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A vida é muito curta para longas dores

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Por Luiz Thadeu Nunes e Silva (*)

 

Em reunião recente com amigos de infância, dos bancos escolares do Colégio Batista – coisa dos anos 70, ainda no século passado -, a anfitriã falou da alegria em nos reunir após os festejos juninos, pois, em junho, todos corridos, não tivemos tempo para um encontro. Aproveitando amigos que moram em outros estados, e estavam a passeio em nossa cidade, foi a deixa para estarmos juntos e misturados.

Todos que ali estavam, estavam em suas versões atuais, com suas histórias de vida, suas rugas, e suas caminhadas.

Cada um falou de suas dores e alegrias, e parafraseando Caetano Veloso: “Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”.

Muito se falou de perdas, pois quanto mais se vive, mais temos que administrar perdas. Perda de cabelos, de colágeno, de memórias, da beleza, de pessoas queridas.

Alguém falou da batalha que travou contra um câncer; outra sobre a luta que ainda trava, seguindo com suas dores, abrindo espaço a fórceps, para continuar a caminhada.

Uma falou que está sendo mãe de sua mãe, que virou criança, por causa do Alzheimer. Disse que a mãe agora lhe chama de mãezinha, lhe sorri docemente quando a vê, sem identificar quem é. A doença apagou todas as memórias.

Dois falaram da perda de um filho, da dor e da saudade. Que tiveram de se reinventar e seguir em frente após a brutal pancada que tomaram, subvertendo a ordem natural da vida.

Uma amiga falou de solidão, de estar sozinha no outono da vida, viúva e com filhos que casaram, seguindo suas vidas.

Todos, sem exceção, fizeram questão de dizer que mesmo com os infortúnios, têm alegria de viver. Que vale a pena ter otimismo, e esperança de que boas coisas ainda virão. Seguem na fé de dias melhores, ressignificando suas vidas.

Quando a vida que achamos que temos encurta de repente, a princípio dá um susto, dá medo. Mas depois vem um monte de aprendizado, ensinando o sabor das coisas. O tempo segue seu trajeto, nunca pára e nem dá pausas. Viver é uma constante negociação com o tempo, aquele que já passou, o que achamos que teremos pela frente. Todos no grupo, no adiantado da idade, têm menos tempo a viver, do que o que ficou para trás.

Recentemente li uma entrevista da atriz Fernanda Torres, que ao ser perguntada de que tem medo na vida, respondeu de pronto, “De perder a alegria de viver”. E, completou: “Imagine você perder a alegria de viver aos 50 anos, e ainda continuar vivendo até os 75 anos; são 25 anos de sofrimento, de lamúrias”.

Em qualquer fase ou idade, é imperativo ter amor à vida. Desenvolver o olhar para o lado bom das coisas. Se adaptar às mudanças impostas pelo tempo. Ter alegria em estar vivo, se divertir com o que a vida lhe oferece.

Em reunião de trabalho, com uma plateia majoritariamente de jovens, vi como tenho muito a aprender. A começar pelo uso de novas palavras e terminologias até então desconhecidas.

Eu que dizia que tal lugar era “deficiente”. Fui corrigido, aprendi que tal lugar é “ineficiente”. A língua portuguesa é dinâmica; é urgente a necessidade de aprender inúmeras coisas.

Nunca sofri da síndrome de Gabriela. E, por falar sobre a Síndrome de Gabriela, não posso deixar de citar um trecho da música “Modinha para Gabriela”, escrita por Dorival Caymmi e interpretada por Gal Costa, trilha sonora de novela: “Eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, vou sempre assim… Gabriela”.

A Síndrome de Gabriela mostra a falta de adaptabilidade, levando pessoas e organizações a se manterem na zona de conforto, impedindo a inovação.

O tempo pode rabiscar o rosto, pode pratear os cabelos, mas não deixe que as dores te apague o viço, nem te adormeça o riso.  Conserva teu jeito de olhar macio, tua capacidade de sonhar.

Bem-aventurados os que se adaptam à passagem do tempo, que tudo ensina.

Por isso, não remoa suas dores; elas vieram para te ensinar, não para sugar as boas energias, te tornando amargo e sorumbático. Esteja pronto para o novo; é a melhor maneira de estar conectado com seu entorno.

“A vida não é um problema a ser resolvido, mas uma realidade a ser vivida”, Kierkegaard.

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Luiz Thadeu Nunes

Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e viajante: o homem mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes da terra. Autor do livro “Das muletas fiz asas”.  Membro do IHGM, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; ABLAC, Academia Barreirinhense de Letras, Artes e Ciências; ATHEAR, Academia Atheniense de Letras; e da AVL, Academia Vianense de Letras, membro da ABRASCI. E-mail: luiz.thadeu@uol.com.br

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