O primeiro filme que vi dele foi “Conan, o bárbaro” (1982). Mas, foi com o primeiro volume de “O Exterminador” (1984), que passei a incluí-lo entre meus atores de ação favoritos, ao lado de Sylvester Stallone. Àquela altura da minha vida, estava saindo da infância e entrando na adolescência, portanto, a testosterona dava sinais mais evidentes em meu corpo e a agressividade e violência dos filmes por eles produzidos davam a tônica daqueles formidáveis anos 80 do século XX. Só quem a viveu intensamente, como eu, saberá entender que para além de montanhas de músculos e do jeito brutamontes de ser, atores como Arnold Schwarzenegger têm mais do que força bruta. Eles demonstraram, ao longo de seus mais de setenta e cinco anos, que são inteligentes, sensíveis e talentosos.
Particularmente, eu já tinha isso muito claro em minha cabeça, já naquela idade. Nunca, em mim, teve espaço para preconceitos desse tipo ou de qualquer que seja. As pessoas são o que pensam e fazem e não, necessariamente, o que parecem fisicamente. E isso ficou ainda mais evidente depois que assisti (recomendo) à minissérie “ARNOLD” (Netflix, 2023). Um registro histórico, preciso e sem filtros de um dos maiores astros do mundo do fisiculturismo, do cinema e da política norte-americana. Aliás, é exatamente assim que o documentário está dividido: 1. Atleta – no qual o ator relembra a sua vida na Áustria do pós-guerra, terra natal, o momento que levou à ascensão meteórica no fisiculturismo e desejo de ir morar nos Estados Unidos da América; 2. Ator – quando procura dar uma guinada em sua vida, já morando em definitivo nos EUA, estrelando em Hollywood; 3. Americano – às voltas com pressão da mídia, escândalos e problemas conjugais, ele é eleito governador da Califórnia por duas vezes seguidas, num mandato revolucionário de oito anos.
Nascido na Áustria, na cidade de Graz, no dia 30 de julho de 1947, Arnold Alois Schwarzenegger era filho de ex-soldado do nazismo. Ao lado de seu irmão, Meinhard, que morreu na fase adulta em acidente automobilístico em 1971 (sob o efeito de álcool), teve uma infância muito difícil e uma educação severa, fatores que o levaram a não se sentir em casa e muito menos à vontade em seu país, sonhado em ir para os EUA, depois de ver um filme no cinema sobre a Nova York daquele pós-segunda guerra mundial.
Durante o serviço militar obrigatório, que deveria durar três anos, se apaixonou por uma lenda do cinema e do fisiculturismo, o britânico Reg Park (1928-2007), famoso por interpretar o papel de Hércules, entre os anos 1961-1965, de quem se tornou, mais tarde seu amigo pessoal e uma das principais referências nas duas áreas. Aquilo o motivou a desertar as forças armadas e ir participar do torneio Mr. Europa Júnior, em 1965, quando conquistou seu primeiro título como fisiculturista de treze primeiros lugares no total da carreira, incluindo mais de três Mister Universo.
Por conta do enorme sucesso no fisiculturismo, conseguiu realizar o grande sonhar e ir trabalhar e se tornar, mais tarde, cidadão norte-americano. Dali para os sucessos das telas de cinema, muita labuta e muita pressão e preconceito a serem enfrentados, superando a todos com determinação. Arnold Schwarzenegger adotou como lema de vida: “aconteça o que acontecer, sempre seguir em frente”. Competitivo por natureza e circunstâncias de criação, levou muito a sério os seus desafios e procurou encarar a todos, sem medo e sem autocomplacência.
Para além dos filmes já citados, Arnold foi sucesso de bilheteria não somente em ação, mas também em dramas e comédias, tais como “Irmãos Gêmeos (1988)” (contracenando com Danny DeVito) e “Um tira num jardim de infância (1990)”, e até mesmo como o vilão Homem de Gelo, do clássico “Batman e Robim” (1997). O último filme que vi dele mostra que segue em forma e dá inveja aos mais novos bombados. Refiro-me a “O Último Desafio (2013)”, sem falar da formidável série “FUBAR” (2023), onde Arnold Schwarzenegger consegue dar conta de vários tipos de interpretação: da ação à toda prova ao dramático mais cabeça pensante.
Não bastasse ter sucesso no fisiculturismo e nas artes cinematográficas, enriqueceu e adquiriu fama e respeito como governador da Califórnia entre os dias 17 de novembro de 2003 e 3 de janeiro de 2011. Dois mandatos e uma revolução no jeito de fazer política nos EUA, dando ênfase à assistência aos mais necessitados e à meio ambiente e dando oportunidade às minorias étnicas e de gênero. Por conta disso, pôs em risco um relação estável de 25 anos com Maria Owings Shriver (sobrinha do presidente John Kennedy), com quem teve quatro filhos. Afora um filho de uma relação extraconjugal. Tudo isso exposto e tratado na minissérie de forma honesta, clara e humana. Aliás, características que definem muito bem Arnold Schwarzenegger.
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(*) Professor doutor do Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe.