Na letra de “Falar a Verdade”, do grupo Cidade Negra, o então vocalista Ras Bernardo entoava:
“Você que luta para se manter/Você que pede pra sobreviver…
Você que olha com toda curiosidade/A fim de saber a verdadeira verdade…”
Bem, a verdade inexorável é: você está presa ou preso a alguma estrutura de mercado!
Mas o que vem a ser uma estrutura de mercado?
De modo rasteiro, são as formas pelas quais os modos de interação entre demandantes e ofertantes se apresentam.
A principal característica de uma estrutura de mercado é a quantidade de participantes, que pode ir de um número reduzido a uma explosão de integrantes.
Dessa forma, a despeito de todas as suas diferenças, a Rua 25 de Março e o Shopping Cidade Jardim, além de ambos serem localizados na cidade de São Paulo, eles também são expressões de estruturas de mercado.
O segundo, com poucos partícipes e o primeiro, com uma pletora de integrantes.
Porém, qual o efeito prático de uma estrutura de mercado sobre a sua vida?
No limite, a estrutura de mercado vai decidir o quanto você vai pagar e o quanto vai adquirir.
Estruturas de mercado com mais competição tendem a favorecer o demandante e, as menos competitivas, aos ofertantes.
Entretanto, estruturas de mercado também são definidas pelos níveis de diferenciação e substituição dos itens ofertados, pelo grau de assimetria entre os agentes e pela facilidade de entrada/saída do mercado.
Diferenciação e substituibilidade afetam as estruturas de mercado porque quanto mais fácil substituir um bem ou serviço, menor o poder de mercado das firmas e maior o dos consumidores.
Dois exemplos: é fácil trocar um refrigerante a base de cola por outro de guaraná. Todavia, para um portador da Doença de Gaucher fica difícil negociar com os laboratórios os preços dos remédios dos quais ele necessita.
Já a assimetria estabelece o quanto um dos negociadores sabe mais sobre o item negociado. O modelo clássico que exemplifica essa desigualdade é a venda/compra de carros usados.
Quem souber mais sobre o que está sendo transacionado tende a ter mais poder de mercado do que aquele que sabe menos.
Por fim, a facilidade de entrada/saída se resume aos custos de se participar de um mercado, tanto como demandante quanto como ofertante.
Basicamente, um mercado no qual é fácil entrar como demandante e difícil como ofertante pende a conferir maior poder de mercado às firmas, tal como ocorre com o sistema financeiro.
De modo análogo, um setor no qual a concorrência é alta, por conta da facilidade de se fornecer, o esperado é que os demandantes tenham mais poder de mercado do que os ofertantes, como é o caso dos motoristas da Uber e os entregadores do I-Food.
A Teoria Microeconômica identifica quatro estruturas de mercado básicas: a concorrência perfeita, o monopólio, o oligopólio e a concorrência monopolística.
A concorrência perfeita é atomizada e possui muitos demandantes e ofertantes, ambos sem poder de mercado. Já o monopólio possui apenas um ofertante e muitos demandantes.
Por outro lado, o oligopólio é formado por poucos ofertantes e muitos demandantes e a concorrência monopolística possui muitos clientes e muitas firmas com algum poder de mercado.
As duas primeiras não existem, de fato, no mundo real, ao passo que as duas últimas são as principais manifestações do capitalismo moderno.
De modo fundamental, de uma forma ou de outra, estrutura de mercado tem a ver com a qualidade de vida das pessoas.
Esta semana a Economia Herética vai trazer um pouco sobre essas estruturas de mercado e falar como elas estão presentes na vida cotidiana e como elas afetam o bem-estar e a felicidade geral.
Leia amanhã, A concorrência perfeita: “Isso non ecziste!”
(*) Emerson Sousa é Mestre em Economia e Doutor em Administração
** Esse texto é de responsabilidade exclusiva do autor. Não reflete, necessariamente, a opinião do Só Sergipe