Emerson Sousa (*)
No atual contexto geopolítico, ainda que não sejam as únicas, três dimensões assumem considerável relevância para se projetar o nível de importância de um país: o tamanho do seu produto interno bruto, a sua extensão territorial e a sua população residente.
De acordo com dados disponibilizados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), somente cinco países conseguem estar simultaneamente entre os dez primeiros colocados em todas essas categorias: Brasil, China, EUA, Índia e Rússia.
Em termos econômicos, pode-se afirmar que esse agrupamento é dotado de um considerável estoque de fatores de produção, ao menos, no que se refere à combinação dessas três medidas.
GIGANTES PELAS PRÓPRIAS NATUREZAS Em conjunto, no ano de 2017, essas nações respondiam por 35,6% da área total dos países do planeta, por 45,8% da população mundial e por 46,6% do produto global, sendo esse último medido pelo método da Paridade do Poder de Compra (PPC). E esses cinco países são uma parte do mundo que cresce mais do que o próprio mundo. Em relação a 2016, o seu produto conjunto variou 6,6%, enquanto o remanescente da economia mundial cresceu 4,9% no ano. Consequentemente, o seu produto per capita variou mais do que o do conjunto dos países. O referido quinteto viu esse indicador aumentar em 5,7% entre 2016 e 2017, ao passo em que as demais economias viram tal razão crescer apenas 3,3%. Por sinal, o produto per capita desse grupo no de 2017, também mensurado pela PPC, é de US$ 17.6 mil. Algo ligeiramente acima do resto do mundo que, pela mesma régua, equivalia a US$ 17.0 mil. Todavia, internamente ao quinteto, há uma disparidade considerável entre seus níveis de produto per capita. Nos EUA, esse chega a US$ 57,876; na Rússia, a US$ 27,006; na China, a US$ 15,416; no Brasil, a US$ 15,406 e na Índia, em US$ 6,760. As taxas de crescimento desse último indicador também se modificaram de forma diferente entre eles. Brasil, Índia e Rússia observaram um crescimento de 2,8% a.a., em média, enquanto China e EUA perceberam uma alta anual média de 8,5%. No entanto, observando-se em retrospectiva, esse quadro muda totalmente a sua feição. Entre 2001 e 2015, o produto per capita chinês cresceu a uma taxa média de 9,7% ao ano, ao passo em que o indiano variou, em média, outros 5,4% anuais. A Rússia assume uma posição mediana ao ter o seu produto per capita crescendo 3,9% anuais. O Brasil – com um crescimento anual médio de 1,7% – e os EUA – com uma taxa de variação de 0,9% anuais – são os piores desempenho do grupo.
DIFERENÇAS E SIMILARIDADES
Mesmo assim, a partir da análise de algumas variáveis macroeconômicas, todas elas referenciadas a 2017, é possível identificar um padrão de classificação para essa quíntupla de nações. À primeira vista, percebe-se que China e Brasil se colocam como seus pontos extremos enquanto as outras três ocupam posições intermediárias.
Quando se examina o volume de investimentos como percentual do produto, descobre-se que a China (44,6% do PIB) assume o primeiro lugar. A Índia (30,9%), a Rússia (23,9%) e os EUA (20,6%) aparecem logo em seguida colocando o Brasil – com 15,1% do produto em investimento – na última posição.
O quadro se repete no que se refere ao nível de poupança como proporção do produto. A China (46% do PIB) lidera o grupo. A Índia (29,1%), a Rússia (25,9%) e os EUA (18,9%) aparecem logo atrás ficando à frente do Brasil (14,7%).
Eles são mais homogêneos quando vistos sob a óptica da variação do nível de preços e da carga tributária. A inflação anual chinesa é a menor de todas (1,6%), sendo secundada pela dos EUA (2,1%), enquanto que os outros três países possuem taxas na casa dos 3,5% ao ano.
Por sua vez, a receita governamental total é maior na Rússia, que ocupa o primeiro lugar (33,2% do PIB), ficando os EUA com a segunda posição (30,9%), o Brasil com a terceira (30,8%), a China na quarta (28,3%) e a Índia na quinta (19,8%).
A triste nota é que, dentre esses cinco, o Brasil possui de longe a maior taxa de desemprego: 12,77% da força de trabalho, em 2017. Enquanto isso, os outros quatro vivem, praticamente, num estado de Pleno Emprego. Na Rússia, a taxa de desocupação é de 5,2%; nos Estados Unidos, 4,35%; na China, 3,9% e na Índia, 2,56% nesse mesmo ano.
