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A vida em uma caixa de chocolates 

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Por Luiz Thadeu Nunes e Silva (*)

 

Envelhecer é um processo extraordinário em que você se torna a pessoa que você sempre deveria ter sido. Só me senti inteiramente livre para tomar as decisões mais difíceis, com autonomia, agora, aos 60 anos. “Tenho a sensação de que estava me preparando para isso”, disse-me uma amiga que completou essa idade recentemente.

Vaidosa, bem cuidada, encontrei-a no lançamento do livro de um amigo em comum.

Fazia tempo que não a via. Fomos próximos no passado. Me disse que morou por bom tempo em Curitiba e, que no final do ano passado, voltou a morar na Ilha do Amor. Retornou para São Luís para cuidar da mãe que está com Alzheimer.

Após o lançamento do livro, nos encaminhamos para uma cafeteria próxima.

Ela me diz que tem menos tempo para viver do que o tempo que o vento levou. Falou do casamento desfeito, dos filhos já adultos. Enfim, da vida.

— Sinto-me como uma criança que ganhou uma caixa de chocolates. Quero comê-los e, ao ver que não sobrou muito, começo a degustá-los como uma iguaria, disse-me com olhar expressivo. Não tenho tempo para conversas intermináveis e nem para discussões inúteis, pois nada vai mudar. Não tenho tempo e nem saco de discutir com tolos infantilizados.  E, não há mais tempo para brigar com o cinza. Não participo de reuniões onde os egos estão inflados; não suporto manipuladores.

Pergunto se já se aposentou.

— Sim, estou aposentada, fui professora por trinta anos. Estava exausta. Fui diagnosticada com Burnout, e disse pra mim ‘hora de parar’. No trabalho, não tinha mais estrutura para lidar com os invejosos, que nada fazem para mudar suas resumidas vidas, e se incomodam com os outros que têm planos e projetos novos. Tenho pouco tempo para discutir questiúnculas; minha alma tem pressa. Não sei quanto tempo de vida com saúde tenho pela frente. Restam poucos chocolates na caixa. Estou interessada em pessoas simples, que conversam prestando atenção. Em relações fraternas. Não tenho mais idade para impressionar ninguém. Acho que pessoas que riem dos seus próprio erros são mais autênticas. Gosto de gente elegante, compromissada, que não foge de suas responsabilidades. As que defendem a dignidade humana e querem estar do lado da verdade. Acho que é para isso que serve a vida. Quero me cercar de pessoas que saibam tocar o coração dos outros. Que, através dos golpes do destino, souberam elevar-se e manter a suavidade da alma.

E ela continua.

— Sim, tenho pressa, tenho pressa de viver com a intensidade que só a maturidade pode dar. Comerei todos os chocolates que sobraram, pois terão um sabor melhor do que os que já comi antes. Meu objetivo é chegar ao fim desta jornada, chamada vida, em harmonia comigo mesma; tendo por perto quem gosta de mim, quem me aceita como sou, sem forçar a barra.

Olhei para aquela mulher: observei sua serenidade, contemplei sua beleza, pensando no que ouvira, concordando que o bom de se chegar no outono da vida é vivermos em plenitude com o que gostaríamos de ser. Nunca é tarde para se tornar o que você poderia ter sido.

 

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Luiz Thadeu Nunes

Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e viajante: o homem mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes da terra. Autor do livro “Das muletas fiz asas”.  Membro do IHGM, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; ABLAC, Academia Barreirinhense de Letras, Artes e Ciências; ATHEAR, Academia Atheniense de Letras; e da AVL, Academia Vianense de Letras, membro da ABRASCI. E-mail: luiz.thadeu@uol.com.br

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