Por Tácio Brito (*)
Nas minhas últimas semanas, minha vida tem orbitado um universo de trabalho e correria. São muitas as cobranças, as responsabilidades que tenho carregado em meus ombros. Em outras épocas, certamente eu estaria uma pilha de nervos e estaria acusando as estrelas, céus e mares por criarem algum estratagema para me fazer sofrer, me condicionar a uma existência sem sentido. Mas no meu hoje, diante da perspectiva que tenho adotado e da sorte que tive ao ter alcançado meandros novos para velejar na vida, tenho encontrado prazer no que faço, alegria e, também, pessoas com quem gosto de estar.
A perspectiva que adotei nos últimos tempos — a de buscar sabedoria ao invés de títulos e posições, de buscar prazer no momento em que vivo o tiquetaquear do relógio, ao invés de viver em função dos ganhos ou das promessas de doces auroras — revelou-se numa completa mudança de compreensão do valor da vida e da existência, de suas dores, seus horrores, amores e sorrisos.
Vivemos nossas vidas buscando o direito de ser feliz, o direito de poder viver. Quantas vezes nos deparamos com esta frase “agora vou viver minha vida” ditas por pessoas com idades bem avançadas? Essas pessoas movidas pela noção que reina em nossa sociedade de que a felicidade é um archievement* social só alcançável por um grupo seleto de pessoas quase intocáveis, protegidas por suas muralhas de carros, casas, roupas caras e apetrechos, ou ainda por aqueles que dão à educação o seu protagonismo, mas a desvirtuam pela mesma visão de mundo, valorizando os doutorados, currículos desmanchados em calhamaços de folhas, acima do bem, do mal e do próprio valor do conhecimento e da educação. Essas duas aristocracias (monetária e doutoral) apresentam-se diante de nós como quase deuses e, portanto, merecedores de viver e ser felizes, sendo exemplos a serem emulados sem questionamentos, afinal, “por que eu não deveria seguir os passos do bilionário/PhD para ser feliz como eles?”
Todavia, meu caro leitor, com igual regularidade que os vemos, descobrimos pelos noticiários ou em suas salas de aula o que se esconde debaixo de suas máscaras divinas: a dor, o cansaço, a amargura, a ansiedade, a agonia e a depressão. Diante desses fatos, nós, bitolados pela meritocracia dos ímpios, dizemos que é fraqueza, dizemos que é frescura de riquinho/doutorzinho e simplesmente, após um julgamento inquisitório para defender a perspectiva perversa, continuamos a seguir os tantos outros deuses que surgem nas páginas dos livros.
Ignoramos completamente o fato de que eles são tão vítimas quanto nós. De que eles, apesar de terem chegado no patamar tão sonhado, descobriram que gastaram anos de vida, abriram mão de sua capacidade de sentir o sabor da vida em prol de um status quo que, quando sentido por algum tempo, não lhes dera nada além da dura e fria realidade de que, tendo aberto mão de viver, apenas esgotaram anos de suas vidas ao abismo sem sentido.
Não viveram porque queriam merecer viver e, quando mereceram, descobriram que nunca viveram de fato.
Eu já fui uma dessas pessoas, por muito tempo eu sacrifiquei saúde, tempo e felicidade preso atrás de uma mesa, incógnito e maltratado. Naqueles tempos, eu acreditava que eu não me dedicava o suficiente, que eu não era bom o bastante, que era tudo culpa minha e que minha desgraça era merecida, mesmo dormindo apenas 3h por dia ligado a 15 xícaras de café diárias, trabalhando, estudando e fazendo bicos. Tudo isso para comprar a felicidade. No trabalho eu buscava a aceitação, o reconhecimento, a valorização, promessas que não eram cumpridas. E eu me punia internamente por isso. Na faculdade, acumulava informações, lia freneticamente quase como um gado obediente, sem questionar os deuses doutores diante de mim, sem observar o macro assim como eu olhava o microcosmo. Não muito tarde parei em um hospital com crise de estresse. Não recomendo.
