do meu dinheiro.

O virtuoso não era verdadeiramente virtuoso. Apenas queria simular virtude para satisfazer a sua vaidade. Quando somos reféns do ego, podemos ser facilmente manipulados.

_____________

Conto inspirado nos ensinamentos da tradição sufi.

 

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Nilton Santana

Nascido em Aracaju, professor de História, membro da Loja Estrela de Davi e amante dos estudos sobre religiosidades e mitologia

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