OS PERFIS DE COMÉRCIO EXTERIOR Todas as cinco nações estão inseridas no seleto clube de países que participam com mais de 1% das exportações mundiais. Todavia, há uma disparidade considerável entre eles. A China, com 12,77% dos níveis de exportações do planeta, em 2017, é a principal potência comercial do grupo. Em seguida, aparecem os EUA, com 8,72% desse volume. Bem mais distante aparecem Rússia, com 1,99% desse total; Índia, com 1,68% e o Brasil, fechando esse pequeno agrupamento, com 1,23% do patamar mundial de exportações. Entre eles, somente Rússia (2,6% do PIB) e China (1,4%) apresentaram saldos positivos em suas Contas Correntes, EUA (2,4%), Índia (2,0%) e Brasil (0,5%) obtiveram déficits como resultados em suas transações reais com o resto do mundo. Porém, chamam a atenção os perfis de comércio exterior desses países. A China, com 93% de participação dos manufaturados em sua pauta comercial; os EUA, com 74,9% e a Índia, com 70,5%, são os de maior grau de elaboração nesse segmento. Por sua vez, o Brasil, com 37,9% de participação de bens manufaturados e a Federação Russa, com 21,8%, são os mais primarizados dentre os cinco. Mesmo assim, ambos os países possuem diferentes perfis de comércio exterior. A Rússia tem na exportação de combustíveis e bens minerais o seu carro-chefe (62,9% do volume total), ao passo em que os brasileiros concentram sua pauta em bens agrícolas (41,5%). Tais números vão resultar num mosaico bastante heterogêneo, de um modo que o volume de comércio norte-americano chega a 13,4% do seu produto e gera um valor per capita de US$ 7.8 mil. Já chinês representa 12% do seu produto, criando um valor per capita de US$ 1.1 mil. Enquanto isso, na Rússia esses indicadores são, respectivamente, de 24% e US$ 2.3 mil. No Brasil, de US$ 12% e também US$ 1.1 mil e, por fim, na Índia, cujo comércio exterior representa 20,5% do seu PIB ao passo em que ele formata um valor per capita de apenas US$ 368.
A MÃO VISÍVEL DO ESTADO
Por outro lado, de acordo com a Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico (OCDE), por meio do Product Market Regulation (PMR) – um conjunto de indicadores que mensura o grau de barreiras à competição e ao empreendedorismo e o volume da intervenção estatal – esses dínamos da economia mundial não possuem grandes níveis de liberalidade econômica.
Na edição de 2013 dessa pesquisa – que foi a última a trazer dados em conjunto sobre o quinteto – os EUA, que são o único membro da OCDE dentre os cinco países, são superados por vários outros integrantes do referido organismo.
Com um índice de 1,59 pontos, o seu grau de regulação está acima da média desse bloco – que é de 1,48 pontos – e longe dos líderes dessa lista: Reino Unido (1,08 pts.) e Holanda (0,92 pts.).
No que concerne ao desempenho dos outros quatro países, vê-se que a Rússia é o de menor graduação (2,22 pts.), seguido por Brasil (2,54 pts.), China (2,86 pts.) e, por fim, a Índia (3,10 pts.).
Ainda no âmbito do PMR 2013, torna-se mais curioso ainda quando se observa que, na dimensão controle estatal da economia, o Brasil aparece com a menor nota do grupo (2,51 pontos). Logo depois, surgem os EUA (2,70 pts.), seguidos pela Rússia (3,41 pts.), China (3,57 pts.) e Índia (4,02 pts.).
A partir desses dados, fica nítido que uma das marcas dessas economias é o peso da “Mão Visível” do Estado como elemento influenciador da coordenação normativa das relações sociais de produção.
MODELOS PRÓPRIOS DE DESENVOLVIMENTO As vantagens advindas das combinações desses fatores é que esses países têm uma maior liberdade para criarem modelos próprios de desenvolvimento do que as demais nações do planeta. Tudo nesses países é grande em relação aos seus pares. Tudo neles envolve escalas raramente compartilhadas em outros cantos da economia-mundo. A simples mobilização de seus fatores de produção já criam externalidades positivas que potencializariam o seu próprio desenvolvimento. E, ao que tudo indica, China, Federação Russa e Índia perceberam isso. Mesmo com todos os percalços, os seus níveis de desenvolvimento nas últimas décadas são dignos de nota. Tanto que, nesses últimos trinta anos, segundo dados disponibilizados pelo Banco Mundial, esses dois primeiros praticamente erradicaram a pobreza extrema ao passo em que o subcontinente indiano reduziu os seus níveis a menos da metade. E todo esse cenário foi montado em cima de um padrão de desenvolvimento autônomo e integrado, no qual cada uma das administrações políticas voltou-se para a expansão dos níveis sociais de bem-estar. Claro que essas nações estão em níveis de desenvolvimento distintos, suas institucionalidades em graus diversos de consolidação, mas uma coisa é patente: todas elas possuem os insumos básicos para se tornarem lugares melhores para se viver, basta apenas se organizarem politicamente.
(*) Emerson Sousa é Mestre em Economia pelo NUPEC/UFS e doutorando em Administração pelo NPGA/UFBA
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