Num contexto de eleições que podem ser definidas em dois turnos, ganha relevo a figura do terceiro colocado na etapa inicial do escrutínio.
Isso tanto a curto prazo, por conta do seu possível apoio, quanto a longo prazo, dada as suas possibilidades para disputas posteriores.
No Brasil, desde 1989, essa figura tem arrebanhado, no primeiro turno, uma média de 10,4% do eleitorado total, com um desvio-padrão de 4,3%, o que significa um coeficiente de variância de 41,7%.
Esse resultado aponta para uma inconstância muito grande, muito maior do que aquelas detidas pelo segundo e primeiro colocados no período inicial.
Isso sugere que o poder de atração do terceiro colocado, nas eleições presidenciais brasileiras, varia de votação para votação, o que é uma situação diversa daquela sentida pelos que vão para o segundo turno.
Nessas três décadas, dentre os que ficaram no terceiro lugar, os dois melhores desempenhos foram alcançados por Marina Silva, em 2010 e 2015 (14,5% e 15,6%, respectivamente).
Por outro lado, os dois piores foram os de Enéas Carneiro, em 1994, com uma votação que abarcou 4,9% do eleitorado total, e Heloísa Helena, em 2006, que alcançou a marca de 5,2% desse mesmo total.
Leonel Brizola, em 1989, Anthony Garotinho, em 2002, e Ciro Gomes, em 1998 e 2014, receberam o apoio de, em média, 10,7% dos eleitores brasileiros aptos a votar.
Registre-se ainda que o coeficiente de correlação linear entre o primeiro e o terceiro colocados é -0,60 pontos, ao passo em que tal medida de associação entre esse e segundo melhor posicionado é de -0,23.
Em suma, isso pode significar que os candidatos que ficaram em terceiro lugar mais tiraram votos dos primeiro do que do segundo colocado, o que transforma o líder da disputa no seu principal adversário.
Alternativamente, pode também estar a se dizer que, quanto mais ele se mostra como uma alternativa ao líder, melhor tende a ser a sua performance no 1° turno.
Não por acaso que, em somente uma vez, o terceiro colocado apoiou o vencedor do primeiro turno quando a eleição foi para a fase suplementar. Isso ocorreu em 2002, quando Anthony Garotinho declarou voto em Lula da Silva.
Em 1989, Leonel Brizola ficou ao lado do mesmo Lula da Silva; em 2006, Heloísa Helena declarou-se neutra. Atitude similar à de Marina Silva, em 2010, que, já em 2014, decidiu-se por Aécio Neves. Por fim, em 2018, Ciro Gomes anunciou voto em Fernando Haddad.
Daí surge um questionamento: o terceiro lugar não tem efetivo poder de influenciar o resultado do turno adicional? Essa é uma hipótese a se testar.
No entanto, já é possível afirmar que sempre que esse disputante chegou ao patamar de 9% do eleitorado, a eleição precisou de um 2° turno, evitando a sua liquidação logo na etapa inaugural.
Ressalte-se, também, que a terceira colocação é um passaporte para pleitos posteriores. Dentro desse seleto grupo, apenas Anthony Garotinho e Heloísa Helena não voltaram a disputar outra eleição presidencial.
Outra característica das candidaturas que assumem a terceira posição no primeiro turno, é que elas possuem um forte viés regional, geralmente, vencendo o pleito em seus domicílios eleitorais.
Leonel Brizola, em 1989, foi maciçamente vitorioso no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul. Ciro Gomes venceu no Ceará nas três vezes que disputou, Anthony Garotinho, em 2002, venceu no Rio de Janeiro e Marina Silva bateu seus adversários no Acre, em 2014.
Com base nisso tudo, não é incorreto afirmar que o terceiro colocado é uma peça de relevo no mosaico eleitoral brasileiro. Nele incrustam-se a possibilidade de ocorrência de um turno adicional, expressões políticas regionais e o virtual perfil de eleições vindouras.
(*) Emerson Sousa é Mestre em Economia e Doutor em Administração
** Esse texto é de responsabilidade exclusiva do autor. Não reflete, necessariamente, a opinião do Só Sergipe
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