Política

Alessandro Vieira pede a quebra de sigilo de Fábio Wajngarten

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O senador Alessandro Vieira (SE), líder do Cidadania, pediu, ontem,  à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid a quebra dos sigilos fiscal, bancário, telefônico e telemático de Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação do governo Jair Bolsonaro, e, ao confrontá-lo, confirmou que o presidente deu aval para que facilitasse as negociações com a farmacêutica Pfizer, um dos fornecedores da vacina contra a Covid-19. Wajngarten não atuou em benefício de outros fornecedores.

O ex-secretário também não conseguiu se esquivar da declaração dada à revista Veja, em entrevista publicada em abril, na qual acusou a equipe do ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, de ser incompetente para lidar com a pandemia. No momento mais tenso do depoimento, o senador lembrou Wajngarten que se continuasse mentindo ou se esquivando das perguntas poderia sair dali preso em flagrante. “O senhor tem que respeitar a inteligência dos brasileiros e o papel dessa CPI”, afirmou Alessandro Vieira.

Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI, avisou que Wajngarten pode voltar à CPI como investigado. O relator Renan Calheiros (MDB-AL) ameaçou prendê-lo e a sessão chegou a ser interrompida. Wajngarten passou todo o depoimento sem responder objetivamente se as declarações antivacina do presidente Jair Bolsonaro impactam a sociedade.

Fábio Wajngarten: carta da Pfizer Foto: Rudy/Agência Senado

Ele disse que o impacto se dá juntamente com outras fontes de informação e evitou tecer críticas diretas ao presidente. Mesmo assim, acuado pelo senador Alessandro Vieira, admitiu ter feito lobby para a Pfizer, inclusive junto ao presidente e a ministros do governo, durante uma reunião no Planalto. Wajngarten colocou o presidente na linha com o então gerente geral da Pfizer para América Latina, Carlos Murillo, que hoje vai depor na CPI. Ainda assim, o contrato com a Pfizer demoraria alguns meses para ser assinado.

Wajngarten contou ter respondido, no final do ano passado, a uma carta da Pfizer, enviada à cúpula do governo brasileiro em setembro, mas que só chegou ao seu conhecimento em novembro, quando falou ao telefone com o representante da Pfizer no Brasil. Mesmo fora de sua área e supostamente sem consultar o Ministério da Saúde, teria discutido condições de contratação da vacina.

Mais tarde, Wajngarten recebeu pessoalmente no Palácio do Planalto o CEO da Pfizer. O ex-secretário afirmou que o presidente Jair Bolsonaro não participou do encontro e que não foram discutidos temas como “cronograma ou valores” para a compra do imunizante. A CPI da Covid avalia que a carta da Pfizer oferecendo vacinas ao Brasil em 2020 mostra que o governo brasileiro foi incompetente e não priorizou a compra de imunizantes contra a doença. A compra só veio a ocorrer esse ano.

“Aqui dá cadeia”

Wajngarten sustentou que Jair Bolsonaro disse que compraria toda vacina aprovada pela Anvisa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, mas o senador mostrou que isso não era verdade. Em mais de uma ocasião, como uma entrevista à Rádio Jovem Pan, em outubro do ano passado, Bolsonaro disse que não compraria “vacina da China” – a  CoronaVac -, mesmo com autorização da Anvisa.

“O senhor informou que o presidente, ao longo de todo o processo, teve uma postura ativa de defesa da vida, e que defendeu a compra de qualquer vacina com o aval da Anvisa. Não é verdade”, apontou Alessandro Vieira. O ex-secretário, depois de muita insistência, confirmou declaração dada à Veja de que o presidente era abastecido com informações erradas, por dolo ou incompetência, vindas do Ministério da Saúde. Não citou nomes e criticou apenas o “excesso de burocracia e formalismo” dentro do sistema público.

“O senhor diz que, com o aval do presidente, mobilizou diversos setores da sociedade – inclusive os ministros Luiz Fux e Gilmar Mendes, do STF, e Augusto Aras, procurador-geral da República – para tratar de vacinas da Pfizer”, afirmou Alessandro Vieira. Wajngarten disse que anteviu “os riscos da falta de vacina” e negou que o presidente soubesse de seus passos – diferentemente do que disse na entrevista à Veja – e afirmou que buscava apenas o melhor para o país.

“Procurei todas as pessoas que pudessem contribuir para viabilizar a compra das vacinas da Pfizer. Não medi esforços”, disse. Após ser confrontado, afirmou que o presidente não sabia que ele contrataria pessoas para articular a compra da vacina. “Em nenhum momento o presidente sabia previamente que eu contataria todas essas pessoas”, disse. “Então o senhor mentiu à Veja. É melhor mentir à Veja do que à CPI. Aqui dá cadeia, lá pode dar um processo, desmoralização”, afirmou Alessandro Vieira.

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