Hoje, depois de muitas páginas passadas nos capítulos desde aquele tempo, olho pra aquele jovem e percebo a tamanha infelicidade e horror que eu me condicionava a viver ainda tão jovem, a perversidade do que eu me causava por conta da visão de mundo que me vendiam. Vejo a imensa transformação de propósito que me permiti ter, a expansão de observação sobre a existência, a descoberta da felicidade, de fato.
Minha avó me disse certa vez que quando jovem era extremamente feliz, mesmo passando muitas necessidades. Ela passou por muita coisa, várias perdas, algumas que poderiam ter sido evitadas se fosse hoje, pelos confortos da modernidade, mas mesmo assim, ela me disse que era feliz no sítio sem luz, nem água encanada, sem tv, sem internet, onde a vida era a luta para sobreviver cada dia. Pobre, analfabeta, sem os grossos livros da intelectualidade doutoral, ela alcançara a busca primordial da humanidade. Ela era feliz. Feliz.
Tal qual Stephen Strange, fui empurrado para o espaço repleto de galáxias que eu nunca tinha enxergado, isso me despertou a noção de que felicidade é, essencialmente, uma perspectiva. Um resultado analítico do produto de todas as pequenas alegrias que temos na vida. Se alegria é a causa, a felicidade é a compreensão da causa. Você pode me dizer que felicidade é igualmente a uma ilusão e que ela era feliz justamente por não saber e que quanto mais se acumula conhecimento, mais a tristeza avassala. E de fato concordo, se seu propósito for apenas acumular informações e se afogar cada vez mais nisso, certamente sim. O conhecimento é poder, mas a sabedoria é a autoridade sobre ele. Se você considera que aprender e se esclarecer é ser cada vez mais infeliz, então que busca paradoxal é essa a sua? Quero ter felicidade, mas o caminho que trilho me levará a mais tristeza. Qual o sentido disso, então?
O Et Bilu está categoricamente correto ao dizer “Busque sabedoria”.
A sabedoria é refletir sobre cada coisa, “buscar a essência da anima humana”, como dizia Aristóteles. Conhecer o valor, na sua e na perspectiva contrária, é escolher o que lhe vale na vida. E então, a partir da sabedoria você pode optar por ser feliz diante da observação do todo. O intelecto avantajado, o dinheiro, a fama e a riqueza nunca terão valor por si, e fundamentando-se neles você só se encontrará mais e mais fundo no abismo da dor.
Na minha busca, eu tenho percebido o que é justo e devido. Eu estou vivo, minha existência é prova cabal do triunfo da vida num universo feito de caos. Meu corpo tem a capacidade de criar e destruir, de sentir emoções e por sua natureza, sentir alegria. Neste corpo minha mente se coloca em mil perspectivas, olha por ângulos diversos, fundamenta e reformula as minhas crenças. As substâncias que me formam, em seus picos frenéticos, me permitem ser impactado pela arte, expressar-me através dela e viver mil vidas além da minha. Minha busca tem permitido me livrar das amarras, me permitido viver por escolha consciente e tenho sentido uma profunda mudança a partir disso.
“Não desampares a sabedoria, e ela te guardará; ama-a, e ela te protegerá.” – Salomão
Esta semana, deitado, pronto para dormir, eu refleti sobre meu caminho até aqui. Passei por todas as dificuldades, as dores mais profundas, os medos mais aterrorizantes, os amores, as paixões, as gargalhadas, os amigos que tive e tenho, as coisas das quais não me orgulho e minhas conquistas mais cintilantes. Nesta noite as lágrimas caíram, transbordando sentimentos poderosos, alegria de estar vivo, contemplando a beleza de existir, as inúmeras possibilidades, a transformação do caos em ordem e da ordem em caos. Eu espero, do fundo do meu coração que um dia você tenha uma noite dessa. Momento em que eu contemplei o poder da busca por sapiência acima das coisas materiais e, pela primeira vez, na minha vida ainda tão jovem, senti escorrerem as Lágrimas de Eufrosina.
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