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Arte em meio ao caos

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Por Luiz Thadeu Nunes e Silva (*)

 

Li, ontem, uma matéria de um jornalista estrangeiro que recentemente visitou a Ucrânia, quase três anos após o início da invasão russa. Estive em Kiev, a capital ucraniana, em 2019, antes da pandemia do coronavírus.

Segundo a matéria, o repórter conta como a cultura local segue vibrante, sobretudo na capital Kiev. Entre bombas, destruição de patrimônios históricos, proibição do ensino da língua ucraniana em algumas regiões e execuções deliberadas de artistas, o país resiste às tentativas de eliminar sua identidade.

Luiz Thadeu no centro de Kiev, na praça Maidan ou Praça da Independência

Kiev é uma linda cidade, chamou minha atenção, pelo burburinho de seu povo alegre e acolhedor, além da riqueza cultural. O hotel onde me hospedei ficava no centro da cidade, próximo aos monumentos históricos e culturais.

Nos cinco dias que por lá estive, passeei pelas margens do rio Dniéper, o mais importante do país, que corta toda a cidade. Com ruas, avenidas e praças arborizadas e bem cuidadas, Kiev é um lugar fascinante e surpreendente. Desde que vi o bombeiro, no dia 24 de fevereiro de 2022, início da invasão russa, acompanho as notícias do front, e fico perplexo com a destruição da cidade e do país.

Segundo a reportagem, mesmo com toda a atrocidade da guerra, as pessoas seguem vivendo. No setor Sauart 17d, bem próximo onde me hospedei, os moradores se reúnem em mesas espalhadas pelas calçadas. Não muito longe dali são vistos soldados entrincheirados, salvaguardando a população local.

Como estão em permanente bombardeios, alertas chegam por meio de alto-falantes e de notificações que apitam no celular. A recomendação é correr para os abrigos quando soarem os alarmes. Porém, depois de tantos meses de guerra, na maior parte das vezes o alerta é ignorado em Kiev. Acho que já se acostumaram com o caos. Assim se vive na capital ucraniana, quase três anos após o início da guerra. A bela cidade, com suas igrejas de domos dourados e parte de sua arquitetura com enormes edifícios residenciais da era soviética, resiste. E seus habitantes tratam de levar uma vida normal, ainda que os escombros de prédios atingidos por bombas e as sirenes sejam uma presença constante.

Há bombardeios, porém mais esparsos, e muitos edifícios sendo reparados, assim como novas lojas de roupa e novas livrarias com cafés — estas últimas bastante frequentadas por jovens, com intensa programação de debates e lançamentos. “Se olharmos desavisadamente, diríamos que estamos numa bela capital europeia como tantas outras”, escreveu o repórter.

“Viver e divertir-se é uma forma de dizer que vamos resistir até a vitória e que temos uma identidade totalmente distinta da do invasor”, disse um jovem na matéria, que se preparava para assistir ao show daquela noite.

A juventude ucraniana vive uma fase difícil, mas ao mesmo tempo parece estar apegada à ideia de demonstrar resiliência e de desenhar sua própria identidade, enquanto — por que não? — se diverte. “A vida pode ser só hoje”, completa Alina. Quem pode negar sua frase, com “os drones russos sobrevoando nossas cabeças”?

Logo, a banda DvaTry (que significa DoisTrês) começa a tocar uma mescla de pop com música folclórica ucraniana. As mulheres usam vestidos longos e tradicionais, exibindo colorida maquiagem; os homens usam chapéus e bigodes longos.

Esta época do ano é aproveitada para eventos ao ar livre, pois o inverno ainda não chegou com tudo. Todavia, as coisas têm hora para acabar. O toque de recolher, à meia-noite, faz com que o espaço e a cidade se esvaziem.

Muito diferente das regiões em que ocorre conflito armado constante, mais ao leste do país, Kiev apresenta o contraste de ser uma metrópole viva em meio a tanta destruição causada até aqui.

De uma população de 40 milhões de pessoas, a Ucrânia tem um milhão de mortos e feridos após o conflito, e 14 milhões de pessoas abandonaram suas casas e fugiram para países vizinhos, segundo a ONU. Os que ficaram, especialmente os jovens, tentam levar suas vidas, em meio ao caos e um futuro incerto. Agora é esperar pela promessa de campanha de Donald Trump, de acabar com o conflito logo que tomar posse em 20 de janeiro. Oxalá! A Ucrânia merece paz.

 

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