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Aglaé D’Ávila Fontes, tangendo sonhos há 90 anos

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Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos (*)

 

Luiz Antônio Barreto, Beatriz Góis Dantas e Aglaé d´Ávila Fontes. Sempre tive essa tríade lagartense como algumas das minhas principais referências intelectuais e de vida. Sempre os vi como pessoas icônicas da cultura sergipana, que da minha pequenez ficava absorto a tietá-los, mas jamais imaginei um dia, gozar de suas amizades e confiança. Luiz, de saudosa memória, um amigo querido que reservava parte de seu precioso tempo a me aconselhar e a me estimular nas lides da história. Beatriz, também, na mesma toada; e segue sendo. Aglaé, mais discreta, de igual modo a nos presentear não somente com seu talento, mas também com sua poesia, seu sorriso e brilho nos olhos, de uma menina que alcança, ainda vívida e viçosa, nove décadas de existência.

Atuando na presidência do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGSE) desde 2018, tendo sido reconduzida ao cargo até a presente data, Aglaé d´Ávila Fontes construiu uma trajetória de vida, profissional e intelectual que tem de todos os sergipanos, e além fronteiras, total reconhecimento. É descendente da família “d´Ávila Garcez”, uma das mais tradicionais do campo político do município de Lagarto, onde nasceu no dia 2 de novembro de 1934, filha de Teófilo Fontes de Almeida  e Marieta d´Ávila Fontes. Seu primo, Acrísio d’Ávila Garcez, foi seu padrinho de batismo, o famoso líder político lagartense à época dos coronéis mandatários locais da então “aprendiz” de República brasileira.

A profissão do pai, funcionário federal, fez com que a menina, e depois a jovem Aglaé, fosse instada a mudar-se de tempos em tempos, tendo que morar e fazer seus estudos em Riachuelo, Itabaianinha, Propriá e Aracaju. Fixou-se na capital sergipana a partir de 1955, quando fundou uma Escola de Música, após formação na área pelo Instituto de Música e Canto Orfeônico de Sergipe (IMCOSE, 1952) e participação ativa nos Seminários Livres de Música da Universidade da Bahia (UFBA). Bacharelou-se em Filosofia pela Universidade Federal de Sergipe, onde também cursou pós-graduação em Educação Pré-escolar. Essa vida migrante deu a ela a oportunidade de entrar em contato com inúmeras formas de ser e viver a cultura sergipana, sobretudo a popular, por quem passou a nutrir grande interesse.

Aglaé tornou-se uma personalidade multifacetada: atriz, diretora de teatro, educadora, professora no Ensino Básico e Superior, notabilizando-se também como escritora, folclorista e historiadora. Talentos estes reconhecidos pela Academia Sergipana de Letras, ocupando a cadeira 12 desde o dia 5 de agosto de 2004. É membro fundadora da Academia Lagartense de Letras, em 19 de abril de 2013, onde ocupa a cadeira 16, querida e admirada por todos os seus confrades e confreiras. Reconhecimento este também da classe política sergipana, quando secretária de Estado da Educação e Cultura, presidente da Fundação Cultural de Aracaju (FUNCAJU) e diretora do Centro de Criatividade de Aracaju.

Suas palestras e participações em eventos diversos é uma atração à parte, não somente pela didática como também pelo esmero e encantamento com que trata os temas a ela propostos, sempre com uma performance que a leva de volta aos tempos de teatro. Inúmeras vezes, como acontece até a presente data, concede entrevistas e grava depoimentos, não somente para a TV, mas também para outros veículos de comunicação, na condição de uma das significativas referências sobre o folclore e sobre a cultura sergipana em seus mais diferentes matizes, em especial no campo das manifestações dos fazeres e saberes do povo. É autora de vários escritos, inclusive de peças teatrais, de cuja seara destaco: “Eu Não Tenho Onde Morar” (1990); “Danças e folguedos” (1995); e “O menino tangedor de sonhos” (2001).

Essa rica trajetória de vida, aqui rememorada de forma sintética, mereceu a atenção do campo científico e editorial. Em 2021, a pesquisadora Rísia Rodrigues Silva Monteiro lhe dedicou uma tese de doutorado, pelo Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Sergipe, sob a orientação do Prof. Dr. Joaquim Tavares da Conceição: “Os saberes e fazeres de Aglaé D’Ávila Fontes: uma educadora e mediadora cultural sergipana (1955-2005)”. Em 2022, foi tema do livro de autoria de Patrícia Brunet Carvalho de Andrade, notadamente sua contribuição para as artes cênicas de Sergipe: “Aglaé d´Ávila Fontes – um capítulo da História do Teatro Sergipano”. Obra publicada pelo programa editorial da Secretaria de Estado da Educação e Cultura. Além de ser ilustrado por um rico material iconográfico da atriz Aglaé, mergulha na trajetória da homenageada, também, como diretora de teatro, dramaturga, educadora e agente cultural, com passagem primorosas pelos grupos Gato de Botas, Expressionista e Mamulengo Cheiroso.

Em 2018, na Revista Literária de Sergipe, número 1, às páginas 12-13, tive a oportunidade de lhe dedicar um texto intitulado “Da arte de cultivar educação em terreno brincante”. Na ocasião e agora em razão das justas celebrações de seus 90 anos de idade, disse e reitero, em referência a ela, e também a Luiz e a Beatriz: “Mestres insignes da sergipanidade e do meu torrão de identidade [Lagarto], eles inspiram poetas, professores, historiadores, estudiosos, pesquisadores, pessoas das mais diferentes condições sociais, tendo em comum o gosto pela cultura material e imaterial do povo, suas manifestações religiosas, artísticas, cênicas, musicais, cravadas na história, na antropologia e na sociologia da gente de nosso Estado”.

 

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Claudefranklin Monteiro

Professor doutor do Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe.

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