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Luiz Thadeu Nunes e Silva (*)

 

Manhã de sexta-feira, a primeira após as festas momescas. Acordo sorumbático; noite insone. Coisas da velhice. Não gosto de perder sono. Foi uma noite de contar carneirinhos, ovelhas, vacas, bezerros, e outros quadrúpedes, na vã esperança de dormir.

No café da manhã leio os jornais do dia. Caderno de Turismo do Jornal Pequeno, a crônica Mulher é para quem pode, não para quem quer”, que escrevi em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, celebrado em todo o mundo neste sábado, 08 de março.

Alegria maior foi ouvir no programa “Manhã News”, comandado pelas belas e competentes Luciana Ferreira e Jessica Almeida, lerem partes da crônica.

Tomo o café calmamente, refastelado na cadeira, na esperança da energia voltar para começar o dia. Há dias que tenho mais dificuldade em “pegar de arranque”, como dizia meu saudoso pai, Luiz Magno.

Durante carnaval, conclui a leitura de “Antes que o café esfrie”, que refere-se ao impossível, mas aquele impossível que todos gostaríamos que fosse verdade: voltar no tempo! Este livro conta a história de uma antiga e pequena cafeteria chamada Funiculi Funicula, onde o ambiente é embalado por uma canção napolitana, que fica escondida em um porão, em uma ruazinha estreita e silenciosa de Tóquio. Em um subsolo, existe um estabelecimento que, há mais de 100 anos, serve um café cuidadosamente preparado. Graças a uma lenda urbana, o local recebe diversos frequentadores que esperam ansiosamente para viver uma experiência única: fazer uma viagem no tempo. Aqueles que retornam ao passado devem estar cientes dos riscos e também das regras, já que a jornada exige que o cliente se sente numa cadeira específica e reencontre somente pessoas que já tenham visitado o estabelecimento. Escrito pelo japonês Toshikazu Kawaguch, é best-seller mundial, em quatro volumes.

Ao finalizar o primeiro tomo, confesso: precisei parar algumas vezes para respirar fundo. Algumas histórias me emocionaram, outras me fizeram refletir sobre o que deixamos por dizer, sobre as despedidas que nem sempre acontecem do jeito que gostaríamos. No livro é possível viajar no tempo,mas com regras rígidas: só é permitido encontrar alguém que já esteve na cafeteria, nada do presente pode ser alterado, e, acima de tudo, é preciso retornar antes que o café esfrie.

O livro nos apresenta quatro histórias, quatro encontros carregados de sentimentos não ditos. Um casal separado pelas circunstâncias, uma esposa que perdeu o marido para o Alzheimer, uma relação difícil entre mãe e filha e duas irmãs distantes. Cada encontro nesse café é uma chance de fechar uma ferida ou, pelo menos, enxergá-la de um jeito diferente. A viagem no tempo não muda os fatos, mas transforma quem se permite atravessá-la. E, no fundo, talvez seja assim na vida também: algumas coisas não podem ser desfeitas, mas podemos olhar para elas com novos olhos; perdoar, entender e seguir adiante. Sempre em frente.

Ler esse livro é um lembrete sutil e poderoso sobre o tempo e as palavras que deixamos para depois. Se pudéssemos voltar, sabendo o que sabemos agora, o que faríamos diferente? Mas a verdade é que só temos o presente — e talvez essa seja a maior lição. Porque, “como o futuro ainda não aconteceu, creio que depende de você”.

Um café que esfria, uma conversa que precisa acontecer antes que seja tarde.

Luiz Thadeu com o general Moura Barreto, em Brasília

Como tenho o privilégio de ter encontrado anjos espalhados por minhas caminhadas pelo mundo, liguei para um querido amigo, joia rara, morador de Brasília, que muda de idade neste sábado, 08/03. Luiz Henrique Moura Barreto, general de alta patente, é exemplar único de edição esgotada. Aos 81 anos, o amigo Moura Barreto segue com o que existe de melhor — fome e sede de aprendizagem. Um menino que ainda se encanta com a vida, e que aprendeu o segredo dela: ajudar o próximo.

Em seguida, um novo telefonema, desta vez do outro lado do Atlântico. Francisco Brandão, “embaixador” do Maranhão no Porto, Portugal, liga-me diariamente para passarmos em revista os acontecimentos de um mundo cada vez mais distópico. Aos 76 anos, Francisco está preocupado com o futuro. “Como estará a Europa pós Donald Trump? Quem vai conter as sandices de Wladimir Putin?”

Café tomado, telefonemas dados, pilha recarregada, reorganizo as ideias, para mais um dia. Cada dia com sua agonia. Avante! Sempre em frente.

“Sentimento que não espairo; pois eu mesmo nem acerto com o mote disso ― o que queria e o que não queria, estória sem final. O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. O que Deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais, no meio da alegria, e inda mais alegre ainda no meio da tristeza! Só assim de repente, na horinha em que se quer, de propósito ― por coragem. Será? Era o que eu às vezes achava. Ao clarear do dia.”

João Guimarães Rosa.

 

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