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Petruska Menezes (*)
Nelson Mendonça (**)

Um movimento interessante que surgiu nos últimos tempos, mas se tornou mais presente pós- movimentos feministas, é a busca de homens de todas as idades por mulheres mais velhas, já com a vida profissional estabilizada, para que possam viver com elas assumindo o papel de cuidador afetivo da família, mediante o seu sustento financeiro. Ao lado dos sugar babies e sugar daddies, cada dia é perceptível o crescimento da situação, em que homens estão dispostos a trocar o sustento do lar para cuidar dos afazeres domésticos e se dedicar ao amor da companheira.

Esse movimento cresce também nas redes sociais de relacionamento e os termos já começam a aparecer na descrição dos perfis, para os mais ousados, ou de forma sutil, em insinuações de suas necessidades e colocações posteriores ao início do envolvimento de suas dificuldades de aquisição (deles).

Conversando com uma terapeuta de São Paulo que trabalha em uma abordagem mais ampla de tratamento, ela explica que não tem um dia sequer, em seu consultório, que não apareçam mulheres que encontraram em seus caminhos muitos sugar mommies.

Sugar mommy ou “mamãe doce” é a expressão que vem sendo empregada, principalmente pela geração Z e Alpha, como a versão feminina análoga às mulheres mais velhas que buscam uma relação com homens mais novos para os sustentarem, provendo cuidados afetivos e dedicação (nem sempre) exclusiva. Entretanto, gostaríamos de convidá-los a ampliar este conceito de “mulheres estabilizadas financeiramente” para homens de todas as idades.

A maior queixa é da inicial ilusão de um relacionamento afetivo, mas que, no segundo momento, demonstra ser de troca, não necessariamente de amor, por parte de cônjuge. Esse parece ser o maior problema atual. Muitas vezes, não fica claro para uma das partes qual o verdadeiro motivo do relacionamento e a falta de clareza acaba trazendo sofrimentos futuros, para ambos.

A principal diferença dos sugar babies/sugar mommies para um relacionamento comum é que o princípio é de autocuidado e, não necessariamente, precisa haver amor, para que o vínculo aconteça. É baseado em uma necessidade de complementariedade para a sobrevivência, principalmente afetiva, em casos de carência (afetiva de um lado e financeira do outro).

Outro ponto a acrescentar é que a relação dos sugar daddies/sugar mommies não se limita a casais heterossexuais, existindo também a relação por trocas mais concretas.

Podemos pensar que esta seja uma hereditariedade cultural, porém atualizada, com a distinção da essencial maioridade. Conseguimos observar que pouco menos de 30 anos atrás, focando no Brasil, adolescentes (menores de idade, em alguns casos) do sexo feminino podiam se casar/relacionar-se com homens muito mais velhos. Hoje, é reconhecido como pedofilia. Casos ainda são recorrentes em países árabes.

Na Grécia Antiga, era comum relações entre professores, homens mais velhos com adolescentes, sendo, até então, vistos os atos como rituais pedagógicos, em que o afeto criado por ambos seria um fator importante para os estudos, junto a um amadurecimento íntegro, já que a relação com mulheres era vista apenas para a reprodução, e entre homens era para a “evolução de conhecimentos”. Sócrates, filósofo ateniense, era adepto a tal prática.

Acreditamos que as mudanças econômicas, com a nova posição das mulheres na sociedade e no trabalho, trouxeram o questionamento do papel de ambos, homens e mulheres, em suas relações. Assim, abriu-se espaço para a construção de “novos” modelos de relação/vinculação, ou uma “repaginada” de modelos antigos não muito bem-vistos em eras passadas.

Pouco aceito por alguns e criticado por muitos, este modelo de relação ainda sofre o preconceito de tudo o que é ressignificado. Na prática, a troca de papéis sociais é benéfica, desde que ambos tenham consciência do que estão fazendo e sejam coniventes. Este estilo de relacionamento é um desafio para o feminismo, ou o que quer que possamos definir como – visto que ainda não existe um conceito único firmado sobre o que é feminismo, no nosso pouco conhecimento da causa, mesmo estando na terceira geração do desenvolvimento deste movimento.

Também há o pensamento de que os homens que se colocam em uma repetição de um funcionamento mais semelhante ao que têm com suas mães traz a ideia da dificuldade de amadurecimento e desenvolvimento mental/afetivo ou, realmente, é uma nova proposta de cuidado mediante, justamente, amadurecimento e capacidade de cuidar, há muito tempo delegada somente às mulheres.

Afinal, será que amar é tudo? Questiona a letra da música cantada por Jota Quest. Em um mundo baumaniano líquido, as relações também se transformam. Não cabe aos estudiosos do comportamento humano julgarem. Inclusive, evitamos o termo superficial que vem tão em ressonância com o amor líquido. Ainda estamos no início de novos modelos de vínculo e isso não necessariamente é algo ruim. O fato de ser novo é assustador, principalmente em um campo tão sensível e frágil como o das emoções e dos sentimentos. Mas preferimos acreditar na teoria psicanalítica de que, enquanto houver mudança, há um caminho para a “cura” (no sentido da transformação e do desenvolvimento). Resta-nos assistir como e aonde tais relações poderão levar as pessoas: a um sentimento de bem-estar ou ao desconforto de uma não adaptação, quer seja por um modelo de relação já arraigada ou à dificuldade de adaptação ao novo.

(*) Profa. Esp. Petruska Passos Menezes é psicóloga e psicanalista, integrante do Círculo Psicanalítico de Sergipe, tem MBA em Gestão e Políticas Públicas pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), Gestão Estratégica de Pessoas (pela Fanese), Neuropsicologia (pela Unit) e em curso Gestão Empresarial pela FGV.

(**) Nelson Mendonça é psicólogo.

*** Esse texto é de responsabilidade exclusiva dos autores.  Não reflete, necessariamente, a opinião do Só Sergipe.